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sábado, 22 de dezembro de 2018

Desejos de Um Feliz Natal

Vamos interromper por uns dias a nossa presença por aqui.
Até ao nosso regresso, desejamos um FELIZ NATAL para todos os que têm tido paciência de mos seguir por aqui.

“Coletes Amarelos” – quem são os derrotados.



Do total fracasso, a roçar o ridículo, da manifestação dos “coletes amarelos”, não saíram apenas derrotados os seus promotores.

Em primeiro lugar saiu derrotada a extrema-direita portuguesa, ficando à mostra a sua verdadeira dimensão.

Em segundo lugar, saiu derrotada a bazófia de utilizadores das redes sociais, (tão caladinhos agora) que pensavam que bastava destilar ódio, intolerância e demagogia, em doses cavalares, para conseguir mobilizar os portugueses.

Em terceiro lugar saíram derrotados os que andavam a apregoar a decadência da mobilização sindical, acreditando que bastava gritar contra tudo e contra todos para conseguir mobilizar manifestantes.

Em quarto lugar saiu derrotada a comunicação social, sempre tão pronta a desvalorizar reivindicações sindicais, profissionais e sociais, mobilizando desta vez grande parte do seu espaço para amplificar uma manifestação de dimensões ridiculas, mostrando-se quase tão desesperada com o resultado da manifestação como os próprios promotores.

Mas sairão igualmente derrotados, a prazo, aqueles que, perante o fracasso desta manifestação, pensam que tal desaire significa que muitas das reivindicações e protestos, usados de forma demagógica e oportunista pelos promotores, não têm um fundamento de verdade.

A democracia ganhou esta batalha contra a demagogia, mas tem muitas outras batalhas pela frente.

A democracia é frágil e, se quer sobreviver, tem de combater eficazmente as desigualdades, a corrupção, a pobreza e todo o tipo de injustiças sociais, ou a demagogia ganhará espaço para voltar com mais força.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

“Portugal Grande de Novo”??



Este é o título do manifesto de convocação da manifestação “apartidária” que está  prevista para esta 6ª feira:
A primeira pergunta a colocar é…, para além do título cheirar a “trumpismo” ou “bolsonarismo”, sem esquecer a sua origem numa frase dos nacionalismos fascistas  dos anos 30, quando é que Portugal foi “grande”? A época dos descobrimentos já lá vai e as razões pelas quais Portugal foi pioneiro (tese também discutível) estão mais que escrutinadas nas mais variadas teses históricas. Depois disso, só se estiverem a pensar na propaganda colonial do Estado Novo, um mítico Portugal “do Minho a Timor”!!

Para disfarçar a origem da convocação dessa “manifestação silenciosa” ( mas  que desta vez pretende ser ruidosa, cortando estradas e vias de acesso num dia de trabalho…), usam depois um conjunto de reivindicações que qualquer pessoa pode subscrever, mas que são contraditórias entre si.

Propõem, justamente, o aumento do salário mínimo para 700 euros e das pensões mínimas para os 500 euros, cortando as pensões para ( primeira contradição) ora  2 mil, ora 5 mil euros. (provavelmente algum dos proponentes assustou-se com a própria proposta e lançou a confusão…). Mas, porquê 700 ou 500? Com base em que critério? Pela nossa parte já aqui demonstrámos várias vezes que não devia haver salários abaixo do 800 euros, que podiam ser acima de mil euros se não se tivesse negociado tão mal a adesão ao euro, um euro que veio a acentuar as desigualdades na Europa, mas para cuja manutenção se exige o cumprimento de regras a uns (os países do sul) e se fecha os olhos a outros (França e Alemanha)…mas isto é outra história!

Propõe, por outro lado, uma atabalhoado conjunto de medidas sociais (para além do aumento das pensões mínimas), como a reforma do SNS e, por outro, contraditoriamente, a baixa dos impostos!!

Mas não um imposto qualquer: o IVA e o IRC. É revelador do tipo de interesses económicos que podem estar por detrás desta manifestação!.

Também é revelador que, quando falam na justa redução da taxa de electricidade, estraguem tudo quando especificam a taxa sobre emissão de dióxido de carbono! Então os manifestantes são daqueles que acham que não existem alterações climatéricas, não sendo, por isso, necessário tomar medidas para as combater, como a contenção no consumo energético?

E podíamos ir por aí fora!

Para quem duvida que a origem da convocatória parte de grupos de extrema-direita, basta consultar o histórico do conteúdo da maior parte dos site e das páginas dos promotores mais activos dessa manifestação.

Historicamente  o populismo de extrema direita sempre se caracterizou por uma propaganda contraditória, misturando justas reivindicações sociais, a denuncia, politicamente selectiva, da corrupção politico-partidária que mina as democracias, embrulhado numa mítica retórica nacionalista.

Claro que toda a gente tem direito de manifestação, nem este é um direito exclusivo da esquerda, e que existem muitos e bons motivos de descontentamento popular.

Mas esta não é um manifestação normal, convocada com hora e local, para desfilar ordeiramente pelas ruas do país.

Ela apela de imediato para o corte de estradas e vias, atitude que, apesar do hipócrito apelo que fazem à “não violência”, só se pode concretizar com violência, violência essa que está no gene dos mais entusiastas apoiantes e organizadores dessa manifestação (basta consultar o histórico das páginas dessa gente nas redes sociais).


quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

“Crescimento”



É a palavra mais usada por políticos e economistas.

É de tal modo uma palavra “mágica” que existe um exército de técnicos e de instituições só para o estudar e o prever.

Interrogo-me muitas vezes se “crescer” em termos económicos e em quantidade é mesmo o grande objectivo civilizacional da humanidade, uma justificação para um desordenado crescimento do consumo que alimenta a máquina “capitalista”, onde somos alegremente triturados.

Pergunto-me também se é possível continuar a “crescer” sem destruir definitivamente, não só os equilíbrios sociais, como, e principalmente, o ambiente e a natureza.

Para mim “crescer” pode ser aceitável se tiver como objectivo melhorar a nossa saúde, a nossa educação, a nossa compreensão dos outros e do mundo, a nossa cultura e o nosso conhecimento, combater as desigualdades, melhorar as nossas condições de vida e, principalmente, acentuar o urgente e necessário equilíbrio entre nós e o ambiente natural que nos rodeia.

Ora, não me parece que seja isso que está na base do uso conceito de “crescimento” saído da boca e da pena de economistas, políticos e comentadores , conceito usado apenas para defender os apelos cada vez mais selvagens ao consumo desenfreado (tão comum nesta descaracterizada época “natalícia”), para o saque descontrolado de recursos naturais, e para acentuar desigualdades socias, desrespeito todas as formas de vida humana ou animal que não se enquadrem no modelo económico neoliberal.

E assim, em contínuo “crescimento” cá vamos alegremente caminhando e consumindo para o  abismo ambiental e civilizacional...

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

As “previsões” do Banco de Portugal…e outras!



O mundo económico e financeiro vive hoje de previsões.

Ditas “científicas”, é com base nessas previsões que se tomam decisões de gestão e programação.

Até qui, nada a reparar, a não ser que, verdade de La Palice, previsões são previsões e um bom gestor ou um bom economista, servindo-se delas, não as encara como uma verdade absoluta e tem em consideração a sua própria experiência e uma dose de perspicácia e bom senso.

O problema é quando essas “previsões” servem de desculpa para tomada de decisões politicas de efeito estrutural ou como arma de arremesso de propaganda politica e ideológica, que é o que se vê, cada vez mais, por essa Europa fora, com os resultados conhecidos.

E aqui entram os “comentadeiros” do costume, sempre cheios de certezas, ainda maiores se servidas por bem elaborados gráficos estatísticos com base nas ditas “previsões” de instituições “credíveis”.

Sempre ouvi dizer que uma estatística “bem torturada” dá sempre o resultado que pretendemos.

Não deixa de ser curioso que a maior parte de tão “credíveis” instituições não conseguiram prever a crise financeira de 2008 nem, por cá, a situação da banca portuguesa que levou à falência fraudulenta de alguns desses bancos e à intervenção “salvadora” nos que sobreviveram, à`custa do bem estra de todos os cidadãos.

E, porque uma previsão é…uma previsão, ainda menos se entende o desvarios dos “comentadeiros” quando o Banco de Portugal faz uma previsão diferente da do governo em….2 décimas!!!!

Uma previsão, porque é uma previsão, tem sempre uma margem de erro.

Uma coisa é falarmos numa diferença de um ou dois dígitos…outra é falar em diferença de décimos ou milésimos.

E outra coisa é falarmos em “previsões”, outra de dados reais e definitivos.

É como aqueles  “comentadeiros” em noite eleitoral que, principalmente quando isso lhes convém ideológica e politicamente, passam a noite a comentar sondagens à boca das urnas, mesmo quando já se começam a conhecer resultados reais e  definitivos, que muitas vezes desmentem ou se afastam significativamente do resultado de tais sondagens…

Penso que, assim como se paga, e bem, a instituições para fazer previsões financeiras e económicas, se devia penalizar fortemente essas instituições pelos erros de previsão, pelo menos quando esses erros justificam medidas politico/ideológicas que têm repercussão negativa na vida das pessoas.

Também devia existir uma entidade independente que comparasse as previsões feitas por essas instituições com os resultados reais, classificando-as de acordo com a sua credibilidade.

Talvez, assim, as “previsões” deixassem de ser arma de arremesso ideológico ou politico e fossem, na sua maioria, encaradas como a quilo que muitas vezes são, simples actos de …bruxaria!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

4 Heróis... e um bandido



Portugal está cheio de heróis anónimos de quem só se fala em caso de desgraça.

Foi o que aconteceu com a equipa do INEM que encontrou um fim trágico este fim-de-semana.

Dois pilotos, um médico e uma enfermeira, depois de salvarem mais uma vida, encontraram a morte num voo em condições climatéricas muito adversas ao chocarem contra um poste encoberto pelo nevoeiro.

Todas as palavras são poucas para enaltecer o trabalho de tantos homens e mulheres que todos os dias arriscam as vidas, em terra, no ar e no mar, para salvar tantas vidas.

Essa gente merece todo o nosso respeito e, numa tragédia como aquela, que atingiu quatro desse heróis, era importante palavras ainda mais respeitosas.

Infelizmente, a unanimidade dessas palavras de agradecimento e pesar e a contenção merecida por respeito para com as  vítimas foi mais uma vez rompida pelo oportunismo execrável  de um canalha que dá pelo nome de Marta Soares.

As suspeições lançadas por tão abominável oportunista devem ser rapidamente desmascaradas por um rápido e transparente relatório sobre o acidente.

Por aquilo que se sabe até agora, o acidente foi provocado pelas más condições atmosféricas e de visibilidade, e a sequência dos contactos para se iniciar as buscas obedecem aos critérios em vigor na aeronáutica.

Mas mesmo que o socorro fosse rápido, já não havia nada a fazer perante a violência do acidente.

Quanto muito, a haver falhas de comunicação, talvez tenham sido provocadas pelo boicote levado a cabo pela Liga de Bombeiros dirigida por aquela execrável criatura, daí talvez a pressa com que veio para a comunicação social a lançar bitaites sobre a tragédia, eventualmente para disfarçar uma eventual responsabilidade que aquele boicote teve no atraso ao socorro!!???

É uma vergonha o oportunismo serôdio de tão infame personagem, uma vergonha até para os digno e respeitáveis profissionais que ele diz representar.

Espero que os bombeiros, que merecem o máximo respeito de todos os portugueses, se libertem rapidamente de tão infame “representante”.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A “Mensagem” de Macron (com o aval da UE): “Querem redução de impostos e aumento de ordenado? Partam montras e incendeiem carros”!!!



O “populista” do “centro”, Macron, deu ontem uma machadada final no que restava da sua credibilidade ao anunciar subidas de salários na ordem dos…cem euros!

Recordo aqui o “escândalo” que foi (e ainda é), no seio de toda a burocracia de Bruxelas e no pessoal do sector financeiro europeu, e entre comentadores de serviço, quando em Portugal o governo anunciou um misero aumento num misero salário mínimo, que ronda agora os 600 euros.

Em França, um país que tem a mesma moeda que Portugal e que está sujeita às mesmas “obrigações” impostas por Bruxelas, o “populista do centro” Macron, ao “estilo Maduro”, anuncia uma subida de 100 euros no salário mínimo (que por lá ronda uns 1 400 euros) e as anteriormente virgens ofendidas de Bruxelas mantêm-se em total silêncio.

Além disso, todas as medidas anunciadas por Macron, e que vão ser financiada pelo Estado francês, vão fazer disparar o deficit e a dívida francesa para níveis que vão ultrapassar as imposições do PEC.

A credibilidade de Bruxelas fica assim, igualmente posto em causa.

Com que autoridade podem agora exigir cumprimento de deficits a países com salários, pensões e direitos miseráveis como em Portugal, face às promessas de Macron?

Poro outro lado, com que credibilidade se podem manifestar contra o orçamento italianos, se se mantiverem em silêncio face ao anuncio de Macron?

A mensagem de Macron, com o aval do silêncio das instituições financeiras da União Europeia , só quer dizer uma coisa: quando os cidadãos europeus quiserem salários justos, pensões acima do miserável e manter direitos “devem ir para a rua partir montras e queimar carros”, pois só assim é que os burocratas de Bruxelas aceitam aumentar o deficit e a dívida.

Afinal, ao que parece, para salvar “amigos” é possível desrespeitar o deficit e até há dinheiro para aumentar salários e pensões, ao mesmo tempo que se baixam impostos!

É caso para dizer: “Força Itália”!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos



Passam hoje 70 anos sobre a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Num mundo cada vez mais dominado por mensagens de ódio e intolerância e por uma economia predadora do homem e da natureza, é importante recordar a existência dum documento como esse, hoje mais actual do que nunca.

O documento surgiu como tentativa de responder a um novo paradigma de convivência humana, depois de terminado um período de guerras devastadoras e de genocídios que puseram em causa principio civilizacionais.

Esse documento esteve igualmente na base da construção da ONU.

Infelizmente em muitos casos a sua aprovação não passou de pura retórica.

São raros, ainda hoje, os países onde se aplica a totalidade desses princípios.

Alguns aplicam apenas as partes que lhe convém, esquecendo tudo o resto.

Esse documento alia princípios básicos e históricos de Direitos Humanos (Igualdade, democracia e liberdade) com Direitos Sociais (como o direito ao trabalho e a um salário justo, por exemplo, ou o direito à saúde, à educação e à habitação).

A actualidade desse documento, que devia ser ensinado nas escolas e integrado nas Constituições de países democráticos (como, aliás, acontece na Constituição Portuguesa), reside, por um lado em serem ainda raros os casos em que é  aplicada na integra e de forma consequente e, por outro, no de vivermos um período histórico em que as lideranças das nações mais poderosas estão entregues a gente que desrespeita todos os dias os princípios consignados nesse documento.

Existe, aliás, um crescente movimento que defende a revisão desse documento, que, pesem as boas intenções de alguns, só pode resultar na redução e no desvirtuar dos seus principio, principalmente quando temos na liderança de países que dominam o conselho de segurança da ONU uma maioria de lideres que não oferecem qualquer garantia na preservação e concretização daqueles direitos.

Além disso, as actuais lideranças mundiais estão sobre forte pressão de sectores financeiros que desprezam os valores democráticos, de liberdade e os direitos sociais, sempre que isso põe em causa os seus interesses, como se viu durante a crise de 2008 (o célebre TINA).

Não tenhamos dúvida que qualquer revisão que saísse das mãos dessa gente ia no sentido de limitar os valores democráticos, a liberdade e os direitos sociais.

Sendo aquele um documento de valor universal,  a melhor forma de o celebrar é,  em primeiro lugar conhecê-lo e estudá-lo e, em segundo, defendê-lo face a esses lobbies que o procuram desvirtuar e apaga-lo da memória colectiva.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Ecologia, transportes, Macron e ..."cavaquismo"!



Aparentemente, nada tem a haver com nada e tudo tem a haver com tudo!

Mas, hoje em França, Ecologia, Transportes e Macron tem tudo a haver com tudo!

Vamos por partes:

Em 1976 foi editado em Portugal o livro “Ecologia e politica” de  Michel Bosquet, hoje considerado precursor na defesa da ecologia.

O que retive da leitura desse livro, mais ou menos por essa altura, foi a sua denuncia do papel das grandes empresas petrolíferas no agravamento das condições de vida das populações, quer nos territórios de onde o ouro negro era extraído, principalmente no Médio Oriente, quer no agravamento das condições ambientais a nível global, pela promoção do transporte automóvel movido com derivados do petróleo.

Já então, os piores conflitos mundiais e as piores situações de miséria estavam associadas aos interesses financeiro e económicos ligados ao petróleo e ao sector energético.

Infelizmente, o tempo mostrou que, por um lado Bosquet tinha razão, por outros toda a geração de políticos que governaram o mundo nas décadas seguintes pouco se preocupou com a questão, ou revelou apenas uma preocupação retórica.

O neoliberalismo, que se tornou dominante como prática e pensamento económico a partir dos anos 80, agravou a situação, gerando a ilusão de um capitalismo popular, com convite a que se usufruísse do transporte individual em detrimento do transporte público.

Quem não caiu nessa armadilha que atire a primeira pedra.

Hoje, quando já começa a ser tarde para alterar o desastre ambiental para onde caminhamos, a situação agrava-se, com o mundo governado por políticos cada vez mais incompetentes e com a chegada ao poder, nos países decisivos para o ambiente, de ignorantes e arrogantes que põem em causa, não só o que os cientistas dizem sobre o clima, como o que os cidadãos já começam a percepcionar, no seu dia a dia, sobre o agravamento das condições de sobrevivência.

Em Portugal, o paradigma desse capitalismo popular, que levou os cidadãos a investir nos transportes privados em detrimento dos transportes público foi o chamado “cavaquismo”, que contaminou toda a população e toda a classe politica, promovendo a idéia de um enriquecimento rápido, à custa dos fundos europeus e da corrupção politica generalizada, à custa de grandes obras públicas que promoviam o uso do automóvel em detrimento do comboio e do transporte público.

Aliás, promoveu-se igualmente a idéia que o transporte público e o comboio era coisa de gente pobre e atrasada, de gente que não tinha aproveitado as “oportunidades” e que não era “competitiva” ou “empreendedora” e o uso do automóvel passou a ser uma questão de estatuto social e exibição.

Com isso agravaram-se as contas públicas, com a importação em massa de automóveis (beneficiando alemães e franceses) e  com o aumento da nossa dependência energética face aos grandes interesse petrolíferos que geraram esquemas de corrupção politica em larga escala, com ligações suspeitas a grupos angolanos, brasileiros e venezuelanos, situação ainda hoje mal esclarecida.

Hoje percebe-se que destruir, não só o sector produtivo nacional em nome dos fundos europeus e dos interesses financeiros dos países que dominam a Europa (França e Alemanha), mas também todo o sector de transportes públicos, em especial o ferroviário, foi um erro catastrófico, quer do ponto de vista ambiental, quer do ponto de vista financeiro, que vamos pagar durante décadas.

A aposta nos transportes públicos, mais eficientes do ponto de vista energético, ambiental, económico e em rapidez, é a única com futuro na Europa.

Alguns países já perceberam isso e investiram em força no TGV e nas energias alternativas para o transporte automóvel.

Anuncia-se, por exemplo, que o Luxemburgo vai tornar gratuito o transporte público.

Infelizmente, as medidas radicais na área dos transportes que são necessárias tomar para travar o desastre ambiental, pecam por tardias e por falta de alternativas credíveis.

Depois de décadas a empurrar os cidadãos para o uso do transporte individual, agora é difícil convencer esses mesmos cidadãos a mudar de rumo.

Para os convencer era necessário tomar as decisões há muito tempo adiadas, como a radical substituição da gasolina e do gasóleo por energias limpas, situação que é tecnicamente viável, mas que tem sido travada pelos grandes interesses da industria automóvel e, principalmente, da industria petrolífera, ou a criação de uma rede de transportes públicos viáveis, capaz até de concorrer com o transporte aeronáutico.

Foi isso que, atabalhoadamente, Macron tentou fazer em França, aumentando os impostos sobre o gasóleo e o uso do automóvel, mas esquecendo-se de antes, por um lado criar alternativas viáveis, como, por exemplo, a que vai ser seguida no Luxemburgo, e, por outro lado, saber fazer pedagogia em defesa do ambiente.

Ao lançar um fósforo ( o aumento do imposto sobre o gasóleo) sobre a “gasolina” ( o descontentamento crescente pelas suas medidas antissociais para agradar ao sector financeiro que domina em Bruxelas) Macron, não só comprometeu o seu futuro politico ( e provavelmente o da Europa), como “queimou” uma medida justa, que é a de limitar o uso do transporte privado e dos derivados do petróleo.

Aliás, Macron só cedeu naquilo em que não podia ceder, o imposto sobre energias poluentes, e com isso já perdeu.

Os políticos e o sector financeiro podem adiar decisões urgentes, mas o ambiente não vai esperar.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A extrema-direita à nossa porta.



A Andaluzia é uma das regiões espanholas que partilha uma grande parte da nossa fronteira com a Espanha e é uma das regiões que, a par da Galiza, mais contactos mantém com Portugal.

A população dessa província espanhola , 8 milhões de habitantes, é quase tanta como a totalidade da população portuguesa e elegeu um número inédito de deputados da extrema-direita, do partido Vox, para o parlamento local, dando assim um forte incentivo ao crescimento nacional desse partido, recém criado, e que dá voz à extrema direita espanhola, até agora muito marginal ou dissolvida no PP.

Para os comentadores que, até há pouco tempo, juravam a pés juntos que a Península Ibérica não seria contaminada pelo fenómeno do populismo da extrema-direita, argumentando como justificação para isso a vacina dos povos ibéricos contra essa mesma extrema direita, por causa de se terem livrado recentemente de duas ditaduras dessa área política, o resultado do Vox destruiu esse argumento.

O crescimento da extrema direita por cá só espanta quem anda mal informado e afastado das “massas”.

Basta ouvir as conversas de rua e ler os comentários das redes sociais para se perceber que o caminho está aberto para o aparecimento de um qualquer “salvador” e populista da extrema-direita.

Em Espanha foi o descalabro do PSOE e do PP que muito contribuíram para o “fenómeno”.

Na Andaluzia os socialistas, que dominavam a região há 36 anos, apesar de ganharem as eleições, perderam centenas de milhares de votos, principalmente par a abstenção, e não têm maioria para governar, face à soma dos partidos da direita (“Cidadanos”, PP e Vox), estando o caminho aberto para uma “geringonça” de direita, com o Vox a crescer em protagonismo e a lançar-se para um bom resultado a nível nacional já nas eleições para o parlamento europeu.

O PSOE da Andaluzia representa o que há de mais corrupto nesse partido e apresentaram uma candidata que é uma espécie de equivalente local de José Sócrates!

Por sua vez a facção liderada pela candidata local, a principal adversária interna de Pedro Sanchez, representa a tendência socialista que, um pouco por toda a Europa, abdicou dos seus princípios para se render ao poder financeiro e ao neoliberalismo, com o resultado que todos conhecemos.

Fartos dessa gente, os eleitores da Andaluzia quiseram varrer o PSOE, dando assim aval ao crescimento do extrema-direita.

Mas também o PP e o “Cidadanos” saíram derrotados da contenda, o primeiro deixando fugir grande parte do seu eleitorado para a extrema-direita. O Vox tem, aliás, origem numa cisão do próprio PP, que deixou cair a máscara democrática, mostrando que a origem do próprio PP  enraíza na falange franquista.

O “Cidadanos” que nunca se demarcou do próprio PP, mostrando que não passa de um PP.2, ficou também muito aquém do seu objectivo, que era o de ultrapassar o PP, começando provavelmente aqui o esvaziamento de um projecto “cheio de nada”!

Claro que o Vox ficou longe dos três mais votados, mas o simples facto de conquistar 12 lugares no parlamento andaluz vai dar-lhe uma visibilidade nacional que o irá catapultar para outros voos.

A corrupção que tem minado os regimes democráticos, devido à rendição dos partidos históricos aos mais obscuros interesses financeiros, a forma como a União Europeia lidou com a crise financeira, lançando no desespero milhões de cidadãos só para salvar esse mesmo sector financeiros e os “mercados”, e o grave problema da emigração, despoletado pela forma como o ocidente lidou com África e o Médio Oriente nas últimas décadas, contribuindo para a miséria do continente negro e as guerras no mundo de maioria muçulmana, contribuíram para acordar o monstro adormecido que era até há pouco tempo o populismo de extrema-direita.

Portugal passa a ser um caso isolado, até na Península Ibérica, mas o vírus que já anda à solta nas redes sociais, não demorará muito a espalhar-se pela frágil democracia portuguesa.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Nem Macron, nem Le Pen…nem, muito menos, os mais extremistas “coletes amarelos”!



Costuma-se dizer que é nas  curvas apertadas que se destacam os bons condutores.

Frase que se pode aplicar aos políticos: é nas curvas apertadas da história que se revelam os grandes políticos.

Existem alguns grandes exemplos: Churchill na 2ª Guerra, De Gaulle no Maio de 68, Mandela na África do Sul, ou Gorbachev na União Soviética…e não me lembro de muitos mais.

Infelizmente para a França, e a prazo para a Europa, Macron revelou-se um politico incapaz de enfrentar os graves conflitos sociais que o seu país enfrenta.

Ao querer tornar-se o menino bonito da Europa da austeridade, dominada pelo poder financeiro, sonhando substituir Merkel como líder do projecto europeu, revelou-se, pela forma como tem lidado com os “coletes amarelos”, um politico medíocre e incapaz, uma ténue sombra da líder alemã.

Macron domina na retórica, mas revelou-se incapaz de perceber que a França vive, há décadas, uma grave crise social e de identidade, que explodiu agora em violência com base numa reivindicação quanto a nós injusta: contestar o aumento de impostos sobre o uso do gasóleo (quando outros países, com a Alemanha, anunciaram a proibição, a prazo, do uso desse combustível, uma das formas de travar o desastre ambiental para onde caminhamos a passos largos).

Essa reivindicação é injusta, mas Macron mostrou-se incapaz de explicar a necessidade de travar o uso do gasóleo e até, a prazo do automóvel a gasolina e, em vez de se revelar um politico hábil, regou o fogo com gasolina, e o resultado, lamentável, está à vista.

Não percebeu que, por detrás do pretexto do aumento de impostos sobre o gasóleo, está uma realidade social cada vez mais perigosa.

Os próprios “coletes amarelos” conseguiram aproveitar o destaque dado ao seu movimento para juntar 41 reivindicações, todas de grande justiça do ponto de vista social, mas Macron não respondeu a uma única delas, mantendo-se fiel ao programa “austeritário” e anti social com o qual pretende agradar aos burocratas de Bruxelas e ao corrupto mundo financeiro europeu.

Rapidamente o moribundo movimento de Le Pen encontrou neste movimento o colete de salvação e colou-se à revolta, como se alguma vez, chegada ao poder, pudesse garantir as 42 reivindicações dos “coletes amarelos” (hoje reveladas no jornal “Público”) todas elas contrárias aos princípios e ideologia da extrema-direita francesa.

Por isso não será de estranhar que, por detrás da violência vivida Sábado em Paris, estivessem conhecidos elementos da extrema-direita, dando assim um grande contributo para desviar as atenções para as legitimas reivindicações dos “coletes amarelos”, colando-os à violência gratuita habitual nas manifestações, em França, da extrema-direita, que contaram com o apoio irresponsável de grupúsculos de extrema-esquerda, para permitir a Macron aparecer como o equilibrista, que afinal não é.

Deixando-se infiltrar por provocadores extremistas, o justo movimento dos “coletes amarelos” corre o risco de se descredibilizar junto da opinião pública e de reforçar o discurso de “ordem” da extrema-direita.

As próximas manifestações dos “coletes amarelos” terão de ser uma esmagadora manifestação cívica, isolando os provocadores. Caso contrário ficam à mercê da estratégia da extrema-direita francesa e contribuem para reforçar Macron na aplicação das medidas antissociais que ele preconiza, conduzindo a França, e a prazo o que resta do “europeísmo”, para um abismo sem saída.