Vivemos uma época em que a esquerda vive uma das suas maiores crises, em grande parte por culpa própria.
Hoje
o mundo é dominado por líderes medíocres, onde, até, há pouco, apenas se destacavam
três vozes credíveis.
Uma
era António Guterres, socialista, com formação católica, a liderar a ONU, mas
sem poderes face ao boicote das grandes superpotências, como os Estados Unidos,
desde o fim da guerra fria e a Rússia desde Putin.
Outra
voz credível era o Papa Francisco, cujas ideias se situavam mais à esquerda do
que à direita, na defesa do pacifismo, dos mais fracos, dos imigrantes, dos
perseguidos e na critica ao actual modelo capitalista de economia. Essas
posições levaram a que muitos , como li por aqui nas redes sociais, o
apelidassem de “papa comunista”, uma falácia eivada de má fé e ignorância.
Apesar de tudo e da influência que a sua voz podia ter, o seu poder para travar
a actual situação mundial, era… nenhum!.
Uma
terceira voz, também já sem poder, uma referência moral à esquerda, comparável a
Mandela, era José Alberto Mujica Cordano , conhecido popularmente como Pepe
Mujica, falecido ontem.
Ao
longo do seu mandato como presidente do Uruguai, entre 2010 e 2015, o peso da
despesa social na despesa pública total passou de 60,9% para 75,5%. “Durante
este período, a taxa de desemprego caiu de 13% para 7%, a taxa de pobreza
nacional de 40% para 11% e o salário-mínimo foi aumentado em 250%”. Durante
esse período o Uruguai tornou-se o país mais avançado da América em termos de
respeito pelos "direitos fundamentais do trabalho, em particular a
liberdade de associação, o direito à negociação coletiva e o direito à
greve".
Além
disso foi um exemplo de humildade no exercício do cargo e um exemplo de apego à
democracia, e desapego pelo poder, que abandonou sem problemas.
Mujica
era bastante critico da acção de Maduro na Venezuela, que representa o outro
lado da moeda da chamada “esquerda”. A acção de Maduro na Venezuela é, aliás, uma
das causas da má imagem que a “esquerda” tem vindo a semear nas últimas décadas.
Quando
a “esquerda” se enredou em soluções autoritárias, em corrupção, no apoio à
guerra, abraçando também soluções do capitalismo ultraliberal quando no poder,
é bom manter viva a chama de Mujica com raro referente moral do que é ser de esquerda,
isto é, defensor da democracia, dos direitos humanos, dos direitos sociais, do
pacifismo, do combate à pobreza e ao capitalismo selvagem, doe emigrantes e do
ambiente.
Como
afirma António Scurati (Fascismo e Populismo – Mussolini Hoje, ed. Asa, 2025),
a grande diferença entre a esquerda e a direita, principalmente a extremista
hoje dominante nessa área, deve ser que a primeira deve transportar um desejo
de esperança e mudança para melhorar as condições sociais, enquanto a direita
extremista e populista assenta apenas no discurso do medo e do ódio.
Infelizmente
a esquerda só vai conseguir passar a sua mensagem se o fizer através de gente
integra, o que infelizmente não tem acontecido muito neste últimos tempo.
Daí
a falta que nos faz uma figura como Mujica.
Que
cresçam muitos Mujicas para que a esperança num mundo de democracia, direitos
sociais e humanos, pacifismo, igualdade e de defesa do ambiente floresça.
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