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domingo, 31 de maio de 2009

Nos 150 anos do Big Ben

Iniciam-se hoje as comemorações dos 150 anos do Big Ben.
Ao contrário daquilo que muitos pensam, o Big Ben não é o nome da torre do parlamento, nem do relógio, mas do sino de 13 toneladas, fundido por George Mears em 1858, aí instalado no dia 31 de Maio de 1859, tendo começado a funcionar em Julho desse ano.
O seu nome deriva da alcunha do então ministro das Obras Públicas, responsável por essa obra, Benjamin Hall, um homem corpulento, conhecido por Big Ben.
O sino regula o seu som pelo relógio da torre, o Tower Clock, conhecido pela sua precisão.
O conjunto do edifício, da torre, do relógio e do sino, são Património Mundial classificado pela UNESCO.
Quem quiser conhecer o programa das comemorações pode consultar o seguinte site do parlamento britânico:
http://www.bigben.parliament.uk/

Nos 150 anos do Big Ben





Nos 150 anos do Big Ben





sábado, 30 de maio de 2009

Viatl Moreira...o maior "erro" do PS

À medida que a campanha eleitoral para as europeias vai avançando, começa-se a perceber que a escolha de Vital Moreira para liderar a lista do PS foi a maior imbecilidade cometida pela direcção política deste partido.
Começa-se a perceber que Vital Moreira não tem ideias para a Europa, a não ser uma ou outra “boca” avulsa, sem nexo e rapidamente desmentida pelo próprio ou por alguém com mais “tino” dentro do PS.
Percebe-se também que a imagem de prestígio que Vital Moreira trazia consigo, foi toda construída à sombra do PCP, e que nada de novo acrescentou ao seu perfil desde que saiu daquele partido, a não ser viver à sombra desse prestígio como constitucionalista (dizem as más línguas que muito dele construído à sombra do Professor Gomes Canotilho).
A única coisa de novo que esse constitucionalista trouxe para a política foi a utilização dos seus dotes de retórica escrita para defender, uma a uma, nas suas crónicas do Público, as propostas mais incríveis e absurdas do governo de José Sócrates, usando argumentos por vezes ofensivos contra aquilo que ele, ainda com tiques do “anti-fascismo”, designa por “interesses corporativos”.
Mas no final desta semana esse candidato desceu ao nível mais baixo de sempre, ao tentar explorara o caso BPN a seu favor, esquecendo-se dos argumentos que usa de cada vez que se fala no caso Freeport.
A grande contribuição de Vital Moreira para estas eleições vai ser, sem dúvida, ajudar ao aumento da abstenção.
Parafraseando um cineasta italiano, já é tempo de Vital Moreira, para além de dizer alguma coisa de esquerda, dizer alguma coisa de novo sobre a Europa.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Razão dos Professores - uma sondagem animadora

Em vésperas de mais uma manifestação de professores, contra as políticas educativas deste governo, foi sem dúvida muito gratificante conhecer os resultados obtidos pela sondagem da revista “Visão”, sobre aquilo que os portugueses pensam do nosso sistema de ensino e dos seus professores.
Esta sondagem veio revelar aquilo que já se conhecia de outros inquéritos, a confiança e o prestígio de que gozam os profissionais da educação.
Este é um resultado, tanto mais significativo, quanto toda a classe profissional dos professores tem sido alvo de uma violenta campanha para denegrir a sua imagem, dirigida a partir da “5 de Outubro”, com eco em jornais de referência, como o “Expresso”, apoiada por comentadores e economistas.
Uma campanha baseada na manipulação de estatísticas, como os célebres relatórios “à OCDE”, em meias verdades e generalizações abusivas, resumidas em duas frases assassinas, uma da autoria da Sr.ª Ministra da Educação, ao afirmar que “tinha perdido os professores mas tinha ganho a opinião pública.
Juntando-se ao coro de imbecilidades que temos sido obrigados a engolir, é bom que os professores não se esqueçam das crónicas de Vital Moreira, argumentando contra os “interesses corporativos dos professores”, alinhando de modo totalmente acrítico e oportunista ao lado das políticas educativas deste governo.
Mas o inquérito em causa é rico em dados que questionam alguma da argumentação usada contra a luta dos professores.
Em termos gerais, o estado da educação em Portugal é considerado menos negro do que aquilo que por vezes se pretende transmitir à opinião pública, para justificar as políticas educativas.
Mas, se a Educação não cumpre integralmente o que se espera dela, a maior parte dos inquiridos, aponta a responsabilidade, e por esta ordem, aos governantes e ao Ministério da Educação (56,6%) e aos alunos (48,4%).
Pelo contrário são ilibados dessa responsabilidade, e por ordem inversa, os sindicatos (que não têm qualquer responsabilidade pela situação para 51,5%), os pais e as suas associações (para 64,7%), sendo os professores, aqueles a quem os inquiridos menos responsabilizam pela situação (66, 7%).
Tudo isto vai à revelia do discurso oficial e dos seus porta-vozes na comunicação social.
Quando se pergunta aos inquiridos quais são os três aspectos que mais têm contribuído para a menor qualidade da Educação em Portugal, os inquiridos indicam, em primeiro lugar, os alunos que não querem estudar (40,2%), em segundo, as desigualdade sociais (30,7%), e, em terceiro, a insegurança na escola (26,7%). Tudo aspectos que se agravaram com a imagem pública de um primeiro-ministro que transmite uma imagem de “Chico- espertice” como modo para vencer na vida e na política, com as medidas anti-sociais deste governo, agravando as desigualdades sociais e aumentando o desemprego, nomeadamente entre os licenciados, ou com atitudes de desrespeito para como os profissionais do ensino que promovem a insegurança nas escolas.
Outra ideia feita, passada por muitos comentadores, segundo a qual o ensino de outros tempos era melhor que o actual, é igualmente abalada pelos resultados deste inquérito, pois a maioria considera que, no ensino de hoje, a actualização das matérias e dos programas (para 39,4%, contra 19,4%), a qualidade e a preparação dos professores (39,4% contra 20,4%), a forma e métodos de ensinar (40,7% contra 23,5%) e o equipamento escolar e condições de trabalho (60,6%, contra 14,8%) são melhores que a situação há vinte ou trinta anos atrás.
Os únicos aspectos considerados hoje piores são a “intensidade do estudo dos alunos” (para 40,1%, contra 27%) e a disciplina dos alunos (63,7% contra 13,9%).
É ainda significativo que, quando se questionam os inquiridos sobre as vantagens de se estudar mais, prevalecem as razões económicas (melhor salário, estabilidade e realização profissional ) sobre as razões culturais (respeito social, apoio aos filhos e maior cultura e respeito).
Das medidas governamentais, apenas o aumento da escolaridade obrigatória merece o apoio da maior parte dos inquiridos, uma medida popular e que é defendida por muita gente, estando para lá das divergências políticas em relação a este governo, e apoiada pelos professores.
Pelo contrário, pela negativa, a destruição do ensino público que parece estar na origem de muitas das medidas deste governo e do ataque aos professores, encontrou eco entre a maioria dos inquiridos que consideram as escolas secundárias privadas (para 34,7%) melhores que as públicas (25, 2%).
Mais do que nunca, os resultados deste inquérito, na sua generalidade, dão peso à justa luta dos professores.
(Fonte: "Visão" de 28 de Maio de 2009)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O respigo da semana - 8- António Barreto


APLICADORES

A PUBLICAÇÃO, pelo Ministério da Educação, do “Manual de Aplicadores” não passou despercebida. Vários comentadores se referiram já a essa tão insigne peça de gestão escolar e de fino sentido pedagógico.
Trata-se de um compêndio de regras que os professores devem aplicar nas salas onde se desenrolam as provas de aferição de Português e Matemática. Mais preciso e pormenorizado do que o manual de instruções de uma máquina de lavar a roupa. Mais rígidos do que o regimento de disciplina militar, estes manuais não são novidade. Podem consultar-se os dos últimos quatro anos.
São essencialmente iguais e revelam a mesma paranóia controladora: a pretensão de regulamentar minuciosamente o que se diz e faz na sala durante as provas.
ALGUNS exemplos denotam a qualidade deste manual: “Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste Manual”. “Continue a leitura em voz alta: Passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?”. “Leia em voz alta: Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eu diga que as voltem”. “Leia em voz alta: A primeira parte da prova termina quando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a esta página, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podem responder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Querem perguntar alguma coisa? Fui claro(a)?”.
Além destas preciosas recomendações, há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, o papel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS (“Saia na saída”), o Manual do Aplicador não esquece de recomendar ao professor que leia em voz alta: “Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome”. Finalmente: “Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair. Obrigado(a) pela vossa colaboração”!
A LEITURA destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez só duas.
A primeira: os professores são atrasados mentais e incompetentes. Por isso deve o esclarecido ministério prever todos os passos, escrever o guião do que se diz, reduzir a zero quaisquer iniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar que profissionais tão incapazes tenham ideias.
A segunda: a linha geral do ministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitas nestes manuais. Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões. Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina a iniciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. Obriga os professores a comportarem-se como “robots”.
A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelas pessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. Mesmo com cinco, dez ou vinte anos de experiência, estes professores são pessoas de baixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidão profissional. O ministério, que os contratou, é responsável por uma selecção desastrada. Não tem desculpa.
Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem uma concepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. Entende sem hesitação gerir directamente milhares de escolas. Considera os professores imbecis e simulados. Pretende que os professores sejam funcionários obedientes e destituídos de personalidade. Está disposto a tudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos “taylorista”, mais ou menos militarizada, que dite os comportamentos dos docentes.

O ANO lectivo chega ao fim. Ouvem gritos e suspiros. Do lado, do ministério, festeja-se a “vitória”. Parece que, segundo Walter Lemos, 75 por cento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outras fontes oficiais dizem que foram 57.
Ainda pelas bandas da 5 de Outubro, comemora-se o grande “êxito”: as notas em Matemática e Português nunca foram tão boas.
Do lado dos professores, celebra-se também a “vitória”. Nunca se viram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tão impressionante como este ano.
Cá fora, na vida e na sociedade, perguntamo-nos: “vitória” de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de que a educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza. Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão.
Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma.
A situação criada é a de um desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar os estragos. Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com os outros e com as escolas.

OLHEMOS para as imagens na televisão e nos jornais. Visitemos algumas escolas. Ouçamos os professores. Conversemos com os pais. Falemos com os estudantes. Toda a gente está cansada. A ministra e os dirigentes do ministério também.
Os responsáveis governamentais já só têm uma ideia em mente: persistir, mesmo que seja no erro, e esperar sofridamente pelas eleições.
Os professores procuram soluções para a desmoralização. Uns pedem a reforma ou tentam mudar de profissão. Outros solicitam transferência para novas escolas, na esperança de que uma mudança qualquer engane a angústia.
Há muitos professores para quem o início de um dia de aulas é um momento de pura ansiedade. Foram milhares de horas perdidas em reuniões. Quilómetros de caminho para as manifestações. Dias passados a preencher formulários absurdos. Foram semanas ocupadas a ler directivas e despachos redigidos por déspotas loucos.
Pais inquietos, mas sem meios de intervenção, lêem todos os dias notícias sobre as escolas transformadas em terrenos de batalha. Há alunos que ameaçam ou agridem os professores. E há docentes que batem em alunos. Como existem estudantes que gravam ou fotografam as aulas para poderem denunciar o que lá se passa.
O ministério fez tudo o que podia para virar a opinião pública contra os professores.
Os administradores regionais de educação não distinguem as suas funções das dos informadores. As autarquias deixaram de se preocupar com as escolas dos seus munícipes porque são impotentes: não sabem e não têm meios.
Todos estão exaustos.
Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido.
Pior: todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano.

(in "Retrato da Semana" - Público de 24 de Maio de 2009 ).

Uma Fotografia Para esta Semana

Empregados da leiloeira escocesa McTear’s transportam o quadro “Madonna and Guy”, que vai ser leiloado no próximo sábado em Glasgow.
O quadro representa a cantora Madonna, nua, junto do seu ex-marido, o cineasta britânico Guy Ritchie e foi pintado pelo pintor escocês Peter Howson em 2005.
Howson foi autor de vários quadros representando Madonna em trajos menores, e já teve como clientes David Bowie e Mick Jagger.
Espera-se que este quadro, que pertencia a um coleccionador privado, seja arrematado por cerca de 25 mil euros.
A fotografia é da Reuters. O texto baseia-se na notícia da agência Efe, publicada no El Mundo on line.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

No Campeonato do Centrão... PSD - 1; PS - 0...

Confesso que este não é o meu campeonato.
Mas nesta autêntica final da (falta de) ética política, disputada pelos partidos do centrão, é impossível mantermo-nos indiferentes.
"Toma lá o BPN do PSD, agarra o Freeport do PS...".
A atitude de Dias Loureiro, ao demitir-se do seu cargo de Conselheiro de Estado, é uma lição para os envolvidos noutros casos, como o presidente do Eurojust.
É caso para dizer que, "no intervalo" do campeonato de ética do centrão, o resultado está em 1-0, favorável ao PSD...

A Arte do Cineclubismo - 17 - CCC (recordando o cineclubista Bénard da Costa)

Criado em 1956, o Centro Cultural de Cinema de Lisboa (CCC) foi um dos cineclubes mais dinâmicos dos “anos de brasa” do cineclubismo português.
Definia-se como um “cine clube de universitários para uma cultura cinematográfica cristã” e foi aí que João Bénard da Costa se iniciou no gosto pelo cinema, entre 1957 e 1960.
Apresentamos hoje um conjunto capas dos boletins de algumas das sessões realizadas por aquele cine clube, nos anos 50 e 60.
Destacamos aquela dedicada ao Western, cujo interior inclui um texto, escrito a meias entre o recentemente falecido director da Cinemateca e Alberto Vaz da Silva, sobre Nicholas Ray, um dos mais destacados cineastas desse género cinematográfico.
Nos boletins do CCC podemos encontrar vários textos de crítica cinematográfica da autoria de, entre outros, Pedro Tamen, Nuno Bragança e Francisco Sarsfield Cabral.
Uma das particularidades desses boletins era incluir uma nota a explicar “porque exibimos este filme”.
Recordar os programas do CCC é uma forma singela de homenagear a memória de João Bénard da Costa.

A Arte do Cineclubismo - 17 - CCC (recordando o cineclubista Bénard da Costa





terça-feira, 26 de maio de 2009

Centenários - 18 - Dois Duelos Parlamentares

Imagem tirada no final do duelo entre Moreira Júnior e Caeiro da Mata, vendo-se o primeiro a retirar-se na companhia de Carlos Fereira.



Chegada ao campo do segundo duelo, entre Mello Barreto e Rodrigues Nogueira, do "professor António Martins, director do combate", acompanhado pelo "sr. conselheiro Teixeira de Souza conduzindo os sabres".

A edição da “Illustração Portugueza “ de 10 de Maio de 1909 divulgava duas reportagens fotográficas, da autoria de Joshua Benoliel, sobre dois duelos parlamentares, prática então muito comum para resolver conflitos políticos.
O primeiro desses dois duelos teve lugar em 30 de Abril desse ano, na Serra de Monsanto, entre Moreira Junior e Caeiro da Mata, tendo sido apadrinhado por Afonso Costa.
Este duelo foi à pistola, sem consequência para os contentores. Tinha sido motivado pela acusações feitas por Caeiro da Mata, estreante no parlamento, eleito pelo Partido Regenerador, contra o líder parlamentar da maioria, o Partido Progressista, Manuel António Moreira Júnior.
As atitudes parlamentares de Caeiro da Mata já tinham provocado um duelo anterior entre este e Manuel Espergueira, contribuindo para exacerbar os ânimos no hemiciclo e levar à , demissão, no dia 14 de Maio, de um dos últimos governos da monarquia, presidido pelo “progressista” Sebastião Telles, um dos mais efémeros de sempre (tinha tomado posse em 11 de Abril).
Caeiro da Mata voltou à vida política com o Estado Novo. Neste regime, por duas vezes foi Ministro dos Negócios Estrangeiros (entre 1933 e 1935 e entre 1947 e 1950), e uma Mnistro da Educação (1944 a 1947).
O segundo duelo imortalizado pelos “clichés” de Benoliel, teve lugar no dia 2 de Maio de 1909, na “Ameixoeira”, opondo o regenerador Mello Barreto a Rodrigues Nogueira.
Este segundo duelo realizou-se à espada, ficando Rodrigues Nogueira ferido no pulso direito.

Centenários - 18 - Dois Duelos Parlamentares

1º Duelo - Moreira Júnior- Caeiro da Matta

"O sr. dr. Caeiro da Matta e o sr. conselheiro Moreira Junior conversando com as suas respectivas testemunhas"

"Os padrinhos carregando as pistolas"


"O sr. dr. Caeiro da Matta despojando se do relogio e da carteira"


"O sr. conselheiro Moreira Júnior recebendo a sua arma, e os srs. Mathias Nunes e Affonso Costa"



"Depois do duello: o sr. Caeiro da Matta e o sr. Affonso Costa"

Centenários - 18 - Dois Duelos Parlamentares

O Duelo Mello Barreto-Rodrigues Nogueira
"Os médicos drs. Augusto de Vasconcellos e Silva Araújo e o professor de esgrima Luiz Pinto Mastins, depois da desifecção da arma"

"O sr. Mello Barreto preparando-se para o combate"


"O sr. dr. João Pinto dos Santos, padrinho do sr. Mello Barreto, lendo ao sr. Rodrigues Nogueira as condições do duello"


Aspecto do duelo


Outro "aspecto" do duelo

domingo, 24 de maio de 2009

Aberto ao Público o "último reduto" de Picasso


A partir de hoje, e até ao próximo dia 27 de Setembro, está a aberta ao público, no Museu Granet de Aix-en-Provence, França, a exposição “Cézanne e Picasso”.
Simbolicamente, foi igualmente aberto ao público, pela primeira vez, o castelo de Vauvenargues, na mesma região, última morada de Picasso.
Neste castelo tudo se encontra tal e qual como o deixou Picasso quando morreu: “Picasso podia ter morrido ontem. É a sensação que produz visitar o castelo de Vuavenargues e “violar” o espaço do atelier onde trabalhava o mestre”, refere o jornalista do El Mundo Rubén Amón, na sua reportagem, publicada no site daquele periódico espanhol em 19 de Maio último, que antecedeu a abertura oficial de hoje.
Todas as salas do castelo, desde o quarto de banho decorado pelo pintor com um fauno e árvores que cobrem a sua parede, até ao seu quarto, cuja cabeceira está decorada com a bandeira da Catalunha, revelam a presença ainda forte da vida daquele grande pintor.
Esta fortaleza foi adquirida por Picasso em 1958 e aí encontrou sepultura quando faleceu em 1973, estando junto de Jacqueline , num túmulo quase invisível, coberto por um montículo de erva fresca, próximo a uma escultura feminina, rodeada por cedros.
Picasso comprou este castelo por se encontrar nas proximidades da montanha de Sainte Victoire, que tinha sido o tema de 80 pinturas de Cézanne, que antecipou os caminhos do cubismo. Foi o modo de Picasso estar próximo daquele que considerava o seu mestre.
Nunca o tendo conhecido pessoalmente, sempre revelou grande devoção por Cézanne.
Numa carta enviada a Brassai, Picasso referia-se àquele pintor pós-impressionista como o seu “único mestre”: “Passei anos a contemplar os seus quadros. Passei anos a estudá-los”, confessava o artista espanhol.
Na exposição agora inaugurada no Museu Granet revela-se toda a influência de Cézanne na obra de Picasso.
Essa influência “pode apreciar-se” em diversos níveis, com explicou ao jornalista do El Mundo Ludmila Virassamynaikinen, a franco-indiana responsável por aquele museu: "Cézanne abriu o caminho da desconstrução e da descodificação das coisas e insistiu muito na solidez da arte”, explorando temas que Picasso repetiu: “as naturezas mortas, o fumador, o saltimbanco, a mulher”. A ambos pouco interessava “o narrativo e muito o formal”.
Esta exposição constrói-se no diálogo entre os dois pintores, “como se a linguagem vanguardista de Picasso olhasse de relance o património de Cézanne”.

Que Construção Europeia?

O meu cepticismo em relação à construção europeia deve-se em parte á minha própria formação académica, onde se destaca a importância dada à identidade cultural como valor essencial da formação individual de qualquer cidadão consciente.
É que, no meu entender, aquele que devia ser preservado como principal valor de identidade europeia, que é o da própria diversidade cultural e histórica deste continente, tem sido totalmente desprezado pela actual geração de eurocratas.
Em vez da divulgação e preservação da sua diversidade cultural, em vez da valorização da rica experiência histórica dos diversos povos europeus, em vez da preservação e aprofundamento do original modelo social europeu, promove-se a uniformização económica, uma atitude cultural complexada face ao modelo do colosso americano e uma desregulamentação social para obedecer a meros interesses comerciais. Tudo isto acompanhado por um discurso burocrático, vazio de originalidade e criatividade, que é o que domina entre as instituições responsáveis pela construção europeia, incapaz de gerar qualquer entusiasmo e adesão por parte da maioria dos cidadãos europeus, como se comprova pelo elevado índice de abstenção nas eleições europeias, ou pela crescente desconfiança dos cidadãos europeus face ao futuro dessa construção europeia.
O facto de não acreditar no modo como está a ser construído o projecto europeu, não quero dizer que não acredite na necessidade de uma crescente aproximação entre os povos europeus e no facto de, apesar da sua diversidade, existirem valores comuns ente os povos europeus que é necessário preservar e aprofundar, nomeadamente o valor da democracia, o respeito pelas minorias, a liberdade cultural e criativa. Mas é exactamente por acreditar nestes valores europeus que vejo com algum cepticismo o actual modelo de construção europeia.
A forma como funcionam as instituições europeias é cada vez menos democrática, cada vez mais distante dos cidadãos; o respeito pelas minorias tem sido de certo modo posto em causa por discutíveis políticas de imigração; a liberdade cultural e criativa é cada vez mais marginalizada por uma sociedade incapaz de fugir à crescente política de estupidificação de massas, onde se confundem audiências com democracia e onde esta serve, cada vez mais, como alibi para um nivelamento por baixo da cultura e da educação.
Para terminar, queria referir uma situação concreta pela qual, quanto a mim, uma certa visão provinciana de construção europeia tem sido bastante prejudicial na formação dos nossos jovens : a situação do ensino da disciplina de História.
Acreditou-se, pelo menos, senão apenas em Portugal, que a melhor maneira de formar os nossos jovens para a cidadania europeia era criar uma mitológica “História Europeia”, onde a diversidade histórica dos vários povos europeus fosse esbatidas, como se não fosse de facto esta diversidade a própria originalidade histórica da Europa.
Assim, e no caso português, abandonou-se quase por completo a História de Portugal dos programas curriculares, aparecendo esta quase apenas como uma envergonhada nota de rodapé.
A pressa em nos apresentarmos como alunos exemplares da construção europeia fez esquecer que, pelo menos em termos pedagógicos, é muito mais fácil agarrar os jovens à disciplina de história se esta tratar de temas que lhe são próximos e com os quais se identificam, como a história local ou nacional, do que impor um modelo uniformizador. Devia-se partir do próximo para o distante, em vez de se fazer o contrário. Quem tem experiência lectiva sabe o entusiasmo com que os alunos participam nas aulas onde a história local ou nacional está presente, em contraste com o que se passa quando falamos de realidades históricas estranhas ou distantes.
Neste meu texto fugi propositadamente ao unanimismo dominante, porque sei que, mesmo fazendo declarações discutíveis e polémicas, este é o melhor contributo que se pode dar ao objectivo de uma Construção Europeia sem complexos e livre de constrangimentos e que a frontalidade de opiniões é a melhor maneira de consolidar um projecto generoso, mas que pode ruir devido à arrogância de certos “europeístas”.
Por vezes é preciso ter a coragem de apontar que “o rei vai nu” para salvar o reino.

(este texto foi escrito em 16 de Novembro de 2000, mas penso que, infelizmente, se mantém actual)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Recordando João Bénard da Costa


A notícia foi divulgada há poucas horas pela agência Lusa: João Bénard da Costa morreu hoje em casa aos 74 anos.
Ainda segundo aquela mesma notícia, “João Bénard da Costa, que foi subdirector da Cinemateca Portuguesa desde 1980 e director de 1991 a 2009, foi substituído na direcção da Cinemateca Portuguesa em Janeiro último por Pedro Mexia devido a problemas de saúde.”
“Nascido em Lisboa em [7 de Fevereiro] 1935, João Pedro Bénard da Costa, licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, foi um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo, dirigiu o Sector de Cinema do Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian e presidia à Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal (…).
“Pelo trabalho à frente da Cinemateca, Bénard da Costa foi condecorado em Setembro passado pelo ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro com a medalha de mérito cultural.”
O antigo regime impediu-o de seguir a carreira universitária, pelo que leccionou História e Filosofia, entre 1959 e 1965, em dois colégios de Almada, no Liceu Camões e no Colégio Moderno. Tal como outro grande divulgador cultural, recentemente falecido, Vasco Granja, foi dirigente cineclubista entre 1957 e 1960, nascendo aí o seu grande interesse pela cultura cinematográfica, da qual ele foi um dos mais brilhantes divulgadores em Portugal.
Autor de vários livros de cinema, o seu entusiasmo por esta arte levou-o a desempenhar vários papéis em filmes de Manoel de Oliveira e de João César Monteiro, usando o pseudónimo de Duarte de Almeida.
Escrevia com prazer e paixão sobre arte e, principalmente, sobre cinema, sempre com um sentido irónico, criativo e rigoroso.
Num país mergulhado numa tremenda crise de valores, nomeadamente de valores culturais, a sua perde é gigantesca, mas o seu exemplo é motivador.

O 25 de Abril de Bénard da Costa

“Tinha-me deitado tardíssimo na véspera, jantara com o Vasco Pulido Valente, que ficou até de madrugada a tentar convencer-me, numa imensa discussão, que o Marcelo tinha o poder garantido por mais 20 anos...
E na manhã do 25 de Abril, sem saber ainda de nada - a não ser estranhar não haver trânsito nas ruas -, encontro o Villaverde Cabral à porta do Conservatório que me disse: "É agora!"
"O quê?", perguntei.
"É agora o fim do regime!" Bem, eu estava vacinado de fazer profecias que nunca se verificavam...
E não sabendo rigorosamente nada sobre o MFA, com aquilo que estava a acontecer no Carmo percebi que era imparável.
Embora hoje esteja menos convencido disso do que nesse dia.
Se tem havido uma resistência militar a sério e com o que hoje se sabe sobre a preparação militar do 25 de Abril, se calhar ele teria abortado!
A verdade é que ninguém esteve para arriscar.
Só não foi tão excessivo como o 5 de Outubro, em que meia dúzia de oficiais mudaram o regime... Tudo isto para lhe dizer que na noite de 25 para 26 percebi que era irreversível.”

(excerto de uma entrevista conduzida por Maria João Avilez para o jornal “Público” em 1994. Pode ser lida na integra através do seguinte endereço: http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=ejcosta )

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O respigo da semana - 7- João Miguel Tavares

Freeport XVIII: o meu primo é um mestre de 'kung fu'

por João Miguel Tavares

"Só faltava mesmo o surgimento do jovem herói de Shaolin para transformar o caso Freeport numa ópera bufa que alguém devia levar à cena. Se eu estivesse a assistir a uma telenovela venezuelana onde um dos protagonistas tivesse decidido, numa altura delicada, partir para a China para estudar kung fu, teria encolhido os ombros e suspirado: "Estes argumentistas já não sabem o que mais hão-de inventar."
"Ao ver o primo de José Sócrates na primeira página do Expresso, empoleirado num pilar como se estivesse a ensaiar para o Karate Kid IV, comecei a rir de incredulidade - e ainda não parei. Aliás, isto é o mais próximo que alguma vez vi da famosa piada dos Monty Python que matava as pessoas à gargalhada.
"Caro leitor: eu percebo que você ande enjoado. Eu próprio, semana após semana, sento-me em frente do computador para escrever mais um texto para esta página e a mão está sempre a fugir-me para Alcochete.
"Mas será que a culpa é minha? Por amor de Deus: depois daquele tio, agora sai-nos um primo vestido de Bruce Lee, a treinar artes marciais no templo de Shaolin e a chamar pelo nome de Wu Guo, "o guerreiro profundo"? Sobre o que é que querem que eu escreva, se nem a família Adams é tão divertida? É a mesma coisa que um paleontólogo tropeçar num osso de dinossauro e virem criticá-lo por começar a escavar.
"Desde que o site do DN mudou e os leitores passaram a poder escrever comentários aos textos dos colunistas, sou frequentemente instado a confessar o que me move contra José Sócrates e qual é a minha "agenda".
"Meus caros amigos: eu não tenho agenda, eu não tenho partido e a minha única ambição política é conseguir governar a minha biblioteca.
"Acreditem ou não, ainda há seis meses estava convencidíssimo de que iria votar no engenheiro Sócrates nas próximas legislativas, sobretudo perante a tragédia que foram os primeiros meses de Manuela Ferreira Leite. Mas subitamente entrámos na twilight zone política e judicial no que ao Freeport diz respeito. E não há como virar a cara.
"Só esta semana, tivemos:
"1) O senhor procurador-geral a interpor um processo disciplinar devido a pressões que ele próprio garantira não existirem.
"2) Ilustres juristas a defender que conversas privadas não são pressões mas delações (as pressões costumam ser feitas em conversas públicas, como toda a gente sabe).
"3) Um jovem herói de Shaolin - que até hoje nunca foi escutado pela justiça portugue- sa - a desmentir o seu primo quanto ao seu conhecimento de Charles Smith.
"E podia continuar. Lamento muito, mas o caso Freeport transformou-se numa tragicomédia nacional, que põe ao léu uma República grotesca, sem princípios, sem carácter e completamente disfuncional.
"Sobre o que hei-de eu escrever, se a vergonha já se estende desde aqui até à China?".

in Diário de Notícias, 19 de Maio de 2009

terça-feira, 19 de maio de 2009

JUSTIÇA PODRE !


Não costumo comentar este tipo de casos.
Mas, ao ler a notícia publicada no jornal “I” de hoje sobre a forma como o tribunal de Guimarães mandou entregar uma criança à sua mãe biológica, até senti vómitos pela justiça e, principalmente, por alguns juízes que temos.
Citando aquela notícia, da autoria do jornalista Pedro Sales Dias, a história conta-se em poucas linhas: a criança em causa, Alexandra, filha de mãe russa, alcoólica, que vivia na rua, foi descoberta em 2005 por um amigo da mãe, que, “cansado de ver Alexandra dormir na rua, em Barcelos, a levou até” aos actuais pais afectivos. “Desidratada, ferida, com frio e fome, a criança”, então com pouco menos de dois anos, “foi acolhida pelo casal português, que oficializou a sua tutela na Comissão de Protecção de Crianças em Risco, com o acordo da mãe biológica”.
A situação precipitou-se quando, dois anos depois, a mãe da menina foi detida pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) pela prática de prostituição, e, alegando provavelmente em sua defesa, para não ser repatriada, a existência de uma filha em Portugal, aquele Serviço deteve a criança e manteve-a presa 15 dias em companhia da mãe biológica, com ameaça de repatriamento.
Os pais efectivos agiram junto do Tribunal de Barcelos que lhes deu razão, considerando que “a menina teria melhor futuro na família de acolhimento”. Contudo, a entrada em cena do consulado russo, pressionando os tribunais superiores e a Relação de Guimarães, conseguiram mudar aquela decisão.
Ontem a criança, nascida em Portugal, agora com seis anos, que não conhece uma palavra de russo, foi entregue, sem qualquer preparação prévia, à mãe biológica que, amanhã, regressa à Rússia.
Segundo consta, a mãe continua a não ter condições para criar a filha, pelo que esta vai ser entregue a uma avó, que ela não conhece e vive numa cidade a 300 quilómetros de Moscovo.
Revelando alguma lucidez, no meio desta tragédia humana, o pai biológico da menina lamentou o facto de “Portugal não ter “juízes de crianças”, acrescentando não estar mos “aqui a falar de criminosos; são inocentes com uma vida pela frente. E a da Alexandra está arruinada”.
Esta não é a primeira vez que a nossa justiça revela uma grande falta de sensibilidade e humanidade ao decidir sobre este tipo de situações.
Por isso pergunto-me se, com juízes destes, instituições como as envolvidas a decidir deste modo, leis elaboradas em benefícios apenas de alguns, com poucas preocupações humanistas, com toda a falta de ética que grassa no mundo dos advogados e dos juízes, como temos visto em tantos casos recentes, podemos continuar todos nós, cidadãos anónimos e sem dinheiro para pagar a bons advogados, continuar a dormir descansados?
E será que aqueles senhores juízes ou responsáveis pelas instituições envolvidas neste caso, vão continuar a dormir em paz e em sossego?
Que nojo!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

PEDAÇOS DE MUSEUS (no seu dia internacional)

PARIS

PARIS


GOLEGÃ


MÉRIDA

BARCELONA

PEDAÇOS DE MUSEUS (no seu dia internacional)

DUBLIN

TORRES VEDRAS


LONDRES


LONDRES


ALGÉS

A propósito do Dia Internacional dos Museus - um colóquio sobre "A Guerra Peninsular nos livros escolares e na nossa memória"


Comemora-se hoje o Dia Internacional dos Museus.
Em Torres Vedras as comemorações iniciaram-se no passado Sábado, dia 16, com um colóquio intitulado “A Guerra Peninsular nos Livros escolares e na nossa memória”.
O debate foi moderado por Ana Miguel, tendo participado Mónica Green, de origem inglesa, e Stephanie de Jesus, de origem francesa, ambas professoras em Torres Vedras, bem como Alicia Laspra, espanhola, professora da Universidade de Oviedo, em Torres Vedras para participar na 12ª edição dos encontros Turres Veteras, e eu próprio, nascido em Torres Vedras, professor.
O objectivo era confrontar pessoas, com origem nos quatros países envolvidos na Guerra Peninsular, para falarem, não só na forma como lhes chegou a memória desses acontecimentos, mas também na forma como esse acontecimento é transmitido no sistema de ensino.
Coube-me a mim falar da situação portuguesa, e é com base nos tópicos que recolhi para a minha comunicação que alinhavei as seguintes linhas:

Comecei por fazer um breve levantamento dos programas oficiais de História, divulgados no site do Ministério da Educação, para perceber como se aborda o tema das Invasões Francesas nos programas de ensino.
Assim, no programa do 1º ciclo não existe qualquer referência explicita em relação a esse acontecimento histórico, mas insiste-se na abordagem de temas de História Local, pelo que depende da memória histórica de cada lugar ou do interesse do professor, a hipótese de se abordar esse tema.
Já no 2º ciclo, a referência no programa de História às Invasões Francesas surge de forma explicita e elaborada, integrada no subtema “1820 e o Triunfo dos liberais”. Sugere-se “uma breve referência” ao Bloqueio Continental, relacionando-o com a 1ª Invasão e com a fuga da Corte para o Brasil.
De “forma sucinta” propõe-se ainda a abordagem à resistência contra o invasor, à identificação de algumas batalhas, e ao papel do exército inglês.
Como actividade sugere-se ainda o registo, num mapa, dos itinerários das três invasões francesas.
Tudo isto, com ligação à expansão do liberalismo, o tema principal, e sempre com um tempo muito limitado para abordar o assunto.
Infelizmente, nos restantes ciclos, o tema merece ainda menos atenção.
No programa do 3º ciclo, no tema “O Triunfo das Revoluções Liberais”, apenas se sugere a “análise de mapas que permitam localizar (…) as invasões francesas em Portugal” e “a recolha de testemunhos da tradição popular e da toponímia sobre as invasões francesas”, embora os temas principais a estudar neste capítulo sejam a Revolução Francesa e a Revolução Liberal Portuguesa .
Chegados ao ensino secundário, desaparece, pura e simplesmente, qualquer referência explicita à Guerra Peninsular. No “Módulo 5”, intitulado “O Liberalismo – Ideologia e Revolução, Modelos e Práticas nos Séculos XVIII e XIX”, apenas com alguma boa vontade se poderá encaixar uma referência ao tema no subcapítulo “A implantação do liberalismo em Portugal”, quando se sugere, como conteúdo de abertura, o tema “Antecedentes e Conjuntura (1807 a 1820)”.
Se juntar a esses dados oficiais do ensino de história, a minha experiência como aluno e como docente de História há quase trinta anos, o tema das invasões francesas não tem merecido, nos programas de História, a atenção que justificaria.
Embora de forma empírica, pus-me a pensar nas razões pelas quais os vários regimes político-ideológicos portugueses, destes dois últimos séculos, sentiram algum incómodo na abordagem desse tema.
O Liberalismo, ao identificar-se com o ideário da revolução francesa, terá sentido o incómodo de recordar um episódio no qual muitos dos liberais históricos passaram por “traidores” à “nação”. Incómodo era-lhes também esse tema, pela figura de Beresford, contra a qual se tinham batido os liberais portugueses.
Para a regeneração, por causa do conflito com os ingleses, em relação à partilha africana, não conviria recordar o seu papel na “libertação” do país das tropas napoleónicas.
Aos Republicanos, que se expandiram desde 1891 graças à contestação contra a cedência da monarquia aos ingleses na questão africana, enaltecer os ingleses naquele episódio histórico também não seria muito do seu agrado. Apesar de combaterem ao lado destes na Primeira Guerra, eram igualmente aliados dos antigos inimigos, os franceses, cujo território defenderam militarmente.
O Estado Novo, apesar de enaltecer o “nacionalismo” patente naquele episódio da nossa história, não veria com muitos bons olhos o carácter popular de resistência aos invasores, muito pouco de acordo com a ideário de “ordem” e “autoridade” que defendia.
Por último, a democracia, da qual se esperava uma atitude educativa mais preocupada com o esclarecimento da verdade, pelo contrário, como se vê pelas orientações programáticas acima referidas, parece procurar igualmente escamotear a importância do tema, numa atitude “politicamente correcta” de tentar fazer esquecer as velhas divergência com as Nações Europeias, tentando agradar aos nossos parceiros na União Europeia.
Em oposição à ambiguidade do ensino formal na abordagem do tema, tem sido a tradição oral e a memória popular a manter viva a importância histórica desse acontecimento, situação muito mais evidente aqui em Torres Vedras, onde tudo se conjuga para valorizar essa memória.
Pessoalmente, a minha memória sobre a importância desse tema sempre foi cultivada pela existência de um obelisco comemorativo no “centro” da então vila, pelo impacto da dimensão dominante do Forte de S. Vicente, pelo destaque às Piscinas e às “Águas do Vimeiro”, pertencentes à localidade da Maceira, no concelho de Torres Vedras, mas assim designadas por razões de marketing comercial, devido à proximidade geográfica com um lugar vizinho, pertencente a outro concelho, mas internacionalmente conhecido, o Vimeiro.
Ainda criança, tendo nascido com a televisão, era ainda com orgulho que ouvíamos referência ao local dos seus primeiros estúdios, localizados na “Alameda das Linhas de Torres”.
Comemorando-se agora o duplo centenário desse acontecimento, talvez fosse tempo de abandonar complexos e, de uma vez por todas, o tema ser integrado nos programas de história com o destaque devido.