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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Manuel Pinho, entre "promotor" do populismo e "coveiro" da democracia


Manuel Pinho é mais um que tem muito que explicar, (ver AQUI reportagem da Visão), contribuindo com mais um prego para o caixão da democracia e para promover o populismo, com o seu oportunismo e falta de vergonha cívica...é caso para dizer...com "amigos" destes o sistema democrático não precisa de inimigos...

Mas Manuel Pinho e o governo que o promoveu não são os únicos que devem uma explicação ao "povinho" (já para não falar no que terá de responder em tribunal) .

Ele é fruto dos tempos do “centrão” que “produziu”, primeiro à sombra do cavaquismo e depois do socratismo, casos como o BPN, o BPP,o BES, Caixa Geral de Depósitos, Tecnoforma, e tantos outros que nos conduziram à bancarrota e abriram caminho ao oportunismo populista do “ir além da Troika” do “passos-coelhismo”.

Deve-se a Pinho uma das frases mais escabrosas da história da democracia, quando, numa visita de negócios à China, apontou como uma das “vantagens” para se investir em Portugal a nossa “mão-de-obra barata”.

O tempo das negociatas entre banqueiros e políticos, e dos jogos de influência entre grandes empresários e ministros, que circulam do poder politico para o poder económico e vice-versa, com uma perninha como “visitor teacher” numa qualquer universidade, a quem devem favores e que forma as elites financeiras que nos conduziram à situação actual, deve ser definitivamente enterrado, para bem da democracia e para enterrar de vez o oportunismo populismo que se espalha como um vírus à sombra destes casos que, mais do que de politica, são casos de policia.

Até 31 de Maio, no Museu Bordalo Pinheiro em Lisboa: “Animais à Solta” de Augusto Cid.

BêDêZine: “Animais à Solta” de Augusto Cid.: Está patente ao publico, no   Museu Bordalo Pinheiro, no Campo Grande (ao lado da Universidade Lusíada) uma exposição com cartoon’s de Augusto Cid.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Se o 25 de Abril se cumpriu…vamos cumprir o…26 de Abril! (3 "ensaios")


I
Neste texto não vamos ter a preocupação do rigor factual, procuramos antes reflectir sobre aquilo que, para nós, significa essa data e o que dela ainda permanece.

Se existe consenso generalizado sobre o 25 de Abril é o de que esse dia foi o dia do início da Liberdade que conduziu à construção da Democracia, o tal “dia inicial inteiro e limpo” de Sophia de Mello Breyner .

A partir daí começaram a separar-se as águas, pois o conceito de Liberdade e Democracia variava muito conforme as ideologias, a cultura e a experiência de cada um.

Para mim a liberdade só existe se, como canta Sérgio Godinho, houver “a paz, o pão, habitação, saúde, educação”  para todos, partindo de uma base mínima de condições de igualdade e dignidade.

Aliás, esses mesmos direitos estão consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento fundamental para discutir os conceitos de Liberdade e Democracia.

Mas também não podemos esquecer que as próprias revoluções liberais dos séculos XVIII e XIX consignavam, em paralelo com a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

A liberdade de falar é a base, mas não é o limite nem o fim.

Também temos de ter presente aquela velha máxima segundo a qual a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros.

Hoje muita gente considera que a Liberdade está em risco. Parece-me uma preocupação legítima, face à forma como procuram impor aos portugueses, como inevitável, um caminho único de crescente empobrecimento, ou como a comunicação social é hoje controlada pelo poder financeiro.

A liberdade de imprensa é a base da liberdade de opinião nas sociedades modernas, mas hoje, quando só se consegue chegar e informar o público em geral através de meios de comunicação social que exigem gigantescos meios financeiros para subsistirem, meios esses que só são possíveis com o aval do poder financeiro e de grandes empresas, essa liberdade parece correr graves riscos.

É essa situação gravosa que está na base da construção do actual pensamento único neoliberal que procura condicionar qualquer alternativa às actuais opções económico-sociais que estão a conduzir ao alargamento das desigualdades, à perda de direitos sociais, ao empobrecimento generalizado, que se anuncia como programa de décadas e gerações.

Hoje, quem quiser fazer ouvir a sua opinião, com alguma influência, ou afina pelo diapasão que domina essa ideologia e a comunicação social assim controlada pelo poder financeiro, ou não consegue chegar a quase ninguém , por muita razão que tenha.

Nesse aspecto, e apesar da censura do Estado Novo, antes do 25 de Abril, embora com grandes riscos financeiros e pessoais, era possível lançar um órgão de comunicação social independente, como aconteceu com jornais como o “República”, o “Diário de Lisboa”, “A Capital”, a “Vida Mundial” ou o ”Expresso”.

Hoje não existe um órgão de comunicação social, com influência, que possa destoar totalmente da ideologia neoliberal que nos estão a impor, porque não obteria meios financeiros para sobreviver (mesmo o citado “Expresso”, fundado naquele tempo, já perdeu o seu carácter independente e é hoje mais um porta-voz bem-comportado desses interesses).

Claro que há liberdade de falar e escrever, mas a maior parte da comunicação social, cada vez menos jornalística e mais opinativa, enche as suas páginas ou os seus écrans com ideólogos dessa ideologia, mesmo com pequenas nuances de pensamento, para dar uns ares de “pluralismo” (aquilo que eu já chamei de "pluralismo do pensamento único"), ou convidando alguém que pensa de forma diferente, mas que está sempre em minoria e fica sujeito ao massacre ideológico dessa maioria de comentadores.

A Liberdade formal não está em risco, mas a liberdade de se desenvolver um pensamento desalinhado, inovador e criativo, com consequência na opinião pública, esse, de facto, está em perigo.

E, com o risco que corre a verdadeira liberdade, é a própria Democracia que corre riscos.

Claro que, também neste caso, a Democracia formal parece segura.

Mas também aqui existem divergências sobre o sentido da Democracia.

Se se entender a democracia como o mero acto de despejar o voto numa urna, então podemos dizer que a Democracia está consolidada.

Claro que a existência de Partidos e de Eleições livres é a base sem a qual não existe Democracia.

Mas esta não acaba aqui, nem termina com a divulgação dos resultados eleitorais.

Aliás, vendo a coisa por esse prisma, Yanukovich na Ucrânia, Putin na Rússia,  Maduro na Venezuela, Erdogan na Turquia, ou Órban na Hungria são “verdadeiros democratas”, para citar apenas os casos mais emblemáticos.

Pelo contrário, não deixa de ser paradoxal que uma União Europeia, que nasceu da democracia dos seus povos, tenha um presidente do Conselho, uma Comissão Europeia e um Banco Central ocupados por gente que nunca foi eleita para esses cargos pelo povo europeu, mas que são aqueles que de facto decidem sobre a vida das pessoas, e que a sua única instituição eleita, o Parlamento Europeu, não passe de um “verbo de encher”, sem grandes poderes.

Mas mesmo que se chegasse ao consenso, segundo o qual a democracia acaba no dia a seguir às eleições, nunca se podia admitir que um governo eleito desrespeitasse as promessas e o programa político com que foi eleito, com a desculpa que não conhecia o estado do país quando toma posse do governo, que é o que acontece com frequência em Portugal.

Para além de mentiroso, um governo que ignora o estado do país devia ser demitido no dia seguinte por se deslegitimar, pois, não só o compromisso eleitoral é para ser levado a sério, como não se pode admitir que, quem se apresenta para governar um país possa revelar tanta ignorância sobre o mesmo.

Por outro lado, os próprios partidos políticos, que estão na base da democracia, funcionam quase todos internamente de forma pouco democrática. Quase não existe debate interno, todos recorrem a purgas constantes dos indesejáveis e os seus dirigentes são escolhidos nos bastidores da intriga política antes de serem sufragados em congressos previamente preparados para a propaganda.

Se o 25 de Abril se fez para restituir a Liberdade e construir a Democracia, então é caso para dizer que ainda há muito 25 de Abril por construir.


II

A Liberdade foi o principal feito do 25 de Abril.

A partir dessa data, cada um pensou ser possível construir o país que imaginava, daí ser tão difícil a unanimidade sobre a interpretação desse acontecimento.

Penso que o espírito de Liberdade e Esperança que varreu o país nesses dias distantes de 1974 é muito difícil de explicar aos que não o viveram. Daí a dificuldade em encaixar e interpretar esses acontecimentos à luz de um qualquer modelo teórico histórico-sociológico pré formatado
O 25 de Abril foi um golpe de Estado, uma revolução, uma festa? É comparável à Tomada da Bastilha, à Revolução Russa, à libertação do pós-guerra, ao Maio de 68? Foi tudo isso e…nada disso!

O ponto de partida foi para encontrar uma solução para a Guerra Colonial, juntando-se, por influência de alguns militares mais esclarecidos, o objetivo de conquistar a liberdade e a democracia.

Mais tarde aplicou-se o objetivo dos três D’s: Descolonizar, Democratizar, Desenvolver.

A Descolonização nem sempre correu bem. Seria difícil fazer melhor, dadas as contingências da época. Devido à teimosia do Estado Novo, a partir da segunda metade dos anos 60 qualquer descolonização pecaria por tardia e enfrentaria a situação trágica que lhe ficou associada, para além dos interesse político-estratégico-económicos que a condicionaram. Internacionalmente vivia-se o mundo da “guerra fria” e os interesse em jogo eram gigantescos para uma pequena nação como Portugal. De qualquer modo é de louvar o modo como o país, no meio de uma revolução, conseguiu absorver, sem grandes tragédias, cerca de meio milhão de portugueses oriundos das colónias e mais o regresso apressado de milhares de militares.

…Além disso, as jovens nações lusófonas começam, a pouco e pouco, a encontrar o seu caminho e a ultrapassar as dificuldades, apesar dos tropeções .

A Democratização foi cumprida, embora se possa discutir o monopólio dos partidos na sua construção e a fraca intervenção cívica da população, problema que não será estranho à trágica situação atual, mas que é também uma herança do autoritarismo cultural e educativo do salazarista. Um dos grandes feitos dessa democratização foi o aprofundamento do Poder Local que tem sido uma das componentes mais dinâmicas da vida democrática no pós 25 de Abril, apesar dos muitos casos de corrupção e compadrio em que tem caído.

O Desenvolvimento não terá sido o que muitos almejavam, mas, comparativamente como os 48 anos anteriores, o país conheceu grandes avanços nos últimos 38 anos. Basta comparar todos os índices económico-sociais, nomeadamente em áreas como as da saúde, da educação e do bem-estar em geral. Quem tiver visão curta pode não se aperceber dessas melhorias, até porque a última década tem sido de estagnação, assistindo-se a uma crescente tentativa de destruir tudo o que se conquistou em termos socias, com o regresso em força de velhos interesses, herdeiros dos mesmos que sustentaram a ditadura salazarista durante quase meio século.

Hoje muitos se interrogam se será necessário um novo 25 de Abril. Para mim o essencial do 25 de Abril , com avanços e recuos, vai sendo cumprido, mas será aquilo que quisermos fazer dele, nomeadamente no aperfeiçoamento da democracia participativa e no combate à corrupção e às desigualdades que impedem o saudável desenvolvimento económico e social.

Hoje, para responder ao oportunismo contrarrevolucionário dos que defendem que se devia ir “além da troika” e as “reformas estruturais” (leia-se: redução dos direitos sociais, destruição do “Estado Social”, cortes nos salários e nas pensões, regresso à caridadezinha e à precariedade…)  nós, os que continuamos a acreditar na esperança e nas “portas que Abril abriu”, devemos responder-lhes, não com um novo 25 de Abril, mas contribuindo para construir um país… para “além de Abril”…

“Além de Abril” é respeitar a liberdade, defender o aperfeiçoamento da democracia e um desenvolvimento económico-social justo e sustentável, mantendo acesa a chama da esperança.

Só assim poderemos continuar a afirmar : “25 de Abril, Sempre”!


III

O essencial do 25 de Abril foi cumprido com êxito:

A DEMOCRACIA, associada à liberdade, foi o resultado imediato desse dia: acabar com a censura, extinguir a PIDE, libertar os presos políticos, permitir o regresso dos exilados, legalizar os partidos e convocar eleições livres.

Há quem defenda que, para haver “apenas” democracia, não seria necessária uma revolução, e, mais tarde ou mais cedo, ela seria “outorgada” pelo regime, que, tal como em Espanha, se reformaria por dentro.

Quem isso defende, revela um grande desconhecimento da História.

Entre 1945 e 1974, foram várias as ocasiões em que o regime, se o quisesse, podia enveredar pela reforma do sistema. Teve oportunidades, teve gente com vontade para o fazer, mas o resultado foi o que se viu: vejam o que aconteceu aos dirigentes do MUD, a Humberto Delgado, aos “liberais” do marcelismo...

Por sua vez a Espanha, que não tinha o problema colonial, só enveredou pela reforma, já depois de o PREC ter acabado em Portugal, tendo as elites dirigente do regime franquista, após a morte do “caudillo”, democratizado o regime, em parte devido à acção do monarca escolhido para dirigir o país, em parte por recearem um PREC espanhol, em parte por estarem frescos os horrores de uma guerra civil, e em parte, porque não dizê-lo, porque a elite franquista era mais inteligente que a elite salazarista.

Só por estupidez, ignorância ou má fé, se pode comparar o que não é comparável.

A DESCOLONIZAÇÃO foi a razão imediata para a acção dos militares: acabou-se com a guerra, deu-se a independência às colónias, manteve-se a ligação cultural com os países que resultaram dessa atitude.

Os horrores que algumas das novas nações de língua portuguesa conheceram após a independência devem-se à imaturidade das suas elites dirigentes, ao envolvimento das grandes potências de então e ao próprio drama endémico do continente africano, já não falando dos erros dos colonialistas.

Se tivesse havido vontade de fazer alguma coisa pelos povos africanos (e timorense), tinha-se feito aí pelos finais dos anos 50, início da década de 60. A atitude do Estado Novo, em relação ao “federalismo” preconizado por políticos e militares mais “liberais”, ligados ao regime, impediu um processo de transição pacífico. Quando se dá o 25 de Abril já era tarde demais para uma saída diferente.

O DESENVOLVIMENTO, ficou consagrado no combate aos grupos económicos que tinham florescido à sombra da ditadura, que também era uma ditadura económica e social, no acesso à educação, à saúde, à liberdade sindical, aos direitos sociais (reforma, subsidio de desemprego e de férias, direito ao descanso e ao lazer). As estatísticas aí estão para o comprovar.

Se continuamos na cauda da Europa em muitos indicadores, não é ao 25 de Abril que o devemos, mas exactamente ao desvirtuar de muitas das dinâmicas económicas e sociais levadas a cabo nos primeiros anos de democracia, permitindo o regresso de práticas económicas e sociais do antigo regime, como o desrespeito pelo trabalho, a aposta nos salários baixos, a valorização social na especulação financeira e do consumo, que têm vindo a agravar, nos últimos anos, a desigualdade social, a perde de direitos sociais, o empobrecimento generalizado.

O que falta cumprir não é, pois, o 25 de Abril, mas, parafraseando Eduardo Lourenço, o 26 de Abril:

É necessário Democratizar, os próprios partidos políticos.

A política tem de deixar de ser uma “profissão” ou uma “carreira”, para se transformar numa actividade cívica, na qual os cidadãos sintam vontade de participar activamente.

A democracia e a política precisam de uma “revolução ética” .

Para isso a Justiça tem de funcionar, as leis têm de ser claras, os inocentes devem ser inocentados de forma clara, sem ambiguidades processuais, e os criminosos e corruptos devem ser condenados, sejam eles poderosos ministros ou ex-ministros ou “simples” autarcas.

Só assim se pode restaurar a confiança perdida, nos últimos tempos, entre os cidadãos e a política democrática.

É necessário Descolonizar as nossas relações com os novos países de língua portuguesa, olhando para eles sem complexos, apoiando o seu desenvolvimento, fomentando as suas relações com a Europa, mas, igualmente sem complexos, denunciar, olhos nos olhos, os políticos criminosos e corruptos dalguns desses países.

Deixemos de ver a nossa relação com esses povos irmãos como um mero e lucrativo “negócio”, mas como um fraterno e prometedor relacionamento histórico-cultural.
E, de uma vez por todas, assumamos a prioridade no relacionamento cultural, político e económico com essas jovens nações, em paralelo com a importância que tem para nós a integração europeia.

É necessário, também Desenvolver o nosso país, combatendo as desigualdades, valorizando a educação a cultura e o património, experimentando novas formas de relacionamento entre empresas e trabalhadores, combatendo o enriquecimento ilícito e especulativo, apostando em soluções ambientais no desenvolvimento energético, industrial e agrícola.

É preciso aproveitar este momento de crise para questionarmos o tipo de desenvolvimento dos últimos anos, que assentou, quase exclusivamente nas obras públicas e na especulação financeira, e na litoralização à custa da desertificação do interior.

É preciso criar alternativas à macrocefalia “lisboeta- portista”, pondo em andamento uma verdadeira regionalização, cuja falta tem vindo a destruir, económica, cultural e socialmente o resto do país.

Acima de tudo, é preciso não desistir de Portugal.

Os “capitães” cumpriram o 25 de Abril. Cabe-nos a nós fazer cumprir “o dia seguinte” !

domingo, 22 de abril de 2018

A SIC ao serviço de …José Sócrates (!!!???).



Pela minha parte não tenho qualquer dúvida sobre a falta de ética de José Sócrates.

Também acredito que muitas das acusações que se conhecem contra ele são verdadeiras.

Sobre o que penso de José Sócrates, basta explora os nossos tags sob a designação de “anti-Sócrates”, publicado desde que este blog nasceu, em 2008.

Já me questiono é sobre a mediatização do caso.

Aquilo que vi nas reportagens da SIC não mostra nada de novo em relação ao que já se sabia.
A única diferença reside no apelo ao mais reles voyeurismo para aumentar audiências, explorando o mais abjecta tentação do populismo “anticorrupção”. Também já aqui desmascaramos esta tentação num nosso post anterior.

A única coisa de novo foi uma visita às casas de luxo onde viveu José Sócrates em Paris, facto conhecido, mas que agora ganha contornos de “casa dos segredos”.

A outra coisa foi assistir à divulgação ilegal dos interrogatórios, cujo conteúdo já era há muito conhecido, com a diferença que agora assistimos aos mesmos ao vivo, com se de uma telenovela se tratasse.

Aliás, uma jornalista gabava-se e assumia em directo, na SIC, a ilegalidade que cometeu, mas justificava-a com o “interesse público”.

Sempre detestei aqueles que justificam o mau-gosto, a mediocridade e a ilegalidade em nome daquilo que eles acham que é “O gosto do povo” ou como o “interesse público”, como se os jornalistas estivessem acima da lei…

Se, para mim, essas reportagem apenas serviram para aumentar audiências, num canal que atravessa graves dificuldades financeiras, para José Sócrates serviu para se agarrar à ilegalidade do acto e desacreditar a justiça, como já começou a fazer.

Pela minha parte, distingo três coisas: a antipatia que sempre nutri por José Sócrates; a corrupção ética dos actos de José Sócrates (não muito diferente de outros políticos do “centrão”); a necessidade de um julgamento honesto, transparente e fundamento sobre os actos de corrupção de que é acusado.

Não sendo comparável o tipo de ilegalidades de que é acusado José Sócrates que, a provarem-se, devem resultar em penalização exemplar, com o tipo de ilegalidades da SIC, ambas partem de uma mesma origem: a generalizada falta de ética que os envolve a todos, políticos acusados e jornalistas e, até ver, a própria justiça.

Quanto a mim, involuntariamente, ao gabar-se da ilegalidade da divulgação dos interrogatórios, cujas imagens só podem ter sido obtidas com a conivência dos juízes envolvidos, os jornalistas da SIC prestaram um bom serviço a José Sócrates.

Mesmo que esteja queimado politicamente, talvez Sócrates consiga safar os seus milhões e o seu estilo de vida, porque, agora quem fica em cheque é o próprio tribunal, que, além de ter de demonstrar que não pactuou com a ilegalidade da SIC, terá agora de apressar a investigação e o julgamento para mostrar que não resolveu facilitar a vida aos jornalistas porque se encontra num impasse no que se refere à prova dos crimes.

Seguem-se cenas dos próximos capítulos…

sexta-feira, 13 de abril de 2018

quarta-feira, 11 de abril de 2018

REDES SOCIAIS : Entre a manipulação e democracia.



O papel das redes sociais na divulgação de mentiras e na promoção do ódio e da ignorância tem sido um dos mais vivos temas de discussão.

O debate não é muito diferente daquele que, desde o século XIX, de faz sobre a massificação da comunicação social, desde a expansão do jornalismo no século XIX por obra das grandes inovações das técnica tipográficas, passando pela expansão do cinema e da rádio, no inicio do século XX, até à expansão da televisão no pós-guerra.

Perder o controle da comunicação e da palavra, democratizando-a, sempre incomodou as elites e os poderosos de todos os tempos.

A questão é sempre a mesma. A expansão desses meios de comunicação, ao mesmo tempo que expandia e democratizava o acesso à informação, tornava-se uma forma cada vez mais eficaz de manipular essa mesma informação ao serviço de ideologias antidemocráticas.

O nazismo e o stalinismo foram os exemplos mais gritantes dessa nova realidade.

Hoje as redes sociais são o meio privilegiado dos novos demagogos, e, porque não dizê-lo, dos novos fascismos deste inicio de século. Trump e Putin são os melhores exemplos do poder de manipulação dessas redes sociais.

Mas, tal como aconteceu com a imprensa, o cinema, a rádio ou a televisão, as redes socias vieram para ficar e não é limitando-as, com um novo tipo de censura, que se combate o seu lado negro.

As redes sociais são uma ferramenta. O seu conteúdo depende de quem as usa e do objectivo como é usado.

Manipulação, mentira, falácia, mau-gosto, ignorância, ódio,  intolerância e demagogia também existiram e existem nos outros meios de comunicação.

A diferença é na dimensão e na rapidez da expansão de todas essas atitudes perversas e perigosas.

A liberdade, a democracia e a verdade não podem recorrer à censura para evitar os abusos, mas podem combate-los com melhor informação, denunciando e combatendo, taco a taco, essas perversões.

Este é um combate diário de todos os que abominam a manipulação, a mentira, a falácia, o mau-gosto, a ignorância, a intolerância e a demagogia.

Esse combate é uma obrigação daqueles que, usando as redes socias no sentido de divulgar e esclarecer, apresentar vozes diferentes, mostrar outras realidades, debater de forma ponderada os temas do momento, acreditam que as redes sociais podem tornar-se, maioritariamente, o grande porta voz da democracia e da liberdade.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Basta gritar “corrupto” para ser corrupto?



As redes sociais proliferam de acusações de Corrupção e de debates sobre quem é mais ou menos corrupto, com frases pequenas, cheias de insinuações e insultos, esquecendo-se de um pormenor: a presunção de inocência.

Mas para os demagogos que proliferam nas redes sociais pouco interessa a verdade ou a mentira e muito menos a discussão serena.

Uma comunicação social sensacionalista, misturada com uma classe politica despida de valores éticos e uma ignorância generalizada são o terreno fértil para a proliferação de demagogos e populistas.

Claro que foi uma geração de políticos, formados nas “jotas” e na manipulação de fundos europeus, oportunistas de carreira, exibindo a vaidade para disfarçar o vazio de ideias e sempre prontos a fazer favores a qualquer negociante engravatado a nadar em dinheiro, que deu o mote aos demagogos que dominam as redes sociais.

Claro que a corrupção é um grave problema nas democracias actuais. É mesmo um perigo, a prazo, para a própria sobrevivência da democracia.

Claro que não existe uma “corrupção de direita” e uma “corrupção de esquerda”, nem a corrupção do meu “amigo” é melhor que a do meu “inimigo”.

Os “gritadores” das redes socias, “impolutos”, sempre prontos a apontar  a “corrupção do vizinho” e a desculpar a “corrupção lá de casa” dividem-se em  grupos:

-aqueles que confundem campanhas de desinformação com verdade dos factos. Antes de alguém ser julgado, encontra escarrapachado todo o processo nas primeiras páginas dos jornais sensacionalistas. Apesar de dar uma má imagem da justiça portuguesa e dos jornalismo que assim actua, tudo vale para vender jornais e para um qualquer juiz ganhar protagonismo mediático. Mesmo que se venha a ser provada a inocência, o visado acaba ali a sua vida pessoal;

-aqueles que nivelam igualitariamente o presidente  da junta que faz um favor a um amigo, o vereador que passa por cima da burocracia  para acelerar uma obra necessária, um ministro que desvia fundos públicos ou toma decisões para favorecer uma empresa para onde vai trabalhar quando abandona a politica, até ao burocrata de Bruxelas que toma decisões que prejudicam os cidadãos para salvar bancos corruptos. Tudo isto é condenável, mas nem tudo pode ser colocado ao mesmo nível;

- aqueles que confundem “corrupção” com o que é eticamente condenável. Uma situação pode ser eticamente condenável, mas pode ser legal. Toda a austeridade que sofremos para salvar bancos e banqueiros “corruptos” era eticamente reprovável…mas era legal. O problema aqui reside muitas vezes na ambiguidade da lei, que protege o grande corrupto, que tem dinheiro para arrastar processos até à sua prescrição e para pagar a bons advogados que o “safem”, enquanto o “pequeno” corrupto acaba desfeito nas malhas da lei;

-aqueles que acham que a culpa é da democracia e que “antigamente” (leia-se, por cá, no tempo de Salazar) é que era bom. Esquecem-se que muito daquilo que é condenável em democracia, não o era em ditadura. Salazar construi o seu domínio alimentando uma oligarquia financeira e económica por meios que, à luz das leis actuais, seriam crime de corrupção, desculpando ou silenciando a corrupção dos seus apaniguados e impondo-se aos tribunais que, em qualquer ditadura, seja qual for a sua cor politica, não são independentes da decisão dos ditadores.
E se, mesmo assim, o “caso” se tornasse público, lá estavam a Censura e a PIDE prontas a actuar para silenciar o “escândalo”. Na ditadura, ao contrário da democracia, “não existe” corrupção, nem pobreza, nem crime, porque tudo isso era proibido de divulgar, principalmente se, em causa, estivessem partidários da ditadura, na Salazarista ou noutra qualquer. A diferença é que, apesar de tudo, em democracia os tribunais, apesar de todas as pressões, ainda são independentes e não existe censura e tudo, mesmo o que pode ser mentira ou não provado, acaba no conhecimento público.
Mesmo aqueles que defendem que o ditador nunca foi rico, esquecem-se de que este, para além de proteger os corruptos do regime, não se tinha de preocupar com o dinheiro para pagar as suas contas, alguém pagava por ele. Aliás o ditador preocupava-se mais com a manutenção do poder do que com o dinheiro. E que maior acto de corrupção existe do que aquele que o manteve no poder, sem controle democrático, construindo leis e uma Constituição para o perpetuar no poder e ao seu regime, e que submeteu o país à miséria mais abjecta, um país que apresentava níveis de saúde e educação do terceiro-mundo e obrigou o país a uma guerra sem fim e desgastante, situações que ainda hoje todos estamos a pagar?

No Portugal democrático a corrupção não tem cor politica, embora atinja mais as formações politicas que estão próximas do poder, o chamado centrão.

A grande corrupção politica no Portugal democrático começou com o cavaquismo e a forma como foram geridos os fundos europeus que então chegaram em “barda” a Portugal. Não por acaso, quase todos os ministros desse tempo acabaram envolvidos nos grandes processos de corrupção (o BPN foi apenas a ponta do iceberg), embora se tenham “safo” quase todos graças à demora dos tribunais e à influência que exerceram sobre o poder judicial.

A grande corrupção politica agravou-se no tempo de Sócrates, estando ainda a decorrer processos sobre a actuação desse politico.
A mim não me surpreendeu a situação judicial de Sócrates. Não tenho grandes dúvidas sobre a sua falta de ética e sobre os crimes de que é acusado. O que me surpreende é como, usando os mesmos critérios para criminalizar esse antigo primeiro-ministro, não existem outros políticos do centrão  a contas com a justiça. Neste caso parece que estamos perante um caso de justiça selectiva. Outros aspecto estranho neste caso é a demora em levar esse politico à barra do tribunal, pois aquilo que veio a público já tinha dado vários processos. Aqui parece-me que o interesse não é fazer justiça mas usar um processo para fazer politica partidária. E não me venham falar na independência da procuradora, Joana Vidal. Desde que a vi “desfilar”, em pleno passos-coelhismo, numa Universidade (?) de Verão da JSD, que ficou tudo dito sobre a sua independência!!!

O governo de Passos Coelho não melhorou a situação. Além do constante espezinhar ilegal da Constituição para agradar aos “mercados” do corrupto poder financeiro, também têm vindo a público vários processos que o envolvem ou a ministros seus, mas que têm sido silenciados ou acabando prescritos, como o caso dos “submarinos” (este vindo do tempo de Durão Barroso), o caso dos vistos Gold, o “apagão” das finanças ou os esquecidos casos dos “Panama Papers” e da  Tecnoforma!!!!

Mas, muitas vezes, os grandes corruptos nem são os rostos mais conhecidos. Estes mantem-se muitas vezes no anonimato, manipulando a politica, as finanças e a economia. Basta consultar as listas de grandes devedores ao fisco ou dos que recorrem aos paraísos fiscais, onde proliferam os ilustres desconhecidos, alguns deles, acredito, testas-de-ferro de gente mais conhecida.

A corrupção existe, é o grande cancro da democracia, mas não se resolve com gritaria histérica, com sectarismo ou, ainda menos, com uma ditadura.