sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mais trabalho com menos salário...liberta (quem?)! (adaptação livre da velha máxima nazi).

Depois de uma agência norte-americana (ver abaixo) e da Troika virem defender cortes nos salários, na senda da “original” decisão do governo em aumentar o horário de trabalho não pago, agora é a vez dos “limpa-fundos”, comentadores, economistas e professores universitários, virem a terreno em defesa da ideia, apontando as soluções técnicas “mais adequadas” para por em prática essa “ordem”.

A frieza com que tratam o assunto, num país de salários baixos, onde uma parte considerável dos trabalhadores vive abaixo do limiar de pobreza e onde existem as maiores desigualdades salariais da Europa, para além de já ser um dos países da zona euro onde mais se trabalha, trouxe-me à memória um livro que li aqui há uns anos sobre o holocausto, do qual não me recordo neste momento o nome.

Esse livro tratava o holocausto, não pela sua história, pelo sofrimento que provocou ou pelo lado político e ideológico, mas pela análise da burocracia que o alimentou.

Era incrível a quantidade de “técnicos” e “especialistas” da industria, dos transportes, do mundo financeiro, económico e da gestão que, longe do local do crime, tendo provavelmente prosseguido normalmente a sua vida depois da guerra, tinham como trabalho o seu empenho em que tudo “corresse bem”, desde a gestão dos horários dos “combóis da morte”, a contabilização de “peças” transportadas e até as preocupações tecnológicas para tornar eficiente o funcionamento dos fornos crematórios, para lá da gestão dos bens, dos mortos e dos prisioneiros, tudo com a conhecida frieza objectiva dos números, numa linguagem técnica e burocrática, igual àquela com que hoje, em circunstâncias diferentes, se fala da “necessidade” de retirar salários e direitos a quem trabalha.

Também nos nossos dias ninguém se preocupa com o sofrimento e a miséria que essas decisões provocam na vida de milhões de cidadãos por essa europa fora.

Claro que as duas coisas não são, por agora, comparáveis, mas a frieza distanciada e objectiva dos “especialistas” é parecida.

Talvez não tenha sido por acaso que, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, assinada pelos membros da ONU no pós-guerra, se tenha colocado ao mesmo nível, como um avanço civilizacional considerável, a aceitação, no mesmo pé, dos direitos “tradicionais”, o direito à vida, à justiça, à liberdade, à democracia, e os “novos” direitos, os salariais, os do trabalho e os socias no geral.

Perceberam os homens que elaboraram esse documento que, sem dignidade social, não há dignidade humana e que, antes do holocausto, a miséria social generalizada na Europa abriram o caminho aos totalitarismos que mergulharam o continente (e o mundo) na barbárie.

Será que a história, afinal, se repete?

1 comentário:

  1. Desde miúdo que comecei a distinguir as aves da rapina, das demais que são comidas por estas. Como me lembro do peneireiro a peneirar em círculos sobre os pintos. Mais tarde com o cheiro a carne putrida, comecei a ver os abutres e agora vejo todo um conjunto de águias que voam com rapidez para capturar a presa:
    AVES DE RAPINA
    E a ave de rapina
    ou a ave rapinante
    é uma ave tão fina
    como governante:
    -
    bicos recurvados
    bicos pontiagudos
    atingem coitados
    e até ficam mudos!
    -
    com garras fortes
    e visão de alcance
    fazem seus cortes
    em todo um lance!
    -
    e ágeis na captura
    ai de seu alimento
    levam da criatura
    todo seu sustento!
    -
    levam uns peixes
    como o linguado
    e ó zé não deixes
    inda ser capturado!
    -
    como são suaves
    ai pelo ar voando
    e uma destas aves
    é um tal Armando!
    -
    e no seu voo fino
    por vezes picado
    voa certo Isaltino
    já foi magistrado!
    -
    e se tu não nutres
    por eles o carinho
    deixa uns abutres
    ai como Godinho!
    -
    e não tens amores
    ai à ave traiçoeira
    deixa já os açores,
    a ave da Madeira!
    -
    deixa um peneireiro
    deixa voar o falcão
    por ser o primeiro
    a peneirar a Nação!
    -
    e de águia o olho
    ai tem no seu voar
    franze o sobrolho
    é só a nos gamar!
    -
    é só ave de rapina
    ai que tem quintal
    vejam só esta sina
    que tens Portugal!
    -
    Eugénio dos Santos

    ResponderEliminar