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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A Rebelião das Massas sem Causa



Todos os dias, desde há uns tempos a esta parte, somos confrontados com notícias diárias de novas revoltas nas ruas, um pouco por todo o mundo.

Manifestações, revoltas sociais, ocupação das ruas, nada disso é novo, já existia em tempos medievais, tem crescido desde os finais dos regimes absolutistas, com principal impacto a partir da Revolução Francesa.

A primeira grande rebelião das massas ocorreu nos anos 20 e 30, e deu o resultado conhecido.
A “Oeste Nada de Novo”, portanto.

Não devemos esquecer que vivemos uma época em que a comunicação social, principalmente a televisiva, e, em especial, as redes sociais, permitem dar uma dimensão a essas manifestações que elas muitas vezes não tinham no início.

Aliás, está por provar que existem mais manifestações e mais violentas do que as que sempre houve. A diferença é que há uns anos atrás nada disso era notícia, ou, quando o era, já só o sabíamos depois de dominadas ou terminadas.

Hoje vivemos no imediatismo e as notícias dão a volta ao mundo em  poucos minutos, ampliando o impacto e a dimensão de tais movimentos.

O que há de novo nesses movimentos é, por um lado,  a diferenças de objectivos e causas, muitas vezes contraditórias e até de sinal contrário, e a falta de uma ideologia marcante e de lideranças consistentes.

Grande parte dessas manifestações, que ocupam as ruas de quase todo o mundo, são despoletadas por “pequenas coisas”, uma subida no preço de um produto ou de um imposto (em França ou no Líbano, no Irão, no Iraque ou no Chile), a desconfiança sobre a legitimidade de um acto eleitoral (na Venezuela ou na Bolívia), medidas judiciais ou legais controversas (na Catalunha, na Turquia ou em Hong Kong) e depois, mesmo quando as autoridades recuam, o motivo original transforma-se no pretexto para trazer ao de cima um descontentamento generalizado das “massas”  contra as suas precárias condições de vida, as desigualdades crescentes, a falta de liberdade ou democracia.

Sem lideranças fortes, sem objectivos claros, é a irracionalidade que acaba por dominar, conduzindo à violência gratuita.

Como a comunicação social e os políticos só se preocupam com esses movimentos quando a violência se torna o espectáculo da primeira e o cimento do recurso ao autoritarismo dos segundos, a violência torna-se o único objectivo claro desses manifestantes, entrando-se numa espiral sem saída.

Quase todas essas manifestações têm, na sua origem,  causas legítimas, mas perdem rapidamente a legitimidade quando perdem de vista as razões que as despoletaram, recorrendo a crescentes e indiscriminados actos de violência.

As desigualdades crescentes, a falta de democracia e de liberdade, a destruição de direitos sociais, a corrupção generalizada das elites, o esvaziamento do poder democrático pelos interesses financeiros, uma globalização cada vez mais desumanizada, tudo isso é rastilho para o mal-estar generalizado que está a conduzir muitos países e muitas regiões do mundo para o abismo.

Sem rumo, a energia dessas manifestações alimenta a demagogia de populistas sem escrúpulos que espreitam a sua oportunidade

Bolsonaro e Trump são apenas os primeiros a manipular em proveito próprio essa rebelião das massas sem causa, mas são meros meninos do coro perante o que se avizinha.  

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