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segunda-feira, 22 de julho de 2019

Ainda a “Ignóbil porcaria” de Mª de Fátima Bonifácio: a fase dos “limpa fundos”.



Quem tem ou conhece amigos com aquários, sabe bem o que são os “limpa fundos”.

São uns peixinhos que se alimentam e têm como função limpar a porcaria que os outros peixes fazem e que se vai acumulando no fundo do aquário.

Metaforicamente, nas últimas semanas temos visto a entrar em acção  os “limpa fundos”  para limpar o rasto de “porcaria” deixado pelas opiniões racistas da “catedrática” Bonifácio.

Não voltei ao assunto na semana passada porque não quis conspurcar uma semana marcada por um acontecimento tão nobre como o cinquentenário da chegada à lua com a referência a tão ignóbil criatura. Estive mesmo para não voltar ao assunto, mas como as ondas de choque daquela “ignóbil porcaria” continuam a ecoar na comunicação social, não quis deixar de dar o meu humilda contributo para o “debate”, reforçando o que na altura escrevi sobre o tema.

Embora, com a exclusão de Vasco Pulido Valente,  do bando do "Observador" do PNR, ninguém se tenha atrevido a defender os argumentos da dita senhora, tenho assistido a uma tentativa de branquear, não o que ela disse, mas o que ela representa para uma certa direita portuguesa.

É bom não esquecer que ela foi uma das principais apoiantes de Passos Coelho e Cavaco, uma espécie de legitimadora moral e intelectual das medidas do tempo da troika e da ideologia neoliberal portuguesa por aqueles ensaiada, com as resultado sociais conhecidos.

Começando todos por se demarcar do tal artigo, tentam depois desculpá-lo pelo feitio provocador de Bonifácio,  em defesa de tão tenebrosa figura.

Uns acham que as afirmações racistas e as bacoradas históricas do dito artigo (já referidas por vários intervenientes e por nós próprios em post anterior) foram um mero lapso ou uma mera provocação, como se o que ela escreveu nesse artigo não fosse o corolário lógico de todo o pensamento politico, intelectualmente “bem” elaborado,  de Bonifácio, revelado aliás noutras intervenções públicas em artigos de opinião ou em debates televisivos.

De facto, Fátima Bonifácio sabe o que escreveu e concorda com o que escreveu, não foi um simples lapso. Dizer que ela não queria escrever o que escreveu é mesmo um atentado contra a reconhecida inteligência da dita “catedrática”. Pelo menos reconheça-se a coragem de Fátima Bonifácio, coragem que não abunda muito entre os seus apaniguados e seguidores que, lá no fundo, concordam com o que ela escreveu, e o dizem nos bastidores, mas nãos se atrevem a escrevê-lo o dize-lo em público.

Outra forma de “limpar o fundo” da porcaria de Fátima Bonifácio é desviar a atenção do conteúdo daquele artigo.

Que o objectivo era nobre, dizem, o de questionar a questão da quotas e que aquela afirmações racistas foram um mero berloque a “enfeitar” a “intenção” principal do mesmo artigo.

Claro que, também nós questionamos a questão das quotas, embora se deve reconhecer que, em certas circunstâncias é a única forma de combater o preconceito, seja ele de género ou de “raça”. Toda a gente sabe que, em mais de 90% dos casos, se se apresentarem um cigano, um negro e um branco, em igualdade de circunstâncias de formação, sociais e económicas, para concorrerem a um emprego, a um lugar na Universidade ou a um simples aluguer de casa, e havendo lugar apenas para um, o branco é o escolhido.

Nesse tipo de situações parece-me que se justifica a imposição de um sistema de quotas.

Já noutra situação, onde apareça um branco com melhor nota e maior experiência, concorrendo contra outros brancos, ou negros, ou ciganos, ou mulheres,  apresentando estes menor formação ou experiência, o sistema de quotas torna-se injusto.

Ao contrário daqueles que desviam a atenção para a temática das quotas no dito artigo, o racismo revelado por Bonifácio não foi um assunto secundário. Para nós a questão das quotas é que foi pretexto para as afirmações boçais e racistas da dita “catedrática”.

Outros desviam a discussão para a questão da liberdade de opinião, mesmo quando esta é abjecta (leia-se, a propósito, AQUI a forma, meio irónica, como o insuspeito Pedro Marques Lopes desmascara esta situação, nas páginas do Diário de Notícias deste fim-de-semana).

Claro que afirmações boçais, racistas e ignorantes como as de Fátima Bonifácio são o preço a apagar pela liberdade de informação.

Mas Fátima Bonifácio tem lugar cativo em colunas de opinião e em debates televisivos devido ao seu “prestígio” como historiadora e, neste artigo, Fátima Bonifácio atropelou os mais elementares princípios da sua profissão, deturpando a própria História da Declaração dos Direitos do Homem, do Cristianismo e da Civilização Ocidental.
(As "Boas" companhias de Fátima Bonifácio)

Se era o seu prestígio como historiadora que lhe deu lugar como “fazedora” de opinião, o artigo em causa borrou toda a pintura e a suas opiniões não podem ter, a partir de agora, mais peso e importância que os mais reles argumentos que pululam nas redes sociais, estando ao nível de um Trump ou de um Bolsonero….a menos que a própria se venha retratar das ditas afirmações!

Mas, se Maria de Fátima Bonifácio tem o “direito” (discutível, basta ler a lei de imprensa, a Constituição Portuguesa, a legislação sobre o assunto ou mesmo a Declaração Universal dos Direitos do Homem) de ofender comunidades inteiras, porque é que reagir às opiniões da dita senhora passa a ser uma “condenável acto de ataque pessoal” ou uma tentativa de atentar contra ao direito de opinião?

Ou seja, umas opiniões têm o direito de se exprimir, outras não passam de “linchamentos públicos” de uma alta dignatária da Universidade Portuguesa.

Se há um discurso que legitima linchamentos públicos de minorias é o de Maria de Fátima Bonifácio.

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