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quinta-feira, 28 de abril de 2016

UMA PRIMEIRA PÁGINA QUE É O RETRATO DE UM PAÍS

Olhamos para esta primeira páginas do jornal Público e vemos o Portugal de hoje.

Por um lado, uma iniciativa levada a cabo pela sociedade civil consegue, em poucos meses, angariar fundos para adquirir uma obra de arte fundamental para a nossa cultura.

Foram poucas as empresas e os bancos a contribuírem para essa iniciativa, com  honrosas excepções (como a Fundação Aga Khan, que contribuiu como um terço do seu valor, sem esquecer o Público, Fuel, RTP e o banco Millenium BCP).

Que se saiba, a esmagadora maioria das empresas cotadas em bolsa não deram um cêntimo...percebe-se, lendo o título de cima..andaram ocupados em desviar dinheiro para os offshores.

E este é o outro lado dessa primeira página.

Durante os anos da troika as grandes empresas deste país, tão "patrioticamente" gabadas pelo anterior governo e por Cavaco Silva, tiraram de Portugal 10 mil milhões de euros.

Sobre esta notícia ouvi hoje um comentário de um fiscalista tentando por àgua na fervura, dizendo que esse dinheiro já paga impostos em Portugal e também no local onde depositaram aqueles milhões (!!!).

Mas alguém acredita nisso? Ou será que os nossos grandes empresários são estúpidos ao ponto de pagarem duas vezes impostos para colocarem dinheiro fora do país? Ninguém desvia aquelas quantias sem tirar daí benefícios e os benefícios só podem ser ou para lavar dinheiro ilegal, ou para fugir aos impostos...senhores comentadores...não tomem os portugueses, e as empresas que pagam os seus impostos e trabalham, por parvos!!!.

Mas aquela primeira página mostra também porque é que alguma classe política anda arredada, por um lado, do apoio a iniciativas culturais como aquelas que referimos e, por outro lado endeusam as grandes empresas que fogem ao fisco, ao mostrar a ligação entre políticos e empresários corruptos, como aquele apanhado na operação "lava jato"....

Foi Há 575 anos : As Cortes de Torres Vedras de Abril e Maio de 1441

O "Sequeira" já é "nosso"!

A FORMA E A LUZ: O "Sequeira" já é "nosso"!: Foi ontem anunciado que a inédita campanha pública para aquisição da obra "Adoração dos Magos", de Domingos António de Sequeira conseguiu o seu objectivo (ler mais clicando em cima)...

terça-feira, 26 de abril de 2016

30 Anos Depois - Recordar Chernobyl (um texto de António Eloy)

(Madrid recorda hoje a tragédia de Chernobyl)

“Foi há 30 anos de Chernobyl

Por António Eloy

 “30 anos após a explosão, a explosão de um reactor, a catástrofe continua.

"Mais de 8 milhões de pessoas (a populacão de Portugal continental) vivem em territórios contaminados da Rússia, Ucrânia e Bielorússia, obrigadas a consumir quotidianamente produtos altamente contaminados.

"Entre essas numerosas crianças sofrem de cancros e leucemias, malformações e patologias cardio-vasculares.

“Os atentados ao património genético são hereditários e as autoridades minimizam descaradamente o número de vítimas, que segundo investigação dos profs Nesterenko e Yablokov, publicados em 2010 pela Academia das Ciências de Nova York já teriam atingido 985 000 (quase um milhão!) de falecimentos prematuros de 1986 a 2004. E o florescimento da natureza, flora e fauna é um mito dados os elevados níveis de contaminação e mutações que está a ocorrer.“

“Recordo como se fosse hoje.

“Estava dia 27 de Abril em Amsterdão, fazia então parte da direcção internacional do movimento ecologista #Friends Of the Earth#, quando nos chegou a notícia do acidente nuclear de Chernobyl que a ditadura soviética tinha procurado escamotear.

 “As radiações já atravessavam a Europa, milhares de pessoas começavam a ser evacuadas, muitas centenas, hoje muitos milhares já estavam, continuam hoje a caminho da morte.

“Em Lisboa tinha começado há alguns dias no mestrado de Economia de Energia um módulo com um técnico do Laboratório Nuclear do então INETI, com o qual tinha tido discussões ágrias, que tinham terminado com um definitivo “- não é possível um reactor nuclear explodir.” Da parte dele.

“Imagine-se a cara o sujeito quando voltei no dia seguinte e a notícia já era tema de todas as notícias.

“Pode, um reactor nuclear pode explodir. Claro que no quadro de uma imprevisível conjugação de circunstâncias todas elas negativas. Mas pode. É possível!

“Neste aniversário pouco mais há para dizer. A nuclear continua a tenta vender-se, continua a comprar mentes e encher bolsos, apesar de ser uma indústria a bordejar a falência, total. Mas será uma falência de muitos, muitos milhões e até lá continua a estrebuchar.

“A nuclear não é económica, não é ambientalmente limpa, seja no início do ciclo, a mineração de urânio, que como sabemos no nosso país ainda tem um legado de destruição ambiental, sofrimento e mortes na família mineira e nas populações das zonas circundantes, seja na produção,e recordemos Almaraz, aqui ao lado, com os problemas contínuos do seu funcionamento, os incidentes e acidentes inúmeros e agora, com o passar do tempo a insegurança crescente, a que o nosso ministro do Ambiente continua a fazer orelhas moucas,
mas não esqueçamos lutas árduas contra a nuclear em Portugal, Ferrel e todas as tentativas de nos colocar nucleares de Trás-os-Montes ao Alentejo, que tiveram oposição determinada, as lutas contra os despejos nucleares no Atlântico ou o cemitério nuclear de alta-actividade radioactiva de Aldeavila.

“Não podemos esquecer também o urânio enriquecido e os mortos, também portugueses no teatro de operações onde esse foi utilizado.

“Em todos esses casos, em todas essas lutas estivemos presentes.

“Hoje aqui deixo este testemunho. Para que não se repita (mas e Fukushima?), para que não se repita mais.

“Para que Chernobyl não se chame Almaraz, algum dia. Encerremos Almaraz e nem uma palavra mais!”

António Eloy, membro do Movimento Ibérico Antinuclear

3o Anos Depois - uma BD recorda "Chernobyl - A zona" de Natacha Bustos e Francisco Sanchéz

BêDêZine: "Chernobyl - A zona" de Natacha Bustos e Francisco...: 3o anos depois dos trágicos acontecimento de Chernobyl, é lançada em Portugal uma Banda Desenhada que ficciona a história de uma família atingida pela tragédia.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

PEDRO CLAUDIO, um grande fotógrafo, e, acima de tudo um torriense que deixa saudades.

A Banda Desenhada e o 25 de Abril

BêDêZine: A Banda Desenhada e o 25 de Abril: Sem pretender ser exaustivo, e sem outra pretensão que não seja recordar a data e a sua relação com a BD, deixo em baixo algumas raras imagens...(ler mais clicando sobre o texto a azul).

Patético e Repugnante

Foi patética e repugnante a atitude de Eduardo Catroga, apanhado ontem pelas câmaras da SIC Notícias a "lamber as botas" ao primeiro-ministro, a pressioná-lo para se reunir como os accionistas da EDP e a oferecer os seus préstimos, como homem de "visão", não "partidária".

O homem parecia uma mosca tonta à volta de António Costa, que se mostrava deveras incomodado com a triste cena do homem.

Apenas o Jornal de Negócios se refere hoje, AQUI, na sua edição on-line, àquela triste cena.

Horácio Novais: O Outro Fotógrafo do 25 de Abril.

terça-feira, 19 de abril de 2016

"Parlamento" brasileiro : um "circo" romano liderado por um mafioso

Seja qual for a opinião que se tenha sobre a presidente do Brasil ou sobre a corrupção que envolve o seu governo,foi uma vergonha de se ver o que se passou na Câmara dos deputados do Brasil.

Chegou-se ao ponto de elogiar os torturadores da ditadura militar brasileira.

Mas o mais grave é que quem lidera esse "parlamento" e conduziu o triste espectáculo que vimos este fim-de-semana foi um dos homens mais corruptos do Brasil, Eduardo Cunha.

O retrato desse mafioso à brasileira é retratado pelo jornalista do Público Félix Ribeiro, no artigo "Dilma foi tramada por um "gangster", que pode ser lido na edição de hoje desse jornal.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Brasil, a grande farsa!

Aquilo que se passa no Brasil,no chamado processo de "impeachment" contra  Dilma Roussef é uma grande farsa, como ontem se viu em directo no parlamento daquele país ("Uma turba perigosa e sem escrúpulos" segundo o jornalista Manuel Carvalho do jornal Público).

"O Grande Ódio" (título da crónica de Vinicius Torres Freire, da Folha de São Paulo), que se espalhou como um vírus pela sociedade brasileira parece conduzir o Brasil para um beco sem saída, corroendo ( e corrompendo) a sua jovem democracia.

Se Dilma tem culpas no cartório, não existe contudo um único processo de corrupção que envolva a presidente.

O contrário não se pode dizer de 60% dos deputados ( quase a totalidade dos que votaram pelo "impeeachment") e dos líderes da iniciativa, como Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, sobre o qual estão pendentes vários processos de corrupção e conhecimento de contas não declarada em paraísos fiscais,com no Panamá. ("O País do Passado", crónica de Rui Tavares).

Ou seja, a turba que domina aquela câmara de deputados tudo faz para desviar as atenções da sua ligação maioritária à corrupção que mina a democracia brasileira, fazendo de Dilma o seu bode expiatório, esperançados que o provável sucessor na presidência, Michel Temer, em nome da "reconciliação", faça tábua rasa da corrupção em que estão envolvidos.

O povo brasileiro não merecia tanta "sujeira"...

José Garcês, setenta anos dedicados à BD

BêDêZine: José Garcês, setenta anos dedicados à BD e com iné...: “ A poucos meses de completar 70 anos de carreira, o autor de banda desenhada José Garcês diz ter prestado "um serviço público ao país"...(ler mais clicando no texto).

sexta-feira, 15 de abril de 2016

O CHEIRO DO DINHEIRO : - PSD disposto a estreitar relações com Partido Comunista Chinês

Percebe-se agora porque é que a maior parte dos maoístas do PREC "emigraram" maioritariamente para o PSD.

Finalmente está consumada a sua missão histórica de arredar os "social-fascistas" da social-democracia que dominavam esse partido desde os tempos de Sá Carneiro, esse "renegado" reformista.

Sob a liderança do grande líder Passsos Coelho, candidatam-se agora a serem os representantes privilegiados em Portugal do Partido "Comunista" Chinês.

...ou é apenas o cheiro do dinheiro  que os move???

PSD disposto a estreitar relações com Partido Comunista Chinês: A China quer reforçar as relações com Portugal através dos partidos políticos e o PSD está disposto a desenvolver as relações com o Partido Comunista Chinês, segundo a agência oficial Xinhua.(clicar para ler).

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A Falta de valores humanos no leste da Europa : Bulgária tem 'caçadores de refugiados'


Quem visita  paises do leste europeu, que pertenceram ao antigo bloco soviético, apercebe-se da falta de valores democráticos e liberais que aí domina.

O que existe é uma visão esteriotipada dos "valores ocidentais", centrada na ostentação e na caricatura da "vida à ocidental".

Notícias recentes sobre o crescimento de movimentos xenófobos nesses países mais confirmam aquela sensação.

A falta de valores humanistas e democráticos, sempre tão apregoados na boca dos seus líderes políticos, é diariamente confirmada no modo como os refugiados das guerras da Líbia, da Síria, do Iraque e do Afeganistão (fomentadas por interesses ocidentais,os financeiros, os militares e os políticos) são tratados por esses países (Eslováquia, Republica Checa, Hungria, Macedónia e agora a Bulgária...).

O mais grave é que alguns desses países tenham sido integrados à pressa na União Europeia, apenas porque interessava ao corruptos sistemas financeiro ocidental e às negociatas da classe político  europeia, nomeadamente a alemã.

Com essa integração apressada dos países do leste, a Alemanha procurou  concluir o velho sonho hitleriano, derrotado na segunda guerra, de construir o seu "espaço vital" a leste.

Fê-lo à custa da integração europeia e dos valores solidários, democráticos e liberais que estiveram na origem da fundação da União Europeia.

A falta de humanismo e a crescente degradação do rudimentar modelo democrático em vigor nos países do leste europeu, construído à sombra da corrupção generalizada, deve-se, por um lado, ao falhanço do modelo "socialista" que vigorou nesses países, que esmagou os valores humanos, democráticos e liberais ao longo de gerações, valores estes que, por necessidade de rápida integração na "Europa", para satisfazer as ambições da Alemanha e das corruptas elites "democráticas" desses países, foram "assumidos" pelas "novas" elites políticas desses países, de forma estereotipada e apressada, sem convicção, tornando a "democracia" e a "liberdade" da maioria dos países do leste europeu uma caricatura barata.

Por isso não nos admira que, num país "europeu" como a Bulgária, ocorram situações como as que agora foram descobertas, e que nos envergonham a todos, enquanto "europeus".

Se a pressão sobre países, por causa de décimas de milésimas no cumprimento de déficites orçamentais, penaliza fortemente os não cumpridores e os seus cidadãos, admira-nos que o mesmo critério de respeito pelos compromissos europeus, neste caso bem mais graves do ponto de vista dos direitos humanos e dos valores europeus, não esteja a ser já exigido a esses países. 

Até Quando?.

Bulgária tem 'caçadores de refugiados': Um grupo de pessoas, todas elas voluntárias, pertencentes a uma organização búlgara nacionalista, deteve dezenas de refugiados que estavam a chegar à fronteira turca.(clicar para ler mais).

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Hoje em Lisboa, na Culturgest : Kasse Mady Diabate.


Hoje, na sala lisboeta da Culturgest, tem lugar um espectáculo de um dos mais importantes musicos africanos da actualidade, oriundo do Mali.

Trata-se de Kasse Mady Diabate, mantendo a tradição que faz do Mali um dos lugares de onde têm saido alguns dos grandes nomes da musica africana.

O musico apresenta o seu último trabalho, Kiriké.

Desenraizados - quando a "história" da "estória" se repete.


Acabo de ler o livro "Desenraizados" de Erich Maria Remarque.

É a história de desespero de um grupo de migrantes, fugidos,por várias razões, da Alemanha Nazi, antes da guerra despoletar.

Deambulando pelos países vizinhos da Alemanha, jogando constantemente o "jogo do gato e do rato" com as autoridades, procuram escapar do seu trágico destino e, no fim,cada personagem tem um destino diferente.

Mas o que mais me impressionou na leitura deste livro do escritor alemão, ele também um fugitivo ao nazismo, é a sensação que sentimos, ao ler algumas das situações descritas, de um "deja vu" presente desde há alguns anos a esta parte nas histórias dos migrantes sérios, iraquianos e afegãos, desesperando nas fronteiras da Europa.

A história parece que insiste em repetir-se e o desfecho, com outros contornos e protagonistas, prevê-se tão trágico como o daquele tempo.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Saudades de papéis “velhos”.


No "Público" deste Domingo a jornalista Alexandra Lucas Coelho escreve sobre o encerramento de mais uma loja de alfarrabista em Lisboa, a Livraria Avellar Machado (“Pequena História de como esta semana o mais antigoalfarrabista fechou portas”).

Desde que me lembro de calcorrear as ruas de Lisboa que o percurso dos alfarrabistas fazia parte desse prazer que relaciono sempre com essa cidade.

Este é um prazer que deixei há algum tempo, umas vezes por razões económicas outras por falta de tempo e, actualmente, mais do que por qualquer dessas razões, por falta de espaço para guardar as muitas relíquias que ia encontrando nessas passeatas.

Agora, quando, mais de longe em longe, me entretenho a percorrer as ruas de Lisboa, principalmente entre a Baixa, o Chiado, o largo da Misericórdia e o Bairro Alto, deparo-me com o desaparecimento de muitas dos antigos alfarrabistas que faziam as minhas delicias, espaços mágicos para quem gostava de se surpreender  com aquele cheiro a papéis velhos de revistas e livros que já ninguém queria e que nos levavam a viajar no tempo por um preço acessível.

Hoje, os que restam só sobrevivem vendendo obra a preços proibitivos, pagos por algum coleccionador novo rico que acha aquela velha encadernação ou capa de revista  uma boa decoração de sala ou anda atrás de revivalismos da moda.

O gosto pelo livro velho, por edições raras, por periódicos desactualizados tornou-se uma raridade de “maluquinhos” como eu.

Já nem as bibliotecas publicas aceitam, sem um torcer de nariz ou um rotundo não, doações desses livros “velhos”.

Com o encerramento desses espaços é também um pouco de nós e da nossa Lisboa que morre.

Que saudades do cheiro a papel velho!!!


segunda-feira, 11 de abril de 2016

O Respigo da Semana : "Offshores:não é uma questão fiscal, é uma questão de democracia", por José Pacheco Pereira


Offshores: não é uma questão fiscal, é uma questão de democracia

Por JOSÉ PACHECO PEREIRA in Público 09/04/2016

Se queremos salvar a democracia no século XXI, o problema do dinheiro anónimo, escondido, fugido e protegido algures é objectivamente mais dissolvente do que os tiros de uma Kalashnikov nas ruas de Bruxelas.

“Nas suas declarações sobre as revelações (mais confirmações do que revelações) dos chamados “Documentos do Panamá”, Marcelo Rebelo de Sousa foi ao âmago da questão quando disse que o problema dos offshores era um problema de democracia. E é.

“Os offshores são, antes de tudo, do crime, da lavagem de dinheiro, da fuga ao fisco, uma questão que significa para as democracias a perda de um princípio básico — o de que o poder político legitimado pelo voto e pelo primado da lei se sobrepõe ao poder económico. Por isso, tratar a questão dos offshores apenas como sendo de natureza fiscal e andar às voltas por aí é já um mau ponto de partida.

“A questão que muitas vezes é iludida é que não existe uma única razão económica sólida para que hajam offshores. Para que é que eles servem para a economia, para a produção, para o emprego, para a indústria, para o comércio, para o investimento limpo? Nada. Tudo aquilo para que os offshores servem é para esconder dinheiro e os seus proprietários, para esconder a origem do dinheiro, através de um conjunto de fachadas anónimas que depois vão desaguar aos grandes bancos sediados na Suíça ou em Londres.

“O que os políticos europeus dizem, quando confrontados com esta realidade, ou com os escândalos periódicos, como o actual com os documentos da Mossack Fonseca, é que não podem fazer nada e que o que podem fazer fazem. Por detrás desta declaração de impotência — eu estou a falar de políticos democráticos — está o retrato da captura ocorrida nas últimas décadas, e agravada pela crise de 2008, da política em democracia pelos interesses financeiros globais, pela banca, pelos “mercados”. Sim, porque uma das faces semivisíveis dos offshores são os biliões que circulam em fundos e outros tipo de operações financeiras e bancárias, a que nós chamamos os “mercados”, o Deus ex machina que faz mover os países como marionetas.

“Podem fazer alguma coisa? Podem fazer tudo. Repito: podem fazer tudo. E acrescento: mas não querem. Podem fazer tudo, mas não querem — esta é a frase que melhor resume o “problema para a democracia”. E não querem por dois motivos. Um de fraqueza política, — a maioria dos políticos europeus são gente frágil à frente de países fragilizados, uma combinação de que resulta uma imensa fraqueza para lidar com interesses poderosos, como são os que estão por detrás e pela frente dos offshores. O outro é a hegemonia nos partidos de direita, e em muitos socialistas subservientes, de uma mistura entre ideias sobre a economia, sobre o Estado, sobre as empresas, sobre a governação dos países, que corresponde ao “pensamento único” que tem presidido à política da Comissão Europeia, do Eurogrupo, aos partidos do PPE, e que tem levado a cabo a política de Schäuble e dos alemães e de alguns outros países seus aliados.

“Este segunda razão é do “podem, mas acham bem”, e essa aparece como de costume nos mais rudimentares defensores dos offshores que pululam na nossa direita mais radical, nos jornais, nos blogues e nas redes sociais. Eles são reveladores, porque têm a imprudência de dizer aquilo que os de cima da cadeia alimentar pensam, mas não podem dizer. E todos ficaram imensamente incomodados com os “Documentos do Panamá”, porque é “deles” e dos seus que os “documentos” falam. E correram logo a dizer que era uma questão com Putin e não com o capitalismo. Ou seja, os offshores são mais uma perversão do comunismo e do socialismo e dos “oligarcas”, como gostam de chamar aos poderosos do “outro lado”. E então é ler como os offshores são uma resposta à tirania fiscal dos Estados “socialistas”, ou uma digna resposta da liberdade económica do dinheiro e das empresas para fluir para todo o lado sem barreiras. Sem dúvida, admitem, que há crimes e lavagem de dinheiro, mas são pechas menores dos offshores. O essencial é que eles são mais uma manifestação normal da liberdade económica e da luta contra a prepotência dos Estados e das políticas “socialistas” dos altos impostos. Isto vem de quem fez o “enorme aumento de impostos”, retirou aos contribuintes qualquer protecção face aos abusos do fisco e só é “liberal” na bandeirinha da lapela. Pobre da “mão invisível” que foi possuída pela família Adams.

“Também nos offshores se verifica a escassíssima vontade dos políticos europeus, que tem à sua cabeça institucional o senhor Juncker, que tem no seu currículo ter feito enquanto primeiro--ministro do Luxemburgo todo o tipo de acordos ilegais, insisto, ilegais, à luz das regras europeias, destinadas a levar para o seu país empresas que aí encontravam um paraíso fiscal protegidas pelo segredo de Estado. Ou no caso do Reino Unido, em que dezenas de offshores estão em territórios sob soberania britânica.

“O problema como sempre é o dos alvos e dos intocáveis. Ou melhor: defender por todos os meios os “intocáveis” de serem tocados e impedir que os alvos deixem de ser alvos. O objectivo da política do “ajustamento”, policiada pelas instituições europeias sem estatuto democrático como o Eurogrupo, ou pelo FMI, em consonância com os “mercados”, foi proteger o sistema bancário, os “mercados”, o dinheiro que “flui” e, sem o dizer, no mesmo pacote vão os offshores “contra os quais nada se pode fazer”. E o melhor atestado de ineficácia da múltipla legislação europeia tão gabada nas suas intenções de dar “transparência” ao sistema financeiro e combater a corrupção é o que revelam estes “Documentos do Panamá” e muitas outras estimativas sérias: o dinheiro que vai para os offshores é cada vez mais. Ponto.

“A solução da questão dos offshores é simples, se tivermos vontade para a aplicar. E desconfiem de quem venha com muitas complexidades e complicações, é sempre mau sinal. Insisto, não é muito complicado: trata-se de comparar o dinheiro dos offshores com o dinheiro dos terroristas. Um rouba, em grande escala, Estados e povos, o outro mata. Um mata à fome em África, outro nas ruas de Paris ou em Nova Iorque. Um destrói economias, poupanças, classes médias criadas com muitos anos e esforços para progredir, outro escraviza povos e reduz a ruínas países já muito pobres. É uma comparação que admito ser excessiva, mas, se partirmos dela, talvez possamos compreender (ou não) por que razão aquilo que se admite em termos de recursos de investigação, penalizações duríssimas, confisco de bens do crime ou da droga, ou da corrupção ou da fuga ao fisco, e se aplica ao dinheiro do terrorismo, se pode aplicar ao dinheiro ilegal dos offshores. Ah! Já estou a ouvir em fundo: “Mas muito desse dinheiro é legal.” Ai é? Então, qual é o motivo por que em vez de estar inshore vai para os offshores?


“Deixem-se por isso de falsos espantos e falsas surpresas. Tudo o que está nos “Documentos do Panamá” não é novidade para ninguém. Como não é novidade para ninguém o discurso de “não se pode fazer nada”. Mas, se queremos salvar a democracia no século XXI, o problema do dinheiro anónimo, escondido, fugido e protegido algures numa caixa de correio humilde de uma casa nas Ilhas Caimão, ou num cacifo acolchoado de um luxuoso escritório de advogados no Panamá é objectivamente mais dissolvente do que os tiros de uma Kalashnikov nas ruas de Bruxelas. Faz-nos pior, porque os tiros são-nos exteriores, são do “inimigo”, e os biliões das Ilhas Virgens são de dentro, dos “amigos””.

Steve McCurry mostra a Índia em Portugal

A FORMA E A LUZ: Steve McCurry mostra a Índia em Portugal: Acabou de ser inaugurada em Lisboa, na Galeria Barbado, em Campo de Ourique (Rua Ferreira Borges 109-A) uma exposição do fotógrafo Steve McCury (ler mais clicando em cima).

sexta-feira, 8 de abril de 2016

DRAGHI, O MALCRIADO

Quando nos convidam para a casa de alguém, ainda por cima com viagem e almoço pagos, vamos procurar ouvir o que nos têm para dizer e comentar o que nos pedirem, não vamos publicar nas redes sociais reparos, com bocas indirectas e deselegantes, sobre a disposição, o estilo ou arrumação dos móveis da casa do nosso hóspede.

Mas, em sentido metafórico, foi isto que Draghi veio fazer a Portugal, onde se deslocou a convite do Presidente da República, para assistir ao primeiro Conselho de Estado e inteirar-se in-loco da situação económica e social de Portugal.

A idéia de trazer os burocratas não-eleitos da União Europeia, os "donos disto tudo", para se confrontarem com a realidade dramática dos resultados das decisões que eles tomaram na sombra dos seus gabinetes e dos chorudos e milionários salários que recebem pela função, parece-se interessante.

Mas para resultar era preciso que o convidado fosse uma pessoa tolerante, aberta de espírito e liberal, o que não foi o caso.

O homem entrou em Portugal com uma série de idéias feitas e saiu na mesma, enviando recados em todas as direcções.

O sr. Draghi, assim que pôde, não se conteve e teve de lançar umas bocas indirectas exigindo mais "reformas estruturais" e elogiando o desastre social provocado pela intervenção em Portugal da "sua" troika.

Confesso que já não posso ouvir falar em "reformas estruturais", não que eu não ache que a Europa não precisa de reformas.

Só que o que eu acho que são as reformas estruturais necessárias não são as mesmas que essa gente apregoa.

Para mim as reformas estruturais passam pela democratização e transparências das decisões das instituições europeias, pela submissão do poder financeiro ao poder políticos, económico e social, e pela tomada de decisões que melhorem a vida dos cidadãos, protegendo-os do corrupto sistema financeiro europeu e mundial.

Mas para essa gente, Draghis, Constâncios e Cª, quando falam de "reformas estruturais" falam de cortes em salários e pensões, mais impostos sobre empresas produtivas e trabalhadores, mais cortes nos direitos sociais, para facilitar a vida ao corrupto sistema financeiro (os tais "mercados") que lhes paga os chorudos ordenados.

Foi pena o sr. Graghi não ter aproveitado a ocasião para tentar perceber melhor o mau resultado social das "reformas estruturais" que impôs aos portugueses e, já agora, para esclarecer o papel da instituição que dirige no caso BANIF, que vai custar ao cidadãos deste país mais uns milhares de milhões de euros, saidos directamante dos nossos bolsos..

É caso para dizer: para além de arrogante, intolerante, socialmente desumano, o sr. Draghi também é... MALCRIADO!!!!


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Ai Sabemos, sabemos...e de que maneira :Passos acredita que país sabe "o caminho" desejado pelo PSD

Numa recente entrevista à Antena 1 Passos Coelho afirmou acreditar que o país sabe "o caminho" desejado pelo PSD.

É caso para dizer: "ai sabemos, sabemos" e de que maneira: o caminho da perda de direitos, da perda rendimentos, da perda para a emigração dos jovens mais qualificados, da perda de qualidade na saúde e na educação, da perda do respeito por parte das instituições internacionais e, acima de tudo, da perda da paciência para continuar a ouvir todos os dias as atoardas de Passos Coelho.

Pelos vistos o homem ainda não percebeu o que lhe aconteceu e qual foi a mensagem que os portugueses lhe enviaram nas eleições de Outubro passado.

Mas o mais grave é que ainda há muita gente dentro do PSD (95%, ao que parece) que também ainda não o percebeu e tem a esperança de voltar ao poder sob a liderança de Passos Coelho.

Será que o Passos Coelho, transvestido à pressa de "social-democrata", ainda pensa que, além dos seus fanáticos seguidores, ainda pensa que vai fazer esquecer a sua prática de direitista radical neoliberal ao longo de quase cinco anos de poder?

Passos Coelho à frente do PSD é o melhor seguro de vida para a esquerda

terça-feira, 5 de abril de 2016

Panama Papers : um exemplo dos tais "mercados" com que justificam a austeridade


O escândalo "Panama Papers" só pode surpreender pela dimensão e os incautos.´

Empresas de advogados como aquela que agora foi denunciada proliferam às centenas pelo mundo fora, muitas sediadas em offshores na própria União Europeia.

A Grã-Bretanha possui três ilhas que não pertencem à União Europeia exactamente para fugir a qualquer controle financeiro.

Recentemente tivemos a confirmação que o Luxemburgo é ele próprio uma “pátria” offshore, que durante anos andou a apoiar empresas para fugir ao fisco de outros países europeus, situação que aconteceu em governos de Juncker, premiado com a liderança da Comissão Europeia.

Outros países, como a Holanda, país de origem do impronunciável líder do Eurogrupo, faz o mesmo e, aqui há uns tempos atrás, também ficámos a saber que 19 das 20 empresas do PSI20 da bolsa portuguesa tinham empresas subsidiárias nesse país para fugirem ao pagamento de impostos em Portugal.

O que pode surpreender neste novo caso é a dimensão e, ao mesmo tempo, a informação selectiva que vai saindo a público.

É no mínimo estranho que não tenha aparecido, até agora, qualquer norte-americano envolvido, embora existam muitas explicações para isso, como o facto de, nos próprios Estados Unidos existirem offshores que oferecem melhores condições para escapar ao fisco do que as oferecidas por aquela empresa agora denunciada.

Este escândalo é apenas uma pequena ponta do iceberg desse mundo obscuro em que se move o sistema financeiro mundial.

Calcula-se que as empresas offshore lavam e escondem, em dinheiro, o dobro de todo o rendimento anual do conjunto dos países da União Europeia.

Claro que tudo é legal e que muitas personalidades envolvidas não são directamente citadas neste caso, recorrendo a testas de ferro ou a empresas fictícias.

Contudo, nada disto é eticamente aceitável, principalmente quando se vive numa situação de crise financeira mundial onde os únicos sacrificados são os que pagam os seus impostos e os que trabalham.

Muitos dos advogados, políticos e “Ceos” envolvidos nessas empresas são aqueles que passam a vida na comunicação social, com o colaboracionismo vergonhoso desta, a debitar discursos em defesa da austeridade, da redução de salários e pensões e da redução do Estado Social , em nome da defesa dos “mercados”, os tais mercados que vivem à sombra desses offshores.

Mais escandaloso ainda é ver os defensores deste sistema financeiro e deste “mercado”, ao mesmo tempo que defendem a livre circulação financeira,  preocupados em encerrar as fronteiras para impedir a livre circulação de pessoas que fogem à guerra e à miséria, guerra e miséria fomentada pelos obscuros negócios que se fazem à sombra dessas offshores.

Espero que esta revelação, não sendo nova nem surpreendente, leve os cidadãos a reagir e a exigir o fim e a ilegalização desse tipo de offshores e o julgamento de todos os envolvidos.

A propósito desse tema, deixo em baixo a transcrição da crónica de José Vitor Malheiros publicada na edição de hoje do jornal “Público”:

"Os impostos são só para os trabalhadores e para os pobres

"Esta fuga de informação diz respeito apenas a UMA empresa de advogados, com sede no Panamá, a Mossack Fonseca. Muitas outras do mesmo tipo existem no mundo.
  • O escândalo revelado pelos Panama Papers não constitui uma surpresa. Há décadas que sabemos que as coisas se passam assim.

  • "Sabemos que existem paraísos fiscais que proporcionam este tipo de serviços – muitos deles no seio da própria União Europeia, apesar do hipócrita discurso moralista dos seus dirigentes. 

  • "Sabemos que esses paraísos fiscais servem apenas para criar e albergar empresas fictícias onde pode ser parqueado dinheiro de origem clandestina ou criminosa. 

  • "Sabemos que essas empresas são criadas e geridas por advogados e consultores fiscais que trabalham em gabinetes que gozam dos favores dos poderes. 

  • "Sabemos que as pessoas que recorrem a estes paraísos fiscais desejam esconder dinheiro oriundo de negócios sujos, ter acesso a dinheiro cuja origem não possa ser localizada para financiar actividades ilegais e, acima de tudo, não pagar impostos em país algum. 

  • "Sabemos que entre as pessoas que usam estes paraísos fiscais que financiam o crime e que defraudam os estados se encontram figuras poderosas dos negócios e da política que costumamos ver nos telejornais a debitar discursos sobre moral e justiça, a defender o primado da lei ou a apresentar-se como exemplos de empreendedorismo. 

  • "Sabemos que muitos destes paraísos fiscais são entidades legais, que albergam empresas cuja criação é legal e cuja actividade é legal – mas isso apenas é assim porque os legisladores nacionais e internacionais ou se abstêm de legislar sobre estes espaços invocando a inutilidade de legislação que não seja aplicada ao nível planetário ou porque têm o cuidado de deixar na lei os alçapões necessários para proteger os prevaricadores que serão um dia seus clientes ou patrões. 

  • "Sabemos que este mesmo dinheiro que se encontra nos paraísos fiscais é dinheiro que foi roubado à economia, ao erário público, aos contribuintes e que, se houvesse um combate decidido contra esta evasão fiscal, muitos dos problemas sociais que afectam o mundo poderiam ser resolvidos e muitos dos conflitos poderiam ser evitados. 

  • "Sabemos que a actividade desses paraísos fiscais não se faz sem a cumplicidade dos bancos, já que é a partir deles, através deles e para eles que o dinheiro acaba sempre por fluir. 

  • "Sabemos que os paraísos fiscais, mesmo quando não são ilegais, são imorais e ilegítimos e promovem a desigualdade, a pobreza, o crime organizado, a corrupção, as ditaduras e as guerras, sendo como são espaços impenetráveis ao escrutínio dos cidadãos.

  • "Sabemos tudo isso. Sempre soubemos tudo isso. Há milhares de indícios que apontam nestas direcções e que sabemos que são minúsculas pontas de um gigantesco iceberg.

  • "A diferença é que agora – graças a uma fuga de informação de um denunciante não identificado, ao trabalho do diário alemão Süddeutsche Zeitung, do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) e de 378 jornalistas de 107 meios de comunicação de 77 países – temos uma extensa lista de nomes de pessoas e de empresas e milhões de documentos que podem ajudar a provar a ilicitude de algumas dessas transacções e a denunciar (e a condenar?) alguns dos seus autores.

  • "A massa de informações contida nesta fuga dá-nos uma noção da dimensão mundial da fraude em que vivemos e do número de “personalidades” (na política, nos negócios, no desporto, no crime organizado) que não só fogem impunemente aos impostos como conseguem esconder a sua riqueza para esconder os seus crimes. É conveniente ter em conta que esta fuga, com os seus terabytes de dados, diz respeito apenas a UMA empresa de advogados com sede no Panamá, a Mossack Fonseca, e que muitas outras do mesmo tipo existem no mundo.

  • "O facto que esta fuga de informação põe em evidência é algo que a esmagadora maioria dos cidadãos continua a não querer ver: o facto de as leis serem aplicadas à massa de cidadãos trabalhadores, os cidadãos com menos rendimentos ou mesmo declaradamente pobres, que são obrigados a pagar os seus impostos, mas poupando ilegitimamente os mais poderosos, uma minoria de pessoas que detém quase toda a riqueza do mundo e que consegue viver à custa do sacrifício de todos os outros, comprando Lamborghinis com o dinheiro que não pagaram em impostos e que deveria ter sido usado para aliviar a pobreza, a fome e a doença. O sistema impõe regras aos mais pobres e permite todas as batotas aos mais ricos.

  • "Esta é uma iniquidade moralmente intolerável e socialmente destruidora. Mas tem sido tolerada por legisladores, governantes e até pelos cidadãos eleitores, que aceitam com bonomia que um homem como Jean-Claude Juncker, cujo governo ajudou a transformar o Luxemburgo numa estância de evasão fiscal (como a LuxLeaks, uma outra fuga de informações, mostrou), seja, para nossa vergonha, presidente da Comissão Europeia.

  • "Esperemos os próximos capítulos deste escândalo e esperemos os nomes dos políticos ocidentais e portugueses, que não deixarão certamente de vir à superfície. Depois, iremos deixar os paraísos fiscais na mesma, como temos feito até aqui?"

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Solidários com Luaty Beirão e mais 17 jovens angolanos. UM PRESO POLÍTICO É UM PRESO POLÍTICO ! :O que é que PSD, CDS e PCP não percebem desta frase?.


Ausentes deste espaço por uns dias, temos por nós que a notícia mais marcante dos últimos dias foi a condenação à prisão de um grupo de jovens angolanos.

O que é que eles fizeram? Leram um livro e discutiram a grave situação política e social que se vive em Angola, um país com um regime comprovadamente corrupto e que faz da democracia um anedota e da liberdade uma mentira.

Claro que as alternativas ao governo criminoso do MPLA não são muito melhores, a começar pelos criminosos da UNITA.

Mas, felizmente, começam a surgir muitos cidadãos angolanos que fogem àquele esquema partidário corrupto e criminoso e dão a sua voz e energia para combater esse sistema.

Infelizmente esse sistema serve a muito boa gente em Portugal e é vergonhoso que um partido como o PCP venha defender o indefensável, votandoao lado da direita radical neoliberal, a principal beneficiária das negociatas que os corruptos sistema financeiro e político  Angolano permitem à sua clientela.

Dentro das nossas limitações, e em nome dos “valores de ABRIL”, aqui manifestamos toda a nossa solidariedade para com Luaty Beirão e os seus jovens companheiros, condenados com acusações ridículas, num julgamento que  seria uma verdadeira comédia se não fossem trágicas as consequências da decisão desse “tribunal”.

Aqui deixamos também a transcrição da última crónica de Pacheco Pereira , que aborda de forma clara e informada a dimensão desse acontecimento:

Mais uma vez a nossa doença angolana

Por JOSÉ PACHECO PEREIRA

In Público de  02/04/2016

Dizer o ‘estado de direito’ angolano devia provocar uma sonora gargalhada se o assunto não fosse muito sério

“O que é que faz PCP, PSD e CDS juntarem-se num voto comum com denso significado político? Angola. O que faz juntar Paulo Portas, Jerónimo de Sousa, Passos Coelho, Assunção Cristas num silêncio mais ou menos incomodado sobre claras e grosseiras violações dos direitos humanos e da democracia? Angola. O que faz Paulo Portas, esse corifeu do anti-comunismo, e da liberdade económica, agora convertido à digna carreira dos negócios, queixar-se da “judicialização da relação entre Portugal e Angola” a propósito da prisão de Orlando Figueira, antigo procurador do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), acusado de ter engavetado um processo em que era investigado Manuel Vicente, antigo dirigente da Sonangol? Angola.

“Aqueles a que se solta a boca com o que se passa na Venezuela, aqueles que espumam com a viagem de Obama a Cuba, aqueles que correm para escrever artigos indignados com a duplicidade da esquerda face a regimes como o norte-coreano, o cubano, ou o venezuelano, agora explicam-nos que o regime angolano nada tem que ver com o comunismo. É um regime “pragmático”. Lá isso é, mesmo muito pragmático.

“O mais espantoso argumento é o que acha que nada se pode dizer sobre o que se está a passar, visto que o que está em causa é o sistema judicial, os tribunais, o “Estado de direito” angolano e isso é tão inquestionável como os tribunais ingleses de juízes e advogados de cabeleira e velhos direitos do júri, onde há habeas corpus e... o primado da lei. Dizer, aliás, o “Estado de direito” angolano devia provocar uma sonora gargalhada, se o assunto não fosse demasiado sério.

“Criticar a Coreia do Norte está bem. Criticar a Birmânia está bem e é muito longe e não se sabe nada para nosso conforto. Criticar a Síria e a “ditadura” de Assad está bem. Bater palmas à queda de Khadafi, mesmo com o incómodo do seu linchamento público, está também muito bem. Até ao nosso parceiro na CPLP, a Guiné Equatorial, podemos torcer o nariz. Tivessem eles “salvo” o Banif, talvez já não fosse assim.

“Mas há ditaduras e ditaduras. E a questão já não é só ideológica, bem longe disso. Isso era antes e só funcionava para o PCP. Para o PSD, o CDS e parte do PS, é o “pragmatismo” que conta, ou seja, as que estão próximas de nós pelo dinheiro, com essas é que é preciso muita prudência. Na verdade, se investem em Portugal, pagam pelo menos o direito de não serem tratadas como ditaduras, apenas “Estados africanos em construção”, importantes motores de negócios, países mais ou menos exemplares.

“Veja-se a China, cujo Partido Comunista Chinês comprou durante o Governo Passos Coelho algumas das mais importantes empresas portuguesas. Pelo menos uma, qualquer consideração estratégica do interesse nacional deveria impedir que fosse vendida, a REN. Mas a lei que definia os sectores de valor estratégico para Portugal, — anoto, não é para a economia portuguesa, é para Portugal —, por singular coincidência, só foi publicada depois da venda. Grande Partido Comunista Chinês, vanguarda do capitalismo mundial, exemplo de gestão da economia, parceiro desejado, governante dos homens que pagam umas centenas de milhares de euros para virem a ter a nacionalidade portuguesa com um “visa dourado”. Pelos vistos pagam a frente e ao lado. Mas os refugiados que se acumulam na Grécia e na Turquia, esses, não têm dinheiro para comprar um passaporte europeu, nem prédios de luxo, nem comissões a advogados e imobiliárias, nem luvas para “agilizar” o processo.


“Angola é o que se sabe. Não havendo propriedade privada dos diamantes ou do petróleo ou dos outros bens naturais do país, apenas concessões às grandes petrolíferas americanas ou às empresas estatais, o que decorre da exploração desses recursos são biliões de dólares que são a principal riqueza de Angola. Para onde vão? Do lado “recebedor” desses gigantescos fundos está a cleptocracia governante em Angola, a começar na família do Presidente, estendendo-se para a entourage da Presidência, e para um conjunto de generais que ascenderam ao poder durante a guerra civil, e a que se juntam altos quadros do MPLA, administradores de empresas públicas, embaixadores, ministros e “homens de negócios”. Nenhum deles construiu a sua riqueza que não fosse pelo acesso ao poder político. Os seus nomes são conhecidos de todos, estão sistematicamente presentes em duas listas: as dos que violam os direitos humanos, como as da Amnistia Internacional, e as dos corruptos que todas as polícias europeias e americanas conhecem, incluindo a portuguesa”.