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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Waterboys, ontem em Lisboa

Os Waterboys deram ontem um grande concerto no Campo Pequeno, em Lisboa.

Apesar de  prejudicado pelo som, os Waterboys mostraram que ainda conseguem surpreender, recriando os velhos temas de sempre e apresentando o seu novo álbum, editado no principio deste ano, muito mais marcado pelo rock and roll e pelo Blues, apoiado numa nova banda com músicos de Nashville e num coro de duas vocalistas surpreendentes, de origem irlandesa.

Da formação inicial, sempre liderada pelo escocês Mike Scott. mantém-se o sempre surpreendente violinista e teclista Steve Wickman.

Os Waterboys foram fundadas no inicio da década de 80, liderados por Scott, editando o seu primeiro álbum em 1982, quando já estavam sediados em Londres.

Os Waterboys do inicio foram muito marcados pelo som celta e pelo folk irlandês. 

O nome da banda teve origem numa verso se uma canção do album "Berlim" de Lou Read (album que esteve na origem de uma das ultimas actuações de Lou Read em Lisboa, exactamente no mesmo Campo Pequeno).

Marcada por êxitos como This is the sea, The Whole of the Monn (1985) ou Fisherman´s Blues (1988), a banda dissolveu-se no final dessa década.

Scott foi viver para Nova Iorque, envolvendo-se na cena do blue e dpo rock and roll, trocando a guitarra acústica pela guitarra eléctrica e ensaiando uma percurso a solo, tendo como apoio músicos norte-americanos.

Tendo voltado para a Escócia natal em 1994, voltou a reunir os Waterboys para uma actuação no Festival de Glastonburry de 2000, não voltando a abandonar a banda, agora agregando novos músicos,os ja referidos originários de Nashville e da Irlanda, e com o regressado   Steve Wickman.

Aqui ficam alguns momentos do concerto de ontem no Campo Pequeno:



(videos do Youtube, da autoria de André Santos, o primeiro, e  Pedro Dias, os seguintes)


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A Vergonha da pobreza em Portugal( e na União Europeia).



Segundo os últimos números, mais de 17% dos portugueses vivem no limiar da pobreza, isto é, mais de 2 milhões!!!

Os números da pobreza em Portugal continuam a ser assustadores, para não dizer…vergonhosos!

Mais vergonhosos por esses números se referirem a um país da União Europeia e da zona euro.

Também vergonhosos, pelo facto de já se terem passado quase 45 anos após a implantação da democracia,  mais de 30 após a adesão à União Europeia e mais de 10 desde a implantação do euro, sem que número se reduza significativamente.

Ainda vergonhosos, quando esses números da pobreza coexistem no país da Expo98, do Euro 2004, onde os negócios do futebol envolvem milhões ou onde o Estado não se coíbe em salvar banqueiros com os milhões dos contribuintes.

Finalmente vergonhosos porque uma grande parte dos pobres portugueses trabalham, advindo a sua pobreza dos baixos salários que se pagam em Portugal.

Não deixa de ser igualmente significativo o título de quase todas a imprensa, tentando desvalorizar a gravidade da situação, dando realce à redução conjuntural daquela percentagem; “Risco de pobreza em Portugal é o mais baixo de sempre” (Diário de Notícias, título idêntico ao do Expresso e ao da Rádio Renascença), “Taxade pobreza e exclusão Baixou e Portugal alcançou a média da União Europeia” (Público, em vez de destacar a escandalosa média de União Europeia!!??)!!!

Claro que existe maior sensibilidade para o problema quando temos governos mais à esquerda, e nessas conjunturas aqueles índices conhecem alguma redução, mas essa é uma situação conjuntural. É fácil melhor esses números por comparação com os negros anos do "ir além da Troika" de Passos Coelho, mas não chega para combater eficazmente esse grave problema social.

É estranho que a divulgação desses números não provoque a mesma indignação, junto de comentadores, economistas, políticos  e burocratas de Bruxelas, que provoca qualquer aumento, ao nível da décima ou da centésima, do deficit!!!

Basta, aliás, ver a reacção que provocou, entre toda essa gente, o aumento miserável do já de si miserável ordenado mínimo que se paga em Portugal, comparando agora com a sua reacção à divulgação desses números .

E esses números estão muito aquém da realidade. “Apenas” são considerados pobres os que têm um rendimento inferior a 510 euros, quando se sabe que ninguém vive condignamente em Portugal com menos de mil euros, e mesmo assim com dificuldades para pagar as contas.

Aqueles números também não têm em conta a actual situação a nível do arrendamento, situação que agrava as condições de sobrevivência de quem vive com baixos rendimentos.

Mesmo para quem vive com menos de mil euros, a situação é diferente se tiver de pagar uma renda de 400 ou 500 euros, ou se vive em casa própria, se tem um problema grave de saúde, ou vive com saúde, se necessita ou não de transporte público para a sua vida ou se têm ou não familiares a seu encargo.

Se todos estes parâmetros fossem tomados em conta, aqueles números seriam bem mais elevados, no mínimo…para o dobro!

A Caridade pode ser uma panaceia conjuntural, que até pode servir para "limpar consciências, mas só medidas estruturais e consequentes, impostas pelo Estado, podem atenuar o problema



Sem se combater a precariedade no emprego, sem se aumentar pensões e salários, sem se aprofundar o Estado Social, nomeadamente a nível da saúde e da educação, sem uma intervenção forte na selvajaria do mercado de habitação, sem melhor o sistema de transportes públicos, nunca se vai conseguir reduzir a pobreza para níveis mínimos "aceitáveis" (abaixo de 5%).

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A melhor canção sobre o 25 de Novembro : José Mário Branco - Eu vim de Longe


Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram feitos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão
Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou
Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou
E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
Quando eu finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser
Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar a solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A Rebelião das Massas sem Causa



Todos os dias, desde há uns tempos a esta parte, somos confrontados com notícias diárias de novas revoltas nas ruas, um pouco por todo o mundo.

Manifestações, revoltas sociais, ocupação das ruas, nada disso é novo, já existia em tempos medievais, tem crescido desde os finais dos regimes absolutistas, com principal impacto a partir da Revolução Francesa.

A primeira grande rebelião das massas ocorreu nos anos 20 e 30, e deu o resultado conhecido.
A “Oeste Nada de Novo”, portanto.

Não devemos esquecer que vivemos uma época em que a comunicação social, principalmente a televisiva, e, em especial, as redes sociais, permitem dar uma dimensão a essas manifestações que elas muitas vezes não tinham no início.

Aliás, está por provar que existem mais manifestações e mais violentas do que as que sempre houve. A diferença é que há uns anos atrás nada disso era notícia, ou, quando o era, já só o sabíamos depois de dominadas ou terminadas.

Hoje vivemos no imediatismo e as notícias dão a volta ao mundo em  poucos minutos, ampliando o impacto e a dimensão de tais movimentos.

O que há de novo nesses movimentos é, por um lado,  a diferenças de objectivos e causas, muitas vezes contraditórias e até de sinal contrário, e a falta de uma ideologia marcante e de lideranças consistentes.

Grande parte dessas manifestações, que ocupam as ruas de quase todo o mundo, são despoletadas por “pequenas coisas”, uma subida no preço de um produto ou de um imposto (em França ou no Líbano, no Irão, no Iraque ou no Chile), a desconfiança sobre a legitimidade de um acto eleitoral (na Venezuela ou na Bolívia), medidas judiciais ou legais controversas (na Catalunha, na Turquia ou em Hong Kong) e depois, mesmo quando as autoridades recuam, o motivo original transforma-se no pretexto para trazer ao de cima um descontentamento generalizado das “massas”  contra as suas precárias condições de vida, as desigualdades crescentes, a falta de liberdade ou democracia.

Sem lideranças fortes, sem objectivos claros, é a irracionalidade que acaba por dominar, conduzindo à violência gratuita.

Como a comunicação social e os políticos só se preocupam com esses movimentos quando a violência se torna o espectáculo da primeira e o cimento do recurso ao autoritarismo dos segundos, a violência torna-se o único objectivo claro desses manifestantes, entrando-se numa espiral sem saída.

Quase todas essas manifestações têm, na sua origem,  causas legítimas, mas perdem rapidamente a legitimidade quando perdem de vista as razões que as despoletaram, recorrendo a crescentes e indiscriminados actos de violência.

As desigualdades crescentes, a falta de democracia e de liberdade, a destruição de direitos sociais, a corrupção generalizada das elites, o esvaziamento do poder democrático pelos interesses financeiros, uma globalização cada vez mais desumanizada, tudo isso é rastilho para o mal-estar generalizado que está a conduzir muitos países e muitas regiões do mundo para o abismo.

Sem rumo, a energia dessas manifestações alimenta a demagogia de populistas sem escrúpulos que espreitam a sua oportunidade

Bolsonaro e Trump são apenas os primeiros a manipular em proveito próprio essa rebelião das massas sem causa, mas são meros meninos do coro perante o que se avizinha.  

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Ainda o 40º aniversário da Cooperativa de Comunicação e Cultura:

Um texto de Aurelindo Ceia, a propósito do 40º aniversário da Cooperativa de Comunicação e Cultura, intitulado "Área, Breve História de Resistência", e que pode se lido integralmente clicando AQUI.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Homenagem a José Mário Branco (1942-2019)


Morreu José Mário Branco.

Assim, sem aviso, foi a notícia ouvida esta manhã.

Que melhor homenagem do que o recordar aqui em vários momentos, aquele que foi um dos mais importantes autores e musicos portugueses dos últimos 50 anos.

Até sempre Zé Mário.

Começamos por recordá-lo numa longa entrevistas, em duas partes, recolhida há apenas 2 anos em Paris, em 15 de Outubro de 2017, incluida no projecto da Fundação Calouste Gulbenkian "Artistes portugueses à Paris-una histoire oral", entrevista conduzida por António Contador:


Aqui recordamos alguns dos temas mais emblemáticos de José Mário Branco, como um tema que muito incomodou o regime salazarista, "a Ronda do Soldadinho":



Outro tema marcante, com origem à sua ligação ao projecto GAC, nos idos de 1975, "A Cantiga é uma arma":

Mas aquele que é talvez a sua musica mais conhecida é um tema baseado num poema de Camões, "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", aqui numa versão recente na companhia de Fausto e Sérgio Godinho:


Outro dos seus temas mais marcantes foi "eu vim de longe, eu vou para longe", retirado do seu album mais importante, "Ser Solidário":


E não podíamos esquecer o seu "poema-manifesto" FMI, sempre actual:

(FMI - 1ª parte)


(FMI - 2ª parte)

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O “irritante” salarial



Confesso que me dá um forte ataque de alergia e me provoca intensa comichão , cada vez que me deparo como os cometários de economistas, jornalistas/comentadores (ou serão comentadores/jornalistas?) ou políticos “liberais”, aos quais se juntam os burocratas de Bruxelas a falar do “escândalo” da subida do salário mínimo.

O primeiro irritante começa logo por saber que essa gente não sabe o que é viver com salário mínimo, nem mesmo com o salário médio.

Eu também não sei, mas tenho uma ideia, pois vivo com o dobro do mínimo e um pouco acima do médio, conheço gente que vive com o mínimo e sei da dificuldade para se chegar “intacto” ao fim do mês.

Penso que, de cada vez que alguém vem comentar o salário dos outros devia ser obrigado a publicar em legenda de rodapé, como declaração de interesse, qual é o seu salário ou rendimento ou, no mínimo, quanto recebe para fazer esses comentários (provavelmente mais que um salário mínimo por meia hora de comentários escandalosos!).

O segundo irritante, é ver tanta preocupação com o aumento do salário mínimo, por causa da “competitividade” e da “saúde da economia”, e tão pouca pelos milhões que saem para salvar as trafulhices da banca!!!

O terceiro irritante é que, com tanta preocupação com as “contas”, esqueceramm-se de fazer as contas.

Vamos a então a elas:

Por um trabalho não qualificado, como a da limpeza da casa, paga-se por aqui, há muito tempo, cerca de 5 euros à hora ( nos casos à minha volta varia entre os 6 e os 6 euros e meio por hora).

Dando de barato os 5 euros à hora  numa jornada de trabalho de 35 horas por semana, uma média de 21 dias de trabalho por mês, num total de 147 horas, isso daria 735 euros. Se fizermos as contas a 6 euros, daria 882 euros.

Essas contas estão por baixo, quer quanto ao valor de uma hora de trabalho não qualificado, quer em relação às 35 horas semanais, ou até aos 21 dias, pois excluímos Sábado e Domingos, situações que estão aquém da realidade, principalmente no sector privado.

Se existe algum escândalo, é no baixo valor do salário mínimo, que é o ordenado pago a quase 1 milhão de trabalhadores portugueses, situação que se agrava se tivermos em conta que cerca de metade do rendimento de quem trabalha é utilizado para pagar a habitação.

Sabendo nós a forma descontrolada, esta sim, verdadeiramente escandalosa, como têm subido os valores das rendas e da compra de imóveis nos últimos anos, dá para perceber, só por aqui, quais são as condições de vida, não só de quem vive com salário mínimo, mesmo que venha a aumentar para os valores que se anunciam, mas também de quem vive com ordenado médio e queira ocupar uma casa em condições.

Senhores economistas, senhores comentadores/jornalistas, senhores políticos “liberais”, os vossos comentários, esses sim, é que são um verdadeiro escândalo.

Continuem a alimentar  o “Joker” , e vão ver onde isto vai parar.

sábado, 9 de novembro de 2019

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Para acabar de vez com a situação de sem-abrigo



O Presidente da República voltou a alertar mais uma vez para a necessidade de resolver o vergonhoso problema da existência de tanta gente a viver nas ruas.

O que o Presidente não explicou foi que políticas defende para o fazer. Provavelmente não é ele que o tem de fazer.

A situação dos sem-abrigo em Portugal é um problema cujas causas e origens há muito que estão estudadas (ver AQUI e AQUI dois importantes estudos disponíveis, embora tenham sido elaborados há  mais de 10 anos).

Num estudo realizado pelo Instituto de Segurança Social feito em 2010, defendia-se o perfil do sem-abrigo como “homem” em idade activa, solteiro, com baixo nível escolar, vivendo do rendimento social de inserção.

A origem da degradante situação dessas pessoas residia no desemprego, na pobreza, em situações pessoais (alcoolismo,  pior que o consumo de droga, doenças mentais, conflitos familiares, principalmente a violência doméstica) e a dificuldade de acesso a instituições de saúde.

Esse conjunto de causas impedia os sem-abrigo de financiar um alojamento permanente.

Uma grande parte dessas pessoas, quase metade, vivem no distrito de Lisboa, e, destes, a maioria no concelho de Lisboa.

No principio deste ano a Câmara de Lisboa calculava que existiam cerca de 3 mil sem abrigo, dos quais cerca de 400 no concelho da capital.

Recentemente saiu a noticia que entre 2015 e 2017 o número de sem-abrigo no concelho de Lisboa teria sido reduzido em 50%. Recorde-se que, nos anos da Troika, chegaram a ser contabilizados mais de mil sem-abrigo no concelho de Lisboa.

Outro dado curioso é que os vários estudos revelam que 80% dessas pessoas são portugueses, desmentindo uma ideia feita que atribui à emigração a origem dessa situação.

Claro que o conceito de “sem-abrigo” não inclui outras situações degradantes, que se têm vindo a agravar desde os tempos da Troika ( ou do “ir além da Troika”) e desde a famigerada “lei Cristas” para a habitação.

São essas situações, que muitas vezes disfarçam a gravidade da real situação dos sem-abrigo, os “sem-casa”, isto é, aqueles que recorrem às casas abrigo ou a instituições, os que vivem em “habitações precárias”, ocupando espaços ilegalmente, abandonados em casa de amigos ou familiares, devido às dificuldades financeiras de manterem uma casa, os, a situação maioritária e nunca incluída nos números dos “sem-abrigo”, que vivem em “habitações inadequadas”, casas sem aquecimento, pequenas, velhas  e degradadas.

Se o Presidente quer ser consequente, assim como a ministra que o acompanhou na visita desta semana aos sem abrigo, só têm que agir no sentido de combater o desemprego e o emprego precário, reduzir a pobreza através da valorização salarial e das pensões, melhorar as ajudas socias e o acesso à saúde, em especial à mental, tomar medidas descomplexadas em relação ao consumo de drogas e ao combate ao alcoolismo, e, no topo de tudo, já que é um problema de direito à habitação, consagrado na Constiuição, que está na origem dos sem-abrigo, tomar medidas corajosas nesta área, como, por exemplo tabelar por lei as rendas de casa até ao T2 e combater a actual situação de total descontrole no sector da habitação.

Os estudos estão mais que feitos e as causas  detectadas .

Só é preciso ter coragem para avançar com medidas concretas…a não ser que se fique pela eterna caridadezinha, que remedeia no imediato, mas  adia a resolução dos problemas, embora limpe a consciência de muita gente!!

terça-feira, 5 de novembro de 2019

SÓCRATES VAI-SE “SAFAR”!?!!!?



Que não restem dúvidas: nutro por José Sócrates e tudo o que ele representa o maior desprezo intelectual e político.

Sempre exprimi aqui tudo o que penso da “chico espertíce”, do oportunismo político e da falta de ética  que os anos da governação Sócrates representaram. Basta explorar o nosso tag “anti-Sócrates”.

Fi-lo numa época em que as suas políticas antissociais, o seu desprezo pelos professores, a sua bajulação pelo mundo da alta finança, a sua cedência aos ditames de uma União Europeia entregue às políticas de austeridade (pouco depois levadas ao limite por outra figurinha de triste memória, Passos “ir além da Troika” Coelho), eram incensadas e apoiadas com entusiasmo pela maioria dos comentadores e economistas do sistema, os mesmos que depois apoiaram com entusiasmo as medidas  desgraçadas da Troika, e que agora procuram sacudir Sócrates do “capote” .

Sócrates e Passos Coelho foram as duas faces da mesma moeda que tanto sofrimento causou neste país.

Contudo, essa “chico espertice”, esse oportunismo político e essa falta de ética e sentido de Estado na forma de fazer política, não só não são crime, como foram a base do cavaquismo, surgido nos anos de 1980, atitude que tanto fascinou e modelou toda uma geração de políticos formados nas “jotinhas” do centrão.

Contudo, sempre torci o nariz ao modo como foi conduzido o processo de acusação contra José Sócrates, a “Operação Marquês”.

Não porque tenha qualquer dúvida sobre os seus processos de actuação desonestos eticamente reprováveis, já revelados pelo próprio noutras circunstâncias, na forma como, junto de autarquias da Beira Interior, ainda antes de ser conhecido, deu cobertura a verdadeiras aberrações urbanísticas, ou no caso Freeport, nunca devidamente esclarecido.

O que me levantou dúvidas foi todo o modo como o processo foi conduzido, com uma prisão em directo na comunicação social, com o juiz que conduziu todo o processo até há pouco tempo mais interessado em comportar-se como uma estrela dos media e como comentador político, do que em fazer uma investigação célere e eficaz sobre as trafulhices de Sócrates, sem esquecer as fugas constantes de informação sobre o processo, que muito devem envergonhar o nosso sistema judicial, ao mesmo tempo que queimavam a validade das provas.

Mais preocupado em dar  espectáculo e dirigir um processo político, o herói da nossa extrema-direita, o juiz Carlos Alexandre, acabou por contaminar todo o processo, e agora, pelo que parece, Sócrates já pode sorrir.

O nosso Ministério Público devia ter aprendido com a forma como prenderam Al Capone.

Este não foi preso pelos seus crimes ou roubos, mas por fuga aos impostos.

Ou seja, um  criminoso inteligente, como o é José Sócrates, não deixou provas dos seus crimes financeiros e das suas obscuras negociatas, mas terá deixado rasto nos pequenos pormenores.

Infelizmente em vez de um Eliot Ness tivemos um Juiz Carlos Alexandre.

Se o juíz Carlos Alexandre, quisesse mesmo fazer justiça, em vez de exibir o espectáculo da sua vaidade pessoal, tinha construído um processo mais sólido , menos complicado, indo directo às acusações que podia provar, avançando logo para tribunal, em vez de criar um mega processos, onde se misturam acusações  fáceis de provar, com situações, talvez as mais mediáticas, difíceis de provar legalmente.

Primeiro reuniam-se as provas e depois prendia-se. O que se fez com Sócrates foi o contrário. Primeiro prendeu-se, com base em suspeitas previsíveis, iguais às que se podem apontar  a muito do políticos da “geração centrão”, e depois foi à procura de provas, atrás do “disse que disse” de uma comunicação social ávida de escândalos.

O resultado só podia ser desastroso, queimando a investigação nas labaredas dos títulos sensacionalistas do “Correio da Manhã”.

E assim  chegámos à situação actual.

Espero estar enganado, mas pelo que se vai sabendo, Sócrates vai safar-se desta e até se pode dar ao luxo de processar quem o acusa de falta de ética.

Perdem a democracia, a justiça e  os valores éticos.