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sexta-feira, 27 de março de 2015

O Respigo da Semana : onde se desmascara o discurso de Cavaco sobre a emigração:


Esse país não é o meu nem essa emigração existe

Por CRISTINA SEMBLANO  in Público de 26/03/2015

(Economista, lecciona Economia Portuguesa na Universidade de Paris IV – Sorbonne; autarca na região de Paris)

“Como é que esses novos emigrantes, a população estrangeira mais numerosa a chegar actualmente a França, poderão acolher o discurso de um Presidente que diz que Portugal é um país bom para investir?

“Foi um Presidente da República em campanha eleitoral por conta do Governo português, ou das forças políticas que o sustentam, que vimos em Paris. Um Presidente da República cujo optimismo é inversamente proporcional à situação dramática em que se encontra o país, um país que se despoja das suas forças vivas, das suas empresas estratégicas, dos seus serviços públicos. Um país que, ao mesmo tempo que aponta a porta de saída aos seus filhos, abre as pernas ao capital estrangeiro para que invista no que ele desinveste e gaba aos potenciais turistas o sol, o mar e a hospitalidade de um povo que põe de joelhos e/ou condena ao exílio.

“Houve primeiro o discurso sobre o crescimento de 2% ultrapassando as expectativas internas e internacionais, o equilíbrio das trocas externas e a proeza de o país conseguir financiamento a baixas taxas de juro. Como se o crescimento, a realizar-se, não devesse ser comparado à contracção dos anos do memorando, como se a quebra das importações induzida pela contracção do consumo interno e do investimento não fosse chamada para explicar o frágil equilíbrio das trocas externas, como se as taxas de juro a que o país se financia nos mercados não fossem imputáveis à política monetária do BCE e à sua garantia.

“Esse país a que o Presidente da República aludiu – que acabou com sucesso o programa de ajustamento, tem hoje uma economia mais sustentada e poderá desde este ano começar a reduzir o peso da dívida no PIB – não é, seguramente, o meu. O meu país perdeu PIB nos anos do memorando, perdeu investimento e perdeu postos de trabalho, perdeu competitividade, perdeu bens essenciais à sua economia e ao bem-estar da sua população, perdeu gente, e, se alguma coisa ganhou, foi mais desempregados, mais pobres, mais dívida, mais fragilidade, mais dependência, mais incerteza e um futuro mais hipotecado.

“Não, o meu país não é esse que um obscuro instituto inglês – a que aludiu o Presidente sem todavia o designar – classificou como um dos mais prósperos do Mundo!

“Porém, não é só o país a que o Presidente da República aludiu que eu não reconheço como sendo o meu. Também não me reconheço na emigração de que ele fala. A emigração do período 60-70 da qual sou oriunda e que a política politicamente correcta conviu apelidar, de forma caricata, de “emigração de sucesso”, focando-se em alguns casos e ignorando todos os outros, como o dos reformados (para não ir mais longe) que vivem abaixo do limiar da pobreza ou aqueles a quem a Santa Casa de Misericórdia de Paris proporciona um funeral condigno no espaço que reserva aos portugueses indigentes, no cemitério de Enghien-les-Bains.

“Também não creio que se reconhecerão na emigração de que falou o Presidente os novos emigrantes, cuja corrente se intensificou durante os anos da troika e de que uma parte substancial desemboca quotidianamente em França, homens, mulheres e crianças de todas as idades, de todas as qualificações, em busca da realização que o país não lhes proporcionou ou, muito simplesmente, e na maioria dos casos, numa dramática luta pela sobrevivência. Luta que se prossegue no país de destino, onde a taxa de desemprego é elevada, as qualificações subvalorizadas, a exploração, e mormente a exercida pelos portugueses da primeira vaga, cada vez mais banalizada.

“Como é que esses novos emigrantes, a população estrangeira mais numerosa a chegar actualmente a França e a quem o jornalista Giv Anquetil consagrou a sua reportagem para o programa de France Inter do passado dia 14, Comme un bruit qui court, poderão acolher o discurso de um Presidente que diz aos emigrantes que Portugal é um país bom para investir, bom para os franceses se irem instalar, bom para irem passar férias (recordando que, no ano passado, um milhão de franceses visitou o país) e pedindo-lhes que sejam os embaixadores desse país, que o aconselhem aos vizinhos, aos colegas de trabalho, aos amigos?

“Será que eles, filhos de um país de que foram expulsos, poderão gabar os seus atractivos a terceiros?

“Seguramente não, nem a Elisabete, professora de Inglês a exercer a profissão de porteira em Paris, para “poder acudir às necessidades dos filhos, dar-lhes uma educação e pagar a casa em Portugal”, nem a Sofia, filha de emigrantes, nascida em França, que havia decidido ir viver em Portugal e que, dez anos depois, foi obrigada a regressar, nem a Rosa, que acumulava dois trabalhos, um dos quais num bar, à noite, que paga 2,5 euros à hora, não declarados, “porque quando se precisa aceita-se tudo”, seguramente nenhum deles se reconhece nem no país próspero de que falou o Presidente, nem na emigração portuguesa de sucesso a que ele se dirigiu.


“Não, esse país, não é o meu, nem essa emigração existe”.

Herberto Helder dito por Luis Miguel Cintra:

terça-feira, 24 de março de 2015

Breve homenagem a Herberto Helder


Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

in Herberto Helder
// Consultar versos e eventuais rimas


O Amor em Visita

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas -
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele - imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
-   Oh cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
-   Então cantarei a exaltante alegria da morte.

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
-   Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
-              Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada
beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura, não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe a força
maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz
sobre as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.
Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
-   o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
-    E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te aprendessem minhas mãos, forma do vento
a cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
-              No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
-   Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros
do crepúsculo
-  aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho,
no mosto aberto
-   no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.
Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.


in Herberto Helder, 'O Amor em Visita'

SOUSA TAVARES E O BES

Somos suspeitos, porque, já o confessámos, nutrimos um "ódio de estimação" por Miguel Sousa Tavares, quanto a nós um dos maiores "blufs" criados pela comunicação social.

AQUI explicámos que ,como muita gente, até começámos por achar piada às crónicas de Sousa Tavares e, ainda hoje, até concordamos em quase 80% com aquilo que ele escreve.

O problema é que, quando começámos a confrontar as suas opiniões com algumas realidades que conhecíamos bem por dentro e por fora, nos apercebermos da sua falta de imparcialidade, eivada muitas vezes de má-fé e falta de informação, como aconteceu, por exemplo, quando ele começou a falar da educação, em defesa da campanha de Sócrates contra os professores. 

Foi nessa ocasião que o mito nos caiu aos pés.

De facto, Miguel Sousa Tavares sobrevive graças ao mito e ao medo que criou à sua volta, à boçalidade que usa e abusa para ameaçar e chantagear inimigos e adversários, tudo disfarçado com umas pinceladas de escrita criativa e cuidada,embora  por vezes consiga ser genial.

Escritor pimba, bom escritor apesar de tudo, para quem gosta do género, conseguiu construir uma imagem de impunidade à sua volta.

Contudo o caso BES borrou a pintura e revelou o fim de um dos mitos que ainda iam sobrevivendo sobre as suas opiniões, o mito da independência.

Quem primeiro o desmascarou foi um humorista, que já tinha tido um caso polémico com Sousa Tavares no jornal A Bola, o José Diogo Quintela, que, em 31 de Março de 2013, escrevia no jornal Público a seguinte crónica:

"O que vale é que os compadres nunca se zangam

"Fim de Março, época do IRS. Enquanto nas casas da maioria dos portugueses se procuram facturas para apresentar, na de Ricardo Salgado esconde-se o camembert. Para que o banqueiro não se esqueça de declarar tudo o que ganhou. Como no ano passado, em que olvidou 8,5 milhões de euros.

"Duvido de que este ano Ricardo Salgado se esqueça de declarar um boião de brilhantina que seja. Ainda deve estar a tremer com o que foi dito nos jornais. Principalmente com o que escreveu Miguel Sousa Tavares no Expresso. Eis um resumo do que M.S.T. teve a dizer sobre a tentativa de fuga ao fisco:

"Logo na semana em que foi noticiada a amnésia fiscal, M.S.T. não hesitou e escreveu sobre esse tema prenhe de actualidade que é o acordo ortográfico.

"Não satisfeito com isso, na semana seguinte, zás!, falou sobre o excitante e nada programado regresso de Portugal aos mercados.

"Na terceira semana, com toda a gente impaciente para ler o que tinha a dizer sobre a falta de memória do CEO do BES, a original crónica de M.S.T. teve ainda mais impacto. Foi sobre o (também muito pertinente) descarrilamento (sic) de um camião de porcos na A1.

Também não falou de Salgado na quarta semana. Nem na quinta. Nem na sexta. Ou na sétima. Nem há duas semanas. Nem na semana passada.

"Como o leitor deve imaginar, Ricardo Salgado não dorme há dois meses. Tem terror do que M.S.T. irá dizer quando finalmente resolver falar. É que, para estar há tanto tempo calado, M.S.T. só pode andar a investigar, fundamentando bem a bordoada que irá aplicar no traseiro capitalista. Cada semana que passa mudo, é mais balanço que dá à perna alçada. O suspense é terrível.

"O silêncio a que se remete enquanto pesquisa não é de agora. Também não disse nada sobre o papel do BES na operação Monte Branco ou na privatização da EDP. Aliás, ao consultar o livro A História não Acaba Assim, que reúne os chamados "escritos políticos" de M.S.T. entre 2005 e 2012, também não se encontra nada sobre Ricardo Salgado e o BES. Ou seja, há pelo menos oito anos que o mais influente comentador português, principal colunista do principal semanário português, com uma página inteirinha só para si, consegue nunca escrever sobre aquele que é considerado o homem mais poderoso de Portugal. O esforço que não deve ser guardar a informação compilada para só usar quando for mesmo preciso? É um monumento à contenção.

"M.S.T. é um gavião, de olho acutilante para tudo o que sejam trambiquices de banqueiros. Já vituperou Jardim Gonçalves, amesquinhou João Rendeiro, mandou bocas acintosas a Fernando Ulrich, denunciou as negociatas da CGD no BCP, insultou Oliveira e Costa e o BPN, fustigou o Banif, descompôs Vítor Constâncio, censurou Carlos Costa e enxovalhou o Banco de Portugal em geral. Imagine-se o que não terá para dizer de Salgado. Estou ansioso para que esse topa-Shylocks aldrabões se decida por fim a dar uma lição ao prestamista amnésico. O dia em que M.S.T. finalmente falar sobre Ricardo Salgado vai ser histórico.


"Ou, então, como a sua filha é casada com o filho de Ricardo Salgado, M.S.T. vai permanecer caladinho. Mas, como é seu timbre, esse silêncio será corajoso e totalmente livre e independente".

Como é hábito, Miguel Sousa Tavares reagiu à bruta e de forma boçal, com ameaças à mistura:

Usando o espaço da revista que já tinha dirigido e com a qual mantinha relações pessoais, a revista Sábado dava-lhe espaço para responder a Diogo Quintela numa mini entrevista:

"É uma crónica que está a causar polémica. No domingo, no jornal 'Público', o humorista José Diogo Quintela usou quase todos os parágrafos do seu texto para notar algo que diz achar estranho: porque é que Miguel Sousa Tavares nunca escreveu ou falou sobre os casos judiciais que envolvem Ricardo Salgado, C.E.O. do Banco Espírito Santo?

"Mais estranho ainda, diz Quintela, porque Salgado é o "homem mais poderoso de Portugal" e Sousa Tavares é "um gavião de olho acutilante para tudo o que sejam trambiquices de banqueiros".

"No último parágrafo, Quintela avança uma explicação: "Ou então, como a sua filha é casada com o filho de Ricardo Salgado, M.S.T. vai permanecer caladinho." Acrescente-se que a crónica intitulava-se "O que vale é que os compadres nunca se zangam".

"Contactado pela SÁBADO esta tarde, Miguel Sousa Tavares reagiu de forma dura:

"Leu a crónica que José Diogo Quintela escreveu sobre si?

"- Sim, mandaram-se isso.

"E o que é que tem a dizer?

" - Apenas isto: ele é um falhado, um medíocre, que se quer promover às minhas custas.

"Mas sobre a insinuação de que...

"-... É só isso que tenho a reagir: é um falhado, um medíocre, que se quer promover às minhas custas, mas não lhe vou fazer isso.

"Quintela diz...

"-... estou-me nas tintas. Ele que que fale do sócio dele da panificação, o Dias Loureiro".

A entrevista é bem reveladora do estilo ultramontano de Sousa Tavares e da sua falta de respeito por opiniões contrárias à sua.

As insinuações que faz a Dias Loureiro tem a haver com o facto de Diogo Quintela ter sido sócio, entre Dezembro de 2010 e Fevereiro de 2012 de Dias Loureiro na "Bakers Capital", a SGPS que detinha um terço da "Padaria Portuguesa", a rede de lojas de que Quintela era proprietário.

O recurso à calunia e à meia-verdade revelou-se mais uma vez o estilo da argumentação de Sousa Tavares.

O que é um facto, também denunciado por um outro cronista, João Miguel Tavares. mais recentemente, crónica já AQUI reproduzida. é que Tavares manteve o silêncio sobre o caso BES até à semana passada quando, numa entrevista ao jornal Diário de Notícias (14 de Março de 2015) saiu a terreiro em defesa do compadre Ricardo Salgado:

"Num almoço com o jornalista Nuno Saraiva, do Diário de Notícias, Miguel Sousa Tavares falou um pouco de tudo: do estado do país, das dívidas de Passos Coelho à Segurança Social, de Cavaco Silva e até mesmo da Grécia.

"Mas comecemos pelo colapso do Grupo Espírito Santo (GES), do qual o escritor se tentou desmarcar nos seus comentários por ter uma filha casada com um filho de Ricardo Salgado. “Sou amigo do Ricardo há muitos anos, para além das relações familiares. E continuo a achar que ele era o melhor banqueiro português”, revelou.

“O problema dele não foi falhar como banqueiro, foi querer ser chefe de uma família em que todos tinham de trabalhar para o grupo e só 10% tinha competências para o fazer. Querer sustentar a família toda e ter submetido o grupo ao banco é que acho imperdoável”, afirmou o comentador." (in DN online de 14 de Março de 2015).

...e ...sobre o tema, o jornalista palavroso e exuberante, nada mais disse.

O caso BES é apenas mais um prego na reputação do "jornalista critico e independente" Miguel Sousa Tavares....

segunda-feira, 23 de março de 2015

Em França e em Espanha os eleitores europeus mostraram o cartão amarelo aos Burocratas de Bruxelas e Berlim…o vermelho está já aí!



Os resultados das eleições regionais na Andaluzia e em França não foram o desastre que se previa para os partidos do centrão, mas foram um forte aviso de protesto contra as  políticas “austeritárias” impostas por  Bruxelas e Berlim aos cidadãos europeus.

Em França o Partido Socialista quase que desapareceu e parece condenado aos destino do PASOK, mostrando que a “terceira via”, fundada pelo oportunista Tony Blair, que procurava conciliar neoliberalismo e austeridade com a “social-democracia”, está morta e enterrada com o último dos seus émulos, o actual primeiro-ministro francês Valls.

Está provado que, quando os partidos ditos social-democratas desrespeitam a vontade dos seus eleitores e a sua própria ideologia e se entregam à politica neoliberal imposta por Bruxelas e Berlim, estão a cavar a sua própria sepultura e, pior do que isso, a abrir o caminho ao populismo e extremismo da direita.

Em Espanha o PSOE, apesar de ter sido o mais votado, perdeu a maioria absoluta numa região que historicamente tem sido o “feudo” desse partido e apenas não terá colapsado porque não está neste momento no poder e os eleitores quiseram condenar aqueles que representam o “rosto” das políticas “austeritárias” impostas por  Bruxelas e Berlim, o PP de Rajoy.

A situação também não foi pior para os partidos da austeridade porque, apesar de tudo a lógica de eleições regionais é diferente da lógica nacional e, além disso, em termos regionais, os partidos do protesto ainda não estão devidamente implantados como o estão os velhos partidos tradicionais.

Os eleitores europeus quiseram desta vez ficar pelo aviso aos que detêm o poder nos seus repectivos países, aqueles que são os executantes das políticas anti-sociais e austeritárias impostas pela Comissão Europeia, pelo BCE e pelo Eurogrupo.

Se, depois do que aconteceu nas eleições europeias do ano passado, do que aconteceu na Grécia no início deste ano e do que aconteceu agora em Espanha e em França, essas instituições e os seus burocratas continuarem a insistir nas suas políticas de austeridade e de destruição do Estado Social, então é a democracia e o projecto europeu que começam a estar em risco na Europa.

Por enquanto os eleitores europeus ficaram-se por mostrar o cartão amarelo…mas já falta pouco para  sacarem do cartão vermelho.


sexta-feira, 20 de março de 2015

O SOM O DIA - 778 - Duke Garwood - Burning Seas (Heavenly Session)




Nascido em 1969, Duke Garwood é um musico londrino multi instrumental ainda pouco conhecido. por cá.

No início da sua carreira colaborou como músico de apoio de outros músicos, como Mark Lanegan, ou  grupos, como os Savages.

Editou o seu primeiro trabalho de originais em 2005 e lançou recentemente, em Fevereiro de 2015, o seu 6º album.

Pela sua qualidade, Garwood é um musico a seguir com atenção nos próximos tempos :

O SOM DO DIA - 777 - Mark Lanegan & Duke Garwood - Mescalito

O SOM DO DIA - 776 - Duke Garwood - Heavy Love

quinta-feira, 19 de março de 2015

A propósito do eclipse do Sol de amanhã, uma crónica de Ana Sousa Dias:

"Onde estão os óculos azuis e vermelhos?

por ANA SOUSA DIAS

"Estou preocupada porque ainda não começou a venda desenfreada de óculos azuis e vermelhos para poder olhar com segurança o eclipse de sexta-feira, quando a Lua se atrever a colocar-se entre nós e o Sol para por uns minutos conseguir ofuscá-lo. Tenho pena, como sempre nestas situações, de não estar a jeito para poder espantar-me com aquele jogo de escondidas, visível para os lados do Polo Norte.

"Quando era pequena, li muitos livros de Júlio Verne, daquelas edições encadernadas com ilustrações de fazer sonhar. Estavam já tão manuseados que algumas folhas se soltavam, amarelecidas e com um cheiro peculiar. Num aniversário, recebi de um tio, grande leitor, um exemplar mais moderno, sem a encadernação de tecido a que estava habituada. Era O Raio Verde e li-o de seguida, mas fiquei um pouco desolada. A história parte de um triângulo amoroso, quer dizer, tem no centro uma jovem casadoira com dois pretendentes. Um deles é imposto pela família e tem um nome que se está mesmo a ver que não dá para provocar qualquer paixão: Aristobulus Ursiclos. O outro chama-se Oliver (Oliveiros, na minha edição Bertrand) Sinclair, e é óbvio que à partida tem a vantagem da nomenclatura. Pressionada para se casar quando completa 18 anos, miss Helen Campbell - o caso passa-se na Escócia, daí o miss em vez de mademoiselle - inventa um capricho: primeiro tem de ver o raio verde. Tal como o eclipse que nos vai animar depois de amanhã, o raio verde é um fenómeno natural e raro. Não precisa de óculos às cores mas exige condições atmosféricas especiais e que o espectador esteja no sítio certo. A bordo do Clorinda partem todos à procura do raio que se vai fazendo difícil: só aparece, magnífico e definitivo, na página 176. A decisão amorosa é tomada como deve ser: o livro tem um fim feliz e mais não digo.

"Ora o que então me desolou naquele tempo foi não fazer a mais pequena ideia do que seria o dito raio, mas sobretudo ler uma história romântica em vez de um livro de aventuras como a Viagem ao Centro da Terra ou A Volta ao Mundo em 80 Dias. Numa daquelas relações de ideias orientadas por sinapses bizarras e pormenores vários, pensei no raio verde a propósito do eclipse. É hoje muito fácil descodificar estas coisas, basta pesquisar na internet. Pelo sim pelo não, tenho o livro ao meu lado para verificar pormenores. Percebi agora o que é o raio verde e aproveitei para ler muita coisa sobre Jules Verne, um Júlio como dizíamos naquele tempo em que se traduzia nomes a torto e a direito.

"Às voltas nas estantes, encontro agora uns óculos para ver gravuras a três dimensões, num livro antigo com fotos de cores desfasadas, mas têm a lente verde em vez de azul. Será que posso usá-los para ver o eclipse?"


in DN 18 – 3 - 2015

Ler também: 

No equinócio da Primavera, a Lua vai tapar o Sol e as marés vão ser maiores (clicar)

Primeira lei do novo Governo grego é de luta contra a pobreza...burocratas(credores!!!?) da União Europeia reagem com ameaças...


A primeira lei aprovada pelo novo parlamento grego teve em vista responder à crise humanitária provocada por cinco anos de austeridade imposta pela troika:


Entre as medidas previstas nessa lei estão medidas tão "extremistas" e "irresponsáveis", aos olhos da Comissão Europeia, do Eurogrupo e do BCE, como fornecer 300kw de electricidade gratuita até ao fim do ano às famílias que a não podem pagar, apoiar arrendamentos, com 70 a 220 euros mensais, para evitar a tragédia dos despejos ou auxiliar desempregados que ficaram sem Segurança Social e, por isso sem os mais elementares direitos a cuidados de saúde.

A esmagadora maioria dos partidos representados no parlamento grego aprovaram essa lei, entre eles partidos tão "extremistas" como a Nova Democracia e o PASOK.

A resposta dos verdadeiros extremistas e fanáticos, aqueles que estão em Bruxelas, Frankfurt ou Berlim  foi a que se pode ler na notícia seguinte:

Bruxelas tenta vetar leis anticrise humanitária na Grécia(clicar para ler).

Os mesmos burocratas que andam tão preocupados com os gastos com o combate à pobreza na Grécia, e que foram os mesmos que tiveram as mesmas reacções extremistas e fanáticas ameaçando Portugal quando por cá se aumentou miseravelmente o já de si miserável salário mínimo, são os mesmos que andaram a facilitar a fuga ao fisco de grandes empresas em países europeus, no valor de biliões de euros, beneficiando o Estado luxemburguês, são os mesmos que vêem de países, como a Holanda, que funciona como um paraíso fiscal que permite, por exemplo, que quase todas as vinte maiores empresas portuguesas não paguem impostos em Portugal, no valor de muitas dezenas de milhões de euros, são os mesmos que vêem de países, como a Alemanha e a Finlândia, cuja economia e  bancos têm sido os principais a beneficiar com a crise e a política de "terra queimada" das medidas de austeridade levadas a cabo nos países periféricos e são os mesmos que, ainda ontem, inauguravam um edifício em Frankfurt que custou mais de mil milhões de euros.

Como europeu, sinto cada vez mais nojo e vergonha dos burocratas e políticos que dirigem as instituições europeias que nos (des)governam!!!

Para ela, o Dia do Pai é a dobrar

quarta-feira, 18 de março de 2015

Crise e austeridade tiveram impacto acentuado nos direitos fundamentais em Portugal


A notícia tem passado quase despercebida na comunicação social.

Foi apenas notícia num canal por cabo de ontem, numa hora de pouca audiência.

Um relatório elaborado pela única instituição com legitimidade democrática da União Europeia, mas sem qualquer poder efectivo, o Parlamento Europeu, denuncia os resultados das políticas de austeridade levadas a cabo pela troika em Portugal.

Segundo esse relatório, os Direitos do Trabalho têm sido os mais violados, com reflexos negativos nos direitos à saude e à educação, atingindo directamente a situação social de uma parte significativa das crianças portuguesas.

Um relatório que confirma aquilo que recentemente a Amnistia Internacional já tinha referido em relação à mesma austeridade imposta a Portugal e a outros países  da UE.

É uma vergonha !!!!

Lá cai mais um mito do governo : Portugal fecha 2014 a perder emprego e com população activa em mínimos do século

Confrontos violentos em Frankfurt, na Alemanha, marcam inauguração da nova sede do BCE


A violência é sempre má conselheira.

Mas quando a indignação é grande esta torna-se quase incontrolável.

Ainda por cima se estamos perante instituições anti-democráticas.

Tudo teve origem na inauguração da nova sede do Banco Central Europeu (BCE), uma obra que era para ser inaugurada quase clandestinamente, pois temia-se o que aconteceu, já que a obra custou mais de ....mil milhões de euros.

Estamos pois perante uma obra encomendada por uma instituição sem controle democrático mas que é responsável pela destruição de direitos sociais e pelo empobrecimento generalizado dos cidadãos europeus, defensora da austeridade...para os outros!!!

A indignação gerada pelo acontecimento dessa arrogante instituição foi assim mais forte do qualquer atitude ordeira e racional...é caso para dizer que...estavam mesmso a pedi-las!!!

terça-feira, 17 de março de 2015

A triste “história” das “reformas estruturais”


Na “novilíngua” das instituições e da burocracia europeia dos últimos anos,  a designação “reformas estruturais” é uma das mais repetidas e propagandeadas .

Irmanando na iniquidade da “novilíngua” “europeia” com outras designações como “competitividade”, “empreendedorismo” ou “ajustamento”, entre tantas outras vazias  e ambíguas de significado e que ficam sempre bem em qualquer discurso desta actual geração de políticos e governantes que “mandam” nos destinos europeus, também as “reformas estruturais” podem significar uma coisa e o seu contrário.

Em principio “reformar” é o contrário de “revolucionar”, isto é, reformar é mudar alguma coisa, mas de forma ponderada, atempada e com o menor dolo possível para a vida dos cidadãos, aperfeiçoando o que é para aperfeiçoar, mudando o que é para mudar e mantendo o que funciona, tendo como objectivo último, em democracia, melhorar e facilitar a vida dos cidadãos.

Ora, o que temos assistido em nome das “reformas” é exactamente o contrário. As ditas “reformas”,  têm cortado a direito com contractos sociais, com direitos conquistados ao longo de décadas,  desrespeitando Constituições e Leis gerais, desvalorizando o valor do trabalho e o valor produtivo das empresas, cortando a eito sem dó nem piedade, destruindo o direito dos cidadãos à estabilidade, e a gerir com segurança o seu destino e o dos seus.

De facto o que temos assistido não é a “reformas estruturais”, mas a uma autêntica e brutal “revolução” (ou “contra-revolução”!!) que destrói tudo à sua passagem, nomeadamente a confiança dos cidadãos europeus nas suas instituições e na própria democracia.

Essa revolução não respeita a palavra dada, não respeita as leis, não respeita os contractos sociais, nem os direitos humanos no seu todo.

A designação de “estrutural” talvez seja correcta, já que o objectivo é tornar PERMANENTE a instabilidade fiscal,  a instabilidade salarial, a instabilidade do cumprimento de compromissos sociais, a instabilidade do mundo do trabalho.

Por si, as “reformas estruturais” até podiam ser positivas se significassem, por exemplo, aperfeiçoar  e rentabilizar o funcionamento e a gestão das instituições públicas, melhorar e facilitar a vida quotidiana dos cidadãos, tornar estável os compromissos sociais, combater as desigualdades, aumentando a democracia e a liberdade.

Infelizmente, na mente dos burocratas  e dos políticos europeus de serviço, as ditas “reformas estruturais” apenas significam desvalorizar o valor do trabalho, precarizando-o, retirar direitos sociais, aumentando as desigualdades,  privatizar os serviços públicos, desbaratando-os a preços de saldo, e empobrecer os cidadãos de modo a tornar a economia “competitiva” (mais um jargão da “novilíngua” europeia).

O modelo para essas reformas estruturais é o de facilitar a vida ao sector financeiro especulativo que manda nos governantes e nos políticos, garantindo-lhes chorudos empregos na reforma política,  e copiar o “modelo social” chinês, indiano, mexicano ou do Bangladesh para os restantes cidadãos, empobrecendo-os e retirando-lhes direitos.

É uma verdadeira “revolução na revolução”, uma “revolução permanente”, sonho de velhos stalinistas e maoistas, cujas ideologias, aliás, foram perfilhadas na sua juventude por muitos dos executantes e defensores de tais “reformas estruturais”. Aliás, não é por acaso que o modelo que preconizam para a Europa, ou que lhes serve de termo comparativo, seja o “modelo chinês”.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O IDIOTA DE SERVIÇO: Cavaco prevê crescimento de 2% da economia em 2015, acima da expectativa de Passos

Em mais um dos seus inúteis  passeios presidenciais pelo mundo, desta vez a lamber botas à OCDE em Paris, acompanhado por umas comitiva de "empresários" e políticos pagos pelos contribuintes, Cavaco Silva não perdeu a oportunidade para largar mais uma alarvidades cheias e lugares comuns, 

"As reformas estruturais são um modo de vida" foi uma das frases do presidente. Já todos sabemos qual é esse modo de vida  e quais são essas "reformas estruturais": mais desemprego e empregos precários, mais cortes nos salários e nas pensões, menos direitos sociais, mais cortes da saúde e na educação, mais miséria e pobreza.

O presidente também se mostrou optimista com o resultado dessas "reformas estruturais", prevendo um crescimento economico para Portugal de 2%. Se forem tão credíveis como as afirmações que fez sobre o BES!!!!!

Em campanha eleitoral,  não deixou de enviar recados para o próximo governo, desvalorizando assim assim o acto democrático e a possibilidade de qualquer mudança politica que não passe pela continuação dessas "reformas estruturais".É caso para afirmar, parafraseando o próprio presidente: "Já cheira a eleições!".

Uma tristeza!!!!

Marc Roche considera caso BES pior que o Lehman Brothers

Os aldrabões da alta finança continuam activos.

A história é contada no livro de Marc Roche, que dedica um capítulo especial à banca portuguesa.

Recomendações? : a prisão dos criminosos e o fim da corrupta ligação entre o mundo financeiro e o da política.

União Bancária? “O mundo da finança continua a ser algo tóxico”, diz Marc Roche


Ainda existem economistas lúcidos:

domingo, 15 de março de 2015

O SOM DO DIA - 775 - Michael Kiwanuka Ten Years Gone

Michael Kiwanuka (clicar no nome para aceder ao seu site oficial) nasceu em Londres em 3 de Maio de 1987 e é uma das jovens promessas da musica britânica.

Este jovem musico de 27 anos é filho de pais ugandeses que se exilaram na Grã Bretanha para escaparem ao regime de Amin Dada .

Editou o seu primeiro EP em 2011 e o seu primeiro album de originais em 2012.

Este exímio guitarrista foi um dos convidados pela prestigiada revista Mojo para interpretar um tema dos Led  Zeppelin no album esitado poe essa revista para homenagear a reedição do duplo album daquele mítico grupo Physical Graffiti, o tema Ten Years Gone, cuja cover, da autoria de Kiwanuka reproduzimos em baixo:

O SOM DO DIA - 774 - Michael Kiwanuka - I'll Get Along

O SOM DO DIA - 773 - Michael Kiwanuka - Home Again

O SOM DO DIA - 772 Michael Kiwanuka - Rest

quinta-feira, 12 de março de 2015

Na miséria Grega podemos ver o futuro da Europa

Transcrevemos em baixo uma excelente reportagem editada pelo jornal Público sobre a grave situação social que se vive na Grécia, da autoria da jornalista Maria João Guimarães.

Pela sua leitura percebe-se o desespero dos gregos e até algumas afirmações e atitudes mais disparatadas de alguns dos seus novos governantes.

Cinco anos de troika e austeridade levaram 35,7% dos gregos a caírem em risco de pobreza, 25,8% caíram no desemprego , 50% entre os jovens, a dívida pública aproxima-se velozmente dos 200% do PIB e o deficit continua altíssimo.

Este é o resultado de cinco anos de austeridade e de aplicação do plano de “ajustamento”.

Não se percebe a insistência por parte dos burocratas da União Europeia e do corrupto sector financeiro europeu em insistir nesse modelo, com o Eurogrupo, a Comissão Europeia, o BCE e a Alemanha à cabeça dessa condução desastrosa do destino de um país europeu.

Só a cegueira política, a intolerância financeira, a desorientação face à rebeldia dos cidadãos europeus, que começaram na Grécia a demonstrar o seu repudio pelos programas impostos por Bruxelas, mas que o vão continuar a demonstrar, talvez nem sempre da melhor maneira, nas próximas eleições em Espanha, em França e em Portugal, explica a insistência na mesma receita de continuar com as “reformas estruturais”, que o mesmo é dizer, mais cortes nos salários e pensões, mais despedimentos na função pública, destruturação na saúde e na educação, cortes nas ajudas sociais aos mais pobres, aumento de impostos, venda ao desbarato de bens nacionais para manter o corrupto sistema financeiro europeu a funcionar.

Aliás, reconhecer os erros é coisa que a actual elite burocrática da União Europeia nunca reconhecerá, pois isso iria questionar a sua própria utilidade perante os cidadãos da Europa e o trabalho sujo que têm andado a fazer para favorecer o corrupto sistema financeiro de que dependem para manter os seus altos cargos e o seu estilo de vida “acima das possibilidades”.

Não deixa também de ser estranho que, ao longo de cinco anos na Grécia, a troika nunca tenha penalizado e pressionado os anteriores governos, com fazem ao actual, para combater eficazmente a fraude e evasão fiscal e para levarem à prática uma profunda reforma do sistema fiscal grego, estas sim as verdadeiras “reformas estruturais” que é preciso levar a cabo nesse e noutros países.

Não o fazem porque combater a fraude e evasão fiscal era por em causa os bancos, a maior parte sediados na Alemanha e os países, como o Luxemburgo, a Holanda, a Bélgica ou a Finlândia, onde estão muitos dos bancos que lucram com os juros da divida soberana, alguns desses países funcionando e enriquecendo como paraísos fiscais. São esses que têm beneficiado com esta “crise” e , ao mesmo tempo, dominam  a burocracia europeia.

Como os governantes das instituições europeias estão formatados por um modelo financeiro corrupto e anti-democrático, nunca irão reconhecer o seu erro. Para eles o empobrecimento dos cidadãos não é um problema, desde que mantenham os seu chorudos vencimentos e possam continuar a lucrar com a crise.

Reconhecer o erro do efeito da austeridade era, também, reconhecer o erro que foi a “invenção” do euro, e a forma irresponsável como este foi implementado. A continuar por este caminho acabarão por destruir a prazo a sua própria criação, mas nessa altura essa gente estará comodamente a viver dos rendimentos num paraíso qualquer, sobrando os estilhaços para os cidadãos da Europa que, mais uma vez, cá vão estar para sofrer as consequências da incompetência da actual geração de políticos europeus que nos conduzem para o desastre. 

Talvez não seja por acaso que todos os países nórdicos, excluindo a Finlândia, mas esse é um mero satélite alemão, se tenham recusado aderir ao euro (Dinamarca e Suécia), e dois deles nem sequer tenham aderido à União Europeia (Islândia e Noruega), o que não impede que apresentem sempre os melhores indicadores sociais e económicos em todos os estudos internacionais. De facto o euro não presta, a não ser para a Alemanha...

Há quem diga que Portugal não é  Grécia e até apresente o "exemplo" português como contraponto. Mas que contraponto? Claro que ainda não atingimos a gravidade social e económica da Grécia. Talvez seja por isso que as instituições Europeias continuem a insistri cegamente na necessidade de continuar as "reformas estruturais". 

Contudo, todos os indicadores económico-socias em Portugal, se ainda não atingiram a gravidade da Grécia, para lá caminham. Não nos podemos esquecer que "apenas" levamos com três anos de austeridade, quase metade dos que leva a Grécia. Também, porque este ano é ano eleitoral, vamos assistir a algum abrandamento das tais "reformas estruturais" que nos conduzem ao desastre. Mas elas regressarão em força logo a seguir, pelo menos é esse o desejo de Bruxelas e dos "miguéis de vasconcelos" cá do "burgo".

O retrato que podemos ler na reportagem anexada em baixo, é o retrato do nosso futuro, aquele que as instituições europeias querem para nós, a não ser que nos juntemos aos gregos, aos franceses, aos espanhóis, aos italianos e aos irlandeses para bater o pé aos "donos" da Europa.

"Onde está a crise humanitária na Grécia?"