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segunda-feira, 29 de julho de 2019

Woodstock, quando o tempo parou



Ficou na memória de uma geração, mesmo na daqueles que não o viveram, ou só souberam da sua existência anos depois, o que aconteceu naqueles dias a meio de Agosto de 1969, perto da pequena cidade de Bethel, numa desconhecida quinta de criação de gado.

Foi entre os dias 15 e 18 de Agosto de 1969 que teve lugar um dos momentos mais importantes da geração de 60 e da história da musica rock, o incorrectamente chamado Festival de “Woodstock”.

Anunciado para uma localidade próxima do município de Woodstock, esse festival de musica esteve quase condenado ao fracasso ou a ser apenas mais um festival de musica entre tantos que se realizaram por essa época em vários locais dos Estados Unidos.

Anunciada a sua realização durante semanas em páginas de jornais, e já com milhares de ingressos vendidos, à última da hora os habitantes da conservadora cidade de Woodstock, sede do município da localidade de Walkill para onde estava programada a realização do festival, conseguiu forçara as autoridades locais a proibirem o evento, porque não queriam ver o sossego provinciano da sua terra a ser abalado por hippies e jovens contestatários da guerra do Vietname.

Os organizadores, liderados pelo visionário Michel Lang, tiveram de encontrar um outro local para o festival, já não indo a tempo de tirar a referência de Woodstock dos cartazes.

Graças ao “inconsciente” criador de gado Max Yasgur, acabaram por montar o palco e o arraial do festival, apressadamente, na quinta deste, perto da cidade de Bethel, no Estado de Nova Iorque, a 70 Quilómetros de Woodstock.
(uma das imagens icónicas do festival e os mesmos 40 anos depois)


Foi assim que Woodstock foi injustamente imortalizada como falsa sede do evento, enquanto a pequena cidade de Bethel, onde o festival de facto se organizou, acabou no esquecimento.

Ao contrário das expectativas iniciais, em vez dos 200 mil espectadores previstos, surgiram de todo o lado cerca de meio milhão de jovens para assistirem ao festiva, a maioria sem bilhete.

Alguns tinham adquirido o ingresso para três dias por 18 dólares, 24 dólares se comprado no local (8 dólares um diário), mas rapidamente a organização, para evitar o caos, teve de abrir as portas do recinto a todos os que apareciam, transformando o concerto num festival gratuito.

Apesar do caos, dos vários imprevistos, da quantidade de gente, da falta de tudo, alimentos, àgua, sanitários, do mau tempo que se abateu sobre o local, pelo menos por duas vezes, dos engarrafamentos monstruosos, apenas se registaram duas mortes (4 segundo outras versões).

A abertura do festival, na 6ª feira 15 de Agosto, coube a Richie Heavens, embora o previsto fosse que esse momento coubesse aos SweetWater, que não conseguiram chegar a tempo, retidos pela policia numa operação stop e no trânsito infernal de ligação ao festival.

Nesse mesmo dia actuaram, entre outros, Ravi Shankar, Melanie, Arlo Guthrie e Joan Baez, esta grávida de 6 meses.


No Sábado 16 de Agosto a abertura coube ao quase desconhecido Country Joe McDonald, que também abriu esse dia contra a que estava programado, pois eram os Santana que deviam iniciar a actuação do 2º dia, mas que não estavam preparados para a sua actuação.

Além de Country Joe e de Carlos Santana, actuaram nesse dia os Canned Heat, os Greatful Dead, os Credence Clearwater Revivel, Janis Joplin e os The WHo.

Estes últimos começaram a actuar já pelas 4 horas da madrugada de Domingo, tocando 25 temas, actuando os Jefferson Airplane, que encerravam o 2º dia, já no inicio da manha  do terceiro dia.


O último dia do Festival, Domingo 17 de Agosto, ficou marcado pelo forte temporal que se abateu sobre o recinto após a actuação de abertura de Joe Cocker, interrompendo-se o concerto por 3 horas, após o qual se retomou o alinhamento.

Actuaram antão, novamente, Country Joe McDonald, e, entre outros, os Tem Years After, os The Band, Johnny Winter, Blood Swett & Tears e, um dos momentos altos, os Crosby, Still & Nash, que passaram a crescentar Neil Young, que aí iniciou uma curta ligação ao grupo.


Também actuaram na sessão de encerramento os Paul Butterfield Blues Band e Jim Hendrix.

Quando Jimi Hendrix subiu ao palco já era a madrugada da 2ª feira de 18 de Agosto e já muita gente se tinha ido embora, restando apenas 30 mil espectadores, que assistiram a uma das mais icónicas, e também a uma das últimas aparições daquele talentoso guitarrista.


Apesar da fama do Festival, e apesar dos convites, este não contou com a presença de algumas das mais importantes bandas ou cantores do momento, uns por impedimento de calendário, como aconteceu com Simon & Garfunkel, a gravar um álbum novo, os Chicago, os Moody Blues, com espectáculo em Paris, os Rolling Stones (Mick Jagger estava na Austrália) e os Procol Harum, a recuperar de uma cansativa digressão.

Os Beatles não compareceram porque estavam e digerir conflitos internos, não actuando há 3 anos, os The Doors porque desvalorizaram o evento, arrependendo-se depois, apesar do seu baterista, John Densemore, ter estado no festival a acompanhado Joe Cocker na sua actuação.

Sem razões conhecidas, também não actuaram, apesar de convidados, os Led Zeppellin, os Jethro Tull, os The Byrds, Frank Zappa e os Free.

Mas a maior desilusão foi a não comparência de Bob Dylan, que vivia em Woodstock, e que preferiu apostar no Festival da Ilha de Wight, marcado para o final desse mês.

Um dos casos mais paradigmático, entre as ausências, foi o de Joni Mitchel que, desejando ir, foi impedida pelo seu empresário. Seguiu com entusiasmo o festival pela televisão e através das descrições do seu namorado da altura, Graham Nash, dos Crosby, Still & Nash, ficando-se a dever a ela aquela que se tornou a canção-hino do Festival, “Woodstock”, escrita em casa enquanto acompanhava o acontecimento à distância, canção essa que, apesar de nunca ter sido tocada no festival, muito contribuiu para divulgar o evento.


Essa canção foi gravada por Joni Mitchell  e incluída num álbum seu de 1970, mas tornou-se mais conhecida pela interpretação que dela fizeram os Crosby, Still, Nash & Young no álbum do mesmo ano “Dejá Vu”.


O mayor de Bethel perdeu as eleições no final de 1969 por causa de ter deixado que o festival se tivesse realizado no seu município e, durante anos, este tipo de festivais esteve proibido naquela localidade, o mesmo acontecendo com Woodstock que, mais tarde , se aproveitou da fama que não lhe era devida.



O festival de “Woodstock” deu origem a um dos mais importantes documentários de sempre, realizado por Michael Wadleight e que teve na produção um então ilustre desconhecido…Martin Scorsese, e que venceu o Óscar para melhor documentário.

Deu ainda origem a dois álbuns em vinil, um triplo e outro duplo, hoje disputados no mercado de raridades.
“Woodstock” conseguiu fazer a síntese e a transição entre a musica popular dos anos 60 e os novos caminhos do rock dos anos 70.

Aí se cruzaram o “latin rock” de Santana  com o “rock blues” dos Tem Years After, o “rock psicadélico” dos Grateful Dead, com o “proteste Song” de Joan Baez, ou o “Pop inglês” dos The Who com o “country rock” dos Crosby Still, Nash & Young.

Nunca mais nenhum festival conseguiu a força mítica de “Woodstock”, talvez apenas o “Live Aid” em 1985, que revelou a mesma força e o mesmo poder de sintetizar uma época.

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