quarta-feira, 14 de maio de 2025

Morreu Mujica, uma das últimas referências credíveis da esquerda


Vivemos uma época em que a esquerda vive uma das suas maiores crises, em grande parte por culpa própria.

Hoje o mundo é dominado por líderes medíocres, onde, até, há pouco, apenas se destacavam três vozes credíveis.

Uma era António Guterres, socialista, com formação católica, a liderar a ONU, mas sem poderes face ao boicote das grandes superpotências, como os Estados Unidos, desde o fim da guerra fria e a Rússia desde Putin.

Outra voz credível era o Papa Francisco, cujas ideias se situavam mais à esquerda do que à direita, na defesa do pacifismo, dos mais fracos, dos imigrantes, dos perseguidos e na critica ao actual modelo capitalista de economia. Essas posições levaram a que muitos , como li por aqui nas redes sociais, o apelidassem de “papa comunista”, uma falácia eivada de má fé e ignorância. Apesar de tudo e da influência que a sua voz podia ter, o seu poder para travar a actual situação mundial, era… nenhum!.

Uma terceira voz, também já sem poder, uma referência moral à esquerda, comparável a Mandela, era José Alberto Mujica Cordano , conhecido popularmente como Pepe Mujica, falecido ontem.

Ao longo do seu mandato como presidente do Uruguai, entre 2010 e 2015, o peso da despesa social na despesa pública total passou de 60,9% para 75,5%. “Durante este período, a taxa de desemprego caiu de 13% para 7%, a taxa de pobreza nacional de 40% para 11% e o salário-mínimo foi aumentado em 250%”. Durante esse período o Uruguai tornou-se o país mais avançado da América em termos de respeito pelos "direitos fundamentais do trabalho, em particular a liberdade de associação, o direito à negociação coletiva e o direito à greve".

Além disso foi um exemplo de humildade no exercício do cargo e um exemplo de apego à democracia, e desapego pelo poder, que abandonou sem problemas.

Mujica era bastante critico da acção de Maduro na Venezuela, que representa o outro lado da moeda da chamada “esquerda”. A acção de Maduro na Venezuela é, aliás, uma das causas da má imagem que a “esquerda” tem vindo a semear nas últimas décadas.

Quando a “esquerda” se enredou em soluções autoritárias, em corrupção, no apoio à guerra, abraçando também soluções do capitalismo ultraliberal quando no poder, é bom manter viva a chama de Mujica com raro referente moral do que é ser de esquerda, isto é, defensor da democracia, dos direitos humanos, dos direitos sociais, do pacifismo, do combate à pobreza e ao capitalismo selvagem, doe emigrantes e do ambiente.

Como afirma António Scurati (Fascismo e Populismo – Mussolini Hoje, ed. Asa, 2025), a grande diferença entre a esquerda e a direita, principalmente a extremista hoje dominante nessa área, deve ser que a primeira deve transportar um desejo de esperança e mudança para melhorar as condições sociais, enquanto a direita extremista e populista assenta apenas no discurso do medo e do ódio.

Infelizmente a esquerda só vai conseguir passar a sua mensagem se o fizer através de gente integra, o que infelizmente não tem acontecido muito neste últimos tempo.

Daí a falta que nos faz uma figura como Mujica.

Que cresçam muitos Mujicas para que a esperança num mundo de democracia, direitos sociais e humanos, pacifismo, igualdade e de defesa do ambiente floresça.

 

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