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terça-feira, 9 de julho de 2019

Vivam todos os anónimos “João Félix” deste país!



Nos últimos dias, quase sempre que abro a televisão par ver as notícias tenho de gramar com minutos infindáveis a ouvir falar da transferência do jovem jogador de futebol João Félix para o Atlético de Madrid.

Não nego as qualidades de tão jovem jogador, também ele vitima da orgia mediática à volta da sua personalidade.

Mas, que raio, não existem notícias mais importantes para debater, abrir telejornais, ocupar páginas de jornais ou o valioso espaço da comunicação social, do que uma transferência milionária?

Em que é que um jovem jogador de futebol de topo é mais importante do que um jovem desportista que ganha medalhas noutras modalidades em torneios internacionais?

E em que é que um jovem jogador de futebol é mais importante do que muitos jovens artistas, cientistas, investigadores, profissionais ou empresários que se destacam por cá e por esse mundo fora, na inovação, criatividade e originalidade, nessas várias áreas da actividade e no conhecimento humano?

A não ser que seja pelos valores envolvidos, valores aos quais nenhum outro jovem que se destaque em qualquer das actividades acima referidas sonha algum dia almejar.

A culpa não é de João Félix, um jovem jogador de futebol realmente talentoso.

A culpa do destaque dado quase exclusivamente a uma actividade e a um desporto como o futebol, é de uma comunicação social medíocre, rendida ao fascínio pelo dinheiro envolvido nesse desporto e preguiçosa a investigar ou divulgar novas realidades.

Se houvesse verdadeiro jornalismo, aquilo que  a comunicação social devia estar a fazer há muito tempo era investigar a origem do dinheiro envolvido em transferências milionárias.

Se houvesse verdadeiro jornalismo, aquilo que essa mesma comunicação social estava a fazer era explicar-nos porque é que que um jovem e talentoso jogador de futebol ganha num ano aquilo que nem um prémio Nobel vai ganhar numa vida.

É caso para dizer, que vivam os “João Félix” anónimos deste país que, todos os dias, trazem bons resultados desportivos, noutras modalidades que não o futebol profissional,  produzem riqueza e inovação, criam arte, fazem descobertas científicas fundamentais para a melhoria da vida de todos nós, trabalhando em condições precárias e, muitas vezes, com salários miseráveis, muitas vezes , até, gratuitamente.

Estes, como dizia Brecht, são os imprescindíveis, mesmo se continuam anónimos.


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